terça-feira, 30 de outubro de 2007

CRÓNICAS DA 1ª REPÚBLICA



A GLÓRIA DOS PALCOS.

RIR É O MELHOR REMÉDIO.

Os três mais populares actores cómicos do decénio são Chaby Pinheiro, Estevão Amarante e Luísa Satanela. Chaby, portento de representação, não só na comédia como no resto, inaugura uma linhagem nacional de cómicos gordos. Amarante é o ídolo das multidões, criador de duas personagens que entram na família portuguesa com o seu diagnóstico político: o carroceiro Ganga e o guarda Cívico.


Satanela, actriz bailarina de origem italiana, com a sua imagem de marca nos grandes e penetrantes olhos, forma com Amarante um par que garante o êxito de qualquer espectáculo.

Apesar dos êxitos da «Parceria», a revista da década é de outro trio: Luís Galhardo, Pereira Coelho e Alberto Barbosa, com o 31, lançam em 1913 o maior sucesso teatral de sempre em Portugal.


Ao fim de quatro anos, o 31 já vai em 2 000 representações, abrangendo o Porto e as mais importantes cidades brasileiras, por lá passando Amarante, Nascimento Fernandes, Carlos Leal, Maria Vitória e Ângela Pinto.


A sua glória faz-se de músicas que saltam logo para a rua e de sátiras que o público abraça instantaneamente..

O 31 faz jus à fama de Afonso Costa, imaginando na Cegarrega Afonsista um diário onde o líder republicano é o líder exclusivo: «Tudo o que há neste jornal, / O rabo, a cabeça, a posta, / trata somente afinal,/ Do doutor Afonso Costa » O humor revisteiro costuma juntar a política à canção. Os Adesivos, de Raios e Coriscos (Artur Arriegas, 1911): «Sujeito que foi talassa / e que em se mostrar esquivo/ A republicano passa .../ É adesivo // Menina que a namorar/ passa a vida sem sentir / E que só pensa em casar../ Quer aderir!...// Se depois do casamento / Certos enjoos sentiu / E engorda a todo o momento... / Já aderiu .../ Rapaz que lindas beldades / Passa a vida perseguindo / Dizendo amabilidades.../ Vai aderindo.. // Cocote que pela rua / Passeia em grande estadão, / Decotada, quase nua... / Quer adesão.. // E um velhote corcovado / Que, ao ver formosa mulher, / Fica assim de cara ao lado, / Já não adere!...»

João Brito Sousa

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