sexta-feira, 19 de outubro de 2007

AS HORTAS DO PATACÃO

(hortas do sitio da Malhjada)

AS HORTAS NOS ARREDORES DE FARO.

(este artigo, da minha autoria, foi publicado no jornal de Paderne “a AVEZINHA” no dia 18 de outubro de 2007)

É um facto que as hortas desapareceram. Depois da horta das Figuras, desapareceu a horta do Apolo sita nas Pontes de Marchil, depois a horta dos Guerreirões (nove filhos), a horta do Calhica, a horta dos Morenos, o Augusto, o Florentino e o Fernando que fica em frente àquela, no outro lado da estrada, a horta do Manuel Catrunfa também de nove filhos e duas noras, a horta do Manuel Janeira, a horta do Manuel Rebola, a horta do António Gaita, do João Patuleia e do Joaquim Páscoa, do Quintas e por último a horta do Zeca Baptista da Euroaço. Nos Braciais desapareceu a horta do Joaquim Madeira que era o homem mais rico da região e era o único que tinha carro nesse tempo, uma arrastadeira Citroen e depois teve um carro grande, de marca Humber. A filha, a Maria da Glória, andou lá na Escola Comercial connosco, no tempo do NESTLÉ.
As hortas desapareceram. Algumas estão no pousio, outras foram invadidas por estradas novas e outras por edifícios para habitação. Não sou muito entendido na matéria mas vejo que, duma maneira geral, as pessoas em Portugal são contra o cimento armado e contra os edifícios muito altos.
A mim essa paisagem não me agride. Já estive em New York quatro vezes e agrada-me até, ver o poderio daquelas bisarmas.
Mas esta transformação da periferia da cidade, alterou as suas condições de entrada. A cidade recebe-nos com dificuldades porque aquilo é um tráfego intenso e difícil. Eu penso que em termos de “DEFESA DA CIDADE DE FARO”, se as pessoas se transferiram para a periferia da cidade, os serviços também se deviam transferir para aí.
Não sei se será legítimo dizer isso. O que eu gostava, era que a minha cidade capital de Distrito, se tornasse mais harmoniosa, que dispusesse de uma vida mais calma e sem atropelos, que oferecesse mais espaços de lazer e que tivesse a preocupação de proporcionar aos seus naturais ou àqueles que optaram por nela viver, uma qualidade de vida tal, donde resultasse uma paixão duradoira entre a cidade e os que a utilizam.
Mas penso que se cometeram erros graves. O aeroporto, por exemplo, está situado praticamente no centro e isso não se vê nas grandes cidades. O aeroporto de Gotemburgo está a 80 Kms, o aeroporto de S. Paulo idem, Paris idem e se calhar muitos outros. Ora o ruído dos aviões e o tráfego resultante das constantes entradas e saídas de passageiros, intensifica o tráfego citadino.
O que poderia ter sido evitado. As cidades devem ter em atenção e consideração os seus habitantes. E para isso só terão de fazer uma coisa; proporcionar-lhe boas condições de habitabilidade.
Não sei se Faro dispõe de circuitos de manutenção, não sei se vai beneficiar do programa Pólis, não sei se a Câmara Municipal tem algum departamento especialmente direccionado para apoio ao cidadão, não sei em que medida as populações poderão participar nos destinos da cidade, não sei se há vontade e disponibilidade para isso de parte das populações, porque no fundo, uma cidade será sempre aquilo que os beneficiários queiram que seja.
Todavia não devemos ignorar o passado. Só se pode fazer coisas acertadas no futuro se tivermos conhecido bem o passado. Como diz o José Eduardo Agualusa, o passado é como o mar; está num desassossego permanente.
E o passado das aldeias portuguesas não pode ser esquecido. As taberna se o jogo da malha fazem parte do património cultural de outros tempos. Vamos falar disso.
João Brito de Sousa

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