segunda-feira, 8 de outubro de 2007

PORTUGAL;O FIM DE UMA ÉPOCA




A entrada do século XX é festejado com euforia em geral por esse mundo fora, mas Portugal conserva-se escondido e ignorado ao canto da Península Ibérica. É um país modesto, pequeno e pobre, que consumiu parte do século anterior em processo autofagia, donde sobreviveria um regime de monarquia constitucional ainda em vigor em 1900.

Passou depois a outra parte do tempo a sarar as feridas da guerra civil.

É certo que possuía as colónias, dando-lhe algum protagonismo no concerto internacional. Mas já há muito havia perdido o Brasil, jóia da coroa imperial. E quanto a África, o festim das potências europeias convocado para Berlim em 1884, retirara-lhe os supostos direitos históricos que então invocara, desprovido que estava de forças para a «ocupação efectiva» dos territórios reclamados.

A suprema humilhação viera seis anos depois, quando o Ultimato britânico o impediu de se apoderar da fascinante faixa do continente negro situado entre Angola e Moçambique. Ficariam estas duas colónias mais uns apêndices, que a rivalidade entre ingleses, alemães e franceses permitiria permanecerem em mãos lusitanas.

Para compensar as frustrações, a Nação pratica sentimentos de exaltação patriótica que roçam a paranóia, a pretexto do centenário de filhos ilustres como Camões, o Infante D. Henrique, Vasco da Gama( a sua viagem `a Índia) e o Marquês de Pombal. Só que ninguém a ouve no exterior.

O país mantém uma distância crónica e periférica da civilização. Três homens em cada quatro e seis mulheres em cada sete não sabem ler nem escrever. A escolaridade primária é gratuita e obrigatória (três anos) mas o analfabetismo vai resistir por muito tempo.

As gentes também não parecem muito saudáveis. Em 1885, a inspecção militar rejeitou quase metade dos mancebos apresentados nesse ano, por falta de altura, de peso ou saúde. Numa população total de cinco milhões de pessoas, sete em dez pessoas ainda viviam em freguesias rurais e dessas quase 90% dependiam da actividade agrícola..

As luzes e o ferro, símbolos do século que termina, demoram a chegar. Só na segunda metade de oitocentos os industriais (muitos deles estrangeiros) montariam as primeiras grandes fábricas do país. Todavia um sector fulcral como a metalurgia está atrasado. O país é pobre em recursos energéticos para esta e outras indústrias a vapor. A sua produtividade fabril é cerca de metade da dos países industrializados..

Portugal é uma coroa falida. Tudo indica que se trata do fim de uma época e que vai surgir outra.

João Brito Sousa

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