quinta-feira, 25 de outubro de 2007

CRÓNICAS DA 1ª REPÚBLICA

(parlamento)

CRÓNCAS DA PRIMEIRA REPÚBLICA

Ao contrário do que esperava Afonso Costa, o país não se ergue para aclamar em uníssono a lei da separação de poderes ESTADO/ IGREJA. O que acontece é que se cava antes uma profunda divisão entre uma população urbana militarmente anticlerical e um povo rural ofendido nas suas
crenças essenciais. O articulado não se limita a separar as águas: subjuga o poder eclesiástico ao poder civil. A igreja perde a identidade jurídica e a dependência de Roma, passando a ser considerado um culto interno sob licença estatal.

Os templos e todo recheio são propriedade do Estado, dependendo as manifestações exteriores de culto ( como as procissões) de prévia licença escrita da autoridade civil, só concedida em caso de «costume inveterado da generalidade dos cidadãos». As crianças em idade escolar ficam proibidas de participar em qualquer acto religioso `a hora das aulas. Os católicos podem associar-se para custear o culto e pagar aos sacerdotes, mas as associações ficam sob controlo das juntas de freguesia.

A suprema provocação é a atribuição de pensões às viúvas e aos filhos de padres. Apoiados pelo Vaticano, os bispos portugueses publicam um protesto colectivo contra a «prepotência» e o «propósito ostensivo e inegável de escravizar».A rebeldia dos prelados leva o bispo do Porto a ser chamado a Lisboa, com a selagem da sua habitação no paço episcopal. O patriarca de Lisboa é desterrado do distrito por dois anos (após uma manifestação de desagravo em S. Vicente de Fora, por sectores conservadores da sociedade durante a qual a igreja é invadida por gente vitoriando a República).

Em 1911 e 1912 são destituídos dois bispos, suspenso um e desterrados nove por dois anos. São julgados padres que mantêm as Igrejas abertas fora das horas de culto. Os saques nas igrejas prolongam-se por anos. Exemplo do fanatismo: o pessoal da empresa estatal dos caminhos de ferro impõe em 1911 o irremediável afastamento, devido às suas convicções religiosas, do secretário da administração, José Fernando de Sousa, tido como o maior técnico português..

João Brito Sousa

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