quarta-feira, 30 de abril de 2008

A MINHA CAMINHADA NOS BRACIAIS


Saio de casa às 9 horas, equipado e vou fazer a minha caminhada. Passo pela tasca do Zé RAIMUNDO e ouço o “arrulhar da malta”. O Florival já regressou a casa, vem buscar o pão às oito, está um bocado na cavaqueira e depois pira-se.

Enquanto está na venda conta histórias e fala de tudo, com a propósito. É um homem cómico e de valor. Sabe coisas interessantes e raciocina muito bem ainda. Costuma dizer, o computador está bom. Faz bem cálculos de cabeça complicados..

È uma pessoa admirada por todos. Começou do zero. Chegou às hortas aos dez anos. Arranjou patrão e ficou até ser homenzinho. Aprendeu muito nas hortas. Parecem
Coisas simples de fazer mas não são. O homem do campo hoje sabe coisas cuja dimensão é enorme e eu não sei se ele saberá qual o valor do valor que tem aquilo que sabe.

Plantar uma árvore é uma tarefa simples que se aprende de tantas vezes se fazer. Aprende-se pela repetição., por fazer muitas vezes, primeiro talvez se faça asneira, mas se foi isso repete-se a seguir e outra e outra vez..

Hoje o Florival já tem o seu estatuto que lhe permite fazer tudo o que quer. É um senhor. Tem a horta ainda e faz o seu vinho nas pipas. Não sei como é que aprendeu e é curioso porque aqui nesta parte do Algarve não se faz muito vinho.

Amanhã vamos fazer-lhe uma entrevista.

Texto de
João Brito SOUSA

UM TEXTO PARA COMENTAR



Sou isto, assim desde o início, serei certamente isto até ao fim. Quando? Que esquisito haver fim

Estive a ler cartas que escrevi a um tio aos vinte anos e surpreende-me como não mudei. Eu ali todo, igualzinho: as mesmas interrogações, as mesmas dúvidas, o mesmo modo de olhar os outros, de me olhar. Sou isto, assim desde o início, serei certamente isto até ao fim. Quando? Que esquisito haver fim, que inconcebível morrer. Viver também, aliás, no precário fio dos dias, desequilibro-me, não me desequilibro.

Onde fui arranjar uma expressão tão pretensiosa, precário fim dos dias, tão parva. Que lugar-comum sou. Olha-te sem piedade, não te comovas contigo. Não te deixes vencer. Não te desculpes. E sobretudo não faças do que julgas ser
(e talvez sejas)
uma lágrima de vela a escorregar devagarinho, rosada, quase transparente.

Mesmo que os outros não notem tu notas. Não te dispas sem pudor. Aguenta-te, conforme recomendava o Júlio na altura em que estavas à brocha. Não
- Com um aspecto desses não te acontece nada
não
- Uma prima minha foi operada há séculos e ainda cá anda
o Júlio Pomar somente
- Aguenta-te
e eu pata aqui pata ali a aguentar-me nas canetas. Pergunta:
- E agora?
resposta:
- Aguenta-te
que é a única coisa honesta que se pode dizer a um amigo. Aguento-me, Júlio, descansa que me aguento.

E estou a escrever, com o livro a sair numa facilidade de mau agoiro: desconfio sempre no caso de as palavras me chegarem depressa. Como afirmam os chineses se o pobre come galinha um dos dois está doente.

Por onde comecei eu isto? Ah!, pelas cartas que escrevi. A tinta desbotou, eu não. Com as cartas, retratos. A minha mãe toda giraça. Os meus avós. As expressões idiotas que arranjamos para as fotografias, tão pouco naturais, acanhadas. Eu incluído, claro, tão acanhado quanto eles. A minha mãe não, à vontade, pinoca, o pai dela sério, com ganas de esconder-se. Não me lembro de o ver alegre, de o ver rir-se.

A ideia que me ficou é que não ligávamos nenhuma um ao outro. Foi de certeza um homem infeliz, morreu cedo por delicadeza. Não acho que tenha morrido de cancro, acho que morreu de pena. Era engenheiro, trabalhava em não sei quê no Estado. Lia o jornal na varanda de Nelas e gostava de trovoadas.

Trovejava e ele à janela a olhar os relâmpagos, enquanto a minha avó, a tremer de medo, rezava a Santa Bárbara e espiava as lareiras da sala, uma diante da outra, no pânico que um raio descesse a chaminé e nos reduzisse a fanicos. E o meu avô, de casaco de linho branco, a pasmar para a serra iluminada.

Os castanheiros da casa, ouriços verdes que eu esmagava contra uma pedra. Céus altíssimos, vinhas e vinhas. Aguenta-te. Acabando esta crónica volto para o livro que não pára de chamar. A minha mãe de chapéu, de braço dado com os irmãos, a fitar a gente. A minha avó, de quem gostei muito. Quer dizer, continuo a gostar. E o pai da minha avó, um general de bigodes imensos, que conheci de ouvir dizer. Condecorações numa cómoda. Coisas gastas, passadas. Quanto ao presente, aguenta-te. Aguenta a felicidade, por exemplo. E lá fora uma tarde de chuva, poças de água, humidade.

Como diz o provérbio chinês? Se o pobre come galinha, etc. O general até uma condecoração chinesa recebeu. Na cómoda também. Deixa-te disso, volta ao presente. Faz projectos. Inventa. Não largues um único osso que abocanhes. Pergunta:
- O senhor não é aquele escritor que me esqueceu o nome?
Isto dois caramelos na rua.
- Na minha opinião é melhor que o outro que também me esqueceu o nome
e juro que esta conversa é verdade. Apertaram-me a mão, aconselharam
- Continue
e vou continuar para me esquecerem mais ainda, enquanto eles continuaram rua fora por seu turno, acotovelando-se sempre que uma mulher os cruzava. Que poder de síntese na fórmula
- Gaja boa
que profundidade apreciativa. O primeiro caramelo
- Gaja boa
e o segundo a complementar
- Do caneco
ou seja um par de génios sucintos. Aliás a expressão gaja boa é extraordinária. Diálogo ouvido hoje no sítio onde como a torrada da tarde, entre dois sujeitos de cerveja mini na mão:
- Ainda agora aqui esteve a filha do Gonçalves
- E que tal a gaja?
- Boa
que se prolongou num silêncio meditativo. O curioso do
- Que tal a gaja?
insistiu a pedir detalhes
- Boa ou muito boa?
e recebeu como resposta uma espiral indecisa da mini
- Boa
e um novo silêncio meditativo durante o qual me vim embora, a correr sob a chuva, deixando-os de sobrancelha franzida, a calcularem. Amanhã peço uma mini e bebo--a da garrafa. Virilmente.

A espiar a filha do Gonçalves de baixo a cima. Talvez haja um grau intermédio entre o Boa e o Muito Boa e os possa ajudar na sua classificação taxonómica. No caso de esta chuva se transformar em trovoada a minha avó chega aqui e põe- -se a rezar e o meu avó aproxima-se da janela encantado com os relâmpagos. Por mim fico sentado no chão com um automóvel de corda. A aguentar-me

Pubicação de
João Brito Sousa

terça-feira, 29 de abril de 2008

PARA DEBATE


OS RICOS TÊM ANGÚSTIAS, OS POBRES INQUIETAÇÕES
Scutenaire, Louis

O que o escritor francês quererá dizer nesta frase é que aos ricos o caminho que se lhes depara é conseguir lucro e mais lucro.

Este é o comportamento normal do rico e, se não for assim, anda angustiado

O pobre que nunca pode aspirar à riqueza inquieta-o qualquer oscilação orçamental

Texto de
João Brito Sousa

NA LOJA DO MESTRE VIEGAS



Em primeiro lugar, devo dizer que, evocar aqui a memória do Mestre Viegas, é um dever de qualquer pessoa do Patacão, porque o Mestre Viegas foi um amigo de todos nós. Ele foi o nosso melhor professor da vida e nós fomos todos os seus irrequietos alunos.

E com todo o respeito que evocamos aqui nestas crónicas, as figuras do Pai Viegas e do filho Viegas, ambos grandes amigos daqueles que frequentaram a loja.

A causa próxima da nossa ida à Loja era jogar aos matraquilhos, um bocado de cavaqueira e divertirmo-nos um bocado.

Claro que os matraquilhos estavam entregues ao Custódio e ao Vergílio. Os outros jogavam por fora..

Apareciam por lá o Manelito do senhor Martins, o Custódio Mariano, o Joaquim Portela, o Zé dos Santos, o Joaquim João, o António Borrego. Enquanto o Custódio jogava com o Vergílio, uns riam-se , outros contavam histórias, outros pintavam a manta.

Bons jogadores eram o Manelito, o Zé dos Santos, o Vergílio e o Custódio e talvez outros que não me lembro agora.

Uma vez uma selecção da Falfosa foi lá jogar, faziam equipa o Filipe e o Zé Maria. O Patacão alinhou com Manelito à defesa e Custódio à frente. O jogo era de dez partidas e o Patacão ganhou por 6 a 4.

Nesse jogo o Custódio jogou bem, ele tinha uma finta nos três bonecos d afrente que, s e for bem feita aquilo dá sempre golo.. Ele segurava a bola com o boneco do meio, passava a bola para o ponta e rematava de esguelha. Abola passava entre o defesa e o guarda redes contrário e entrava

Houve festa nesse dia. E o Mestre ofereceu o champanhe.

Texto de
João Brito Sousa

segunda-feira, 28 de abril de 2008

BRACIAIS A MINHA TERRA


Apesar de residir nos Braciais, à noite ia ao Patacão falar com a malta. Se aparecia o Zé Navalhas, íamos para a parte de trás das casas do senhor Martins e sentávamo-nos em cima do varão da ponte.


Dava até às duas da manhã.

Nesse tempo, o Navalhas trabalhava nos Armazéns do Tomé Apolo. O pai, Domingos Navalhas, de tipo pesado, gordo mesmo, tina feito teatro na Sociedade Recreativa onde, numa peça, fez o papel de Mãe.

Nessa peça, ensaiada pelo Mestre Bernardino das Neves, o barbeiro era o professor, o Mestre Virgílio que era moleiro lá na terra, era o filho do Domingos na peça, e andava na escola.

Um dia, o aluno não sabia a lição e o professor deu-lhe umas ripadas. O Mestre Moleiro, que era o filho, não gostou daquilo e foi fazer queixa à Mãe quer era o Domingos Navalhas.

Enlearam-se todos.

Telefonaram para o Ministério da Educação e veio o Ministro que era o Reinaldo Paposeco que chegou na Florett com o João dos Matos na grelha. O Ministro perguntou: quem é que bateu no menino. Fui eu, disse o barbeiro que era o professor ....

E a gente com o Zé Navalhas representava isto tudo.. até às tantas.

Belos tempos.

texto de

João Bbrito Sousa

TEMA PARA DEBATE


OS HOMENS NÃO SABEM O QUE É O AMOR.
Michel Houellebecq, escritor francês

De forma geral, os homens não sabem o que é amor, é um sentimento que lhes é totalmente estranho.

Conhecem o desejo, o desejo sexual em estado bruto e a competição entre machos; e depois, muito mais tarde, já casados, chegam, chegavam antigamente, a sentir um certo reconhecimento pela companheira quando ela lhes tinha dado filhos, tinha mantido bem a casa e era boa cozinheira e boa amante - então chegavam a ter prazer por dormirem na mesma cama.

Não era talvez o que as mulheres desejavam, talvez houvesse aí um mal-entendido, mas era um sentimento que podia ser muito forte - e mesmo quando eles sentiam uma excitação, aliás cada vez mais fraca, por esta ou aquela mulher, já não conseguiam literalmente viver sem a mulher e, se acontecia ela morrer, eles desatavam a beber e acabavam rapidamente, em geral uns meses bastavam.

Os filhos, esses, representavam a transmissão de uma condição, de regras e de um património. Era evidentemente o que acontecia nas classes feudais, mas igualmente com os comerciantes, camponeses, artesãos, de forma geral com todos os grupos da sociedade. Hoje, nada disso existe.
MEU COMENTÁRIO
Há uma diferença muito grande entre o homem e a mulher acerca do amor. Além do mais, só ultimamente esta questão tem vindo a ser discutida. Até aqui foi um processo escondido, que não se falava em público, via publicação livresca ou outra.

Mesmo assim penso que com a liberdade existente e com o liberalismo posto na discussão do assunto, ainda não somos particularmente livres e abertos para discutir o tema.

Vejamos que os animais já resolveram há muito esse problema. Não querem saber de nada; satisfazem-se.

Claro que não defendo a aplicação da animalidade do acto mas exiges-se mais autenticidade e frieza.

As mães do meu tempo não nos prepararam para este assunto.

Concordo que o homem não sabe o que é o amor e confunde as coisas quando sente necessidade de realização. E isto não é amor.

AMOR, é uma manifestação de vontade, que decorre de um processo biológico, que se inicia com uma prática feminina, no comportamento de quem sente a vontade de amar.

Texto de
João Brito Sousa

IMPRENSA/ EXPRESSO


UM PSD ÀS ARRECUAS
fmadrinha@expresso.pt

Santana andou por aí, mas a verdade é que já lidera a bancada com plena aceitação do partido

A única via que resta ao PSD para tentar reencontrar o caminho do poder é beber o cálice até ao fim. E esclarecer, de uma vez por todas, se quer continuar a ser um partido equilibrado, meio social-democrata, meio liberal, interclassista e pragmático, ou se vai mergulhar definitivamente na vertigem por que foi atingido nos últimos anos e converter-se noutra coisa qualquer. Por exemplo, num partido de classe, azedo e construído à imagem do PCP de outros tempos, que abomina as chamadas elites e se afirma contra elas, fechado sobre si próprio e falando em nome de “bases” que não representam senão os interesses e os pequenos poderes do próprio aparelho partidário.

Para se fazer esse esclarecimento, que não interessa apenas aos militantes - o país também precisa de saber com o que conta -, é importante que todas as facções e ambições vão às ‘directas’, começando pela facção que comandou nos últimos meses. Daí que, perante a desistência de Menezes, Santana seja uma opção lógica.

Caso ela se confirme, ficaremos a saber até que ponto o coração do PSD ainda bate pelo menino guerreiro. À primeira vista, a vitória é uma hipótese absurda: depois de tantas peripécias, vai o PSD escolher para candidato a primeiro-ministro alguém que os eleitores derrotaram clamorosamente nas últimas eleições? Mas a verdade é que, depois de ter andado por aí, Santana já chegou a líder parlamentar com plena aceitação do partido e os apoios de Menezes e Jardim não são irrelevantes no aparelho social-democrata. Por outro lado, Manuela Ferreira Leite não tem a aura sebastianista que se supunha e nada impede que Passos Coelho surpreenda, apesar da polarização nos candidatos mais fortes.

Eis como as ‘directas’ não são favas contadas para a ex-ministra das Finanças e podem vir a revelar-nos um PSD que, parecendo que avança, só anda às arrecuas.

Os ‘donos’ do 25 de Abril

O 25 de Abril aprovaria o Tratado de Lisboa? Eis a magna questão que se levantou à esquerda durante o debate parlamentar para a ratificação do documento que vai reger os destinos da Europa a partir de 1 de Janeiro de 2009. Sócrates pensa que sim e disse-o logo à abrir; o PCP e o Bloco de Esquerda juram que não, tendo Louçã considerado até uma espécie de crime de lesa-25 Abril a associação do tratado à data libertadora.

No entanto, todos sabemos que a esquerda à esquerda do PS apenas finge não compreender o óbvio: depois do 25 de Abril, que abriu o caminho à democracia, e do 25 de Novembro, que acabou com os delírios esquerdistas nos quartéis, o pedido de adesão à CEE foi a opção e o momento mais importante da história democrática portuguesa. Porquê? Pelas razões que o ministro Luís Amado indicou com toda a clareza e frontalidade: trata-se do ponto de não retorno no caminho para a democracia e, consequentemente, da morte dos projectos e aventuras totalitárias.

É por isso que a extrema-esquerda e o PCP em particular encontrarão sempre defeitos na Europa, nas suas políticas, instituições ou tratados - porque a integração europeia de Portugal foi a expressão mais clamorosa da sua própria derrota. E, uma vez que se acham donos do 25 de Abril, arrogam-se o direito que não têm de o ajustar à medida das suas queixas e conveniências políticas.

Ora. não há dúvida de que, só por si, o pedido de adesão à CEE, apresentado por Mário Soares em 1977, foi uma cláusula de salvaguarda da liberdade que o 25 de Abril prometeu. E os milhões vindos de Bruxelas, que ainda hoje continuam a chegar a Portugal, foram e são o mais prestimoso apoio à concretização de um dos três ‘d’ prometidos há exactamente 34 anos: o ‘d’ de desenvolvimento.

Já se vê que não pode haver relação mais estreita entre o 25 de Abril e a Europa. E não será pelo facto de o tratado não ter sido referendado como devia, que o PCP e o Bloco passam a ter razão. Claro que o ‘seu’ 25 de Abril não aprovaria o tratado. Mas, felizmente e ao contrário do que eles pretendem, o 25 de Abril não tem donos.

O cais das colunas

Corre na Internet um abaixo-assinado para uma petição à Assembleia da República recomendando ao Governo a imediata reposição do Cais das Colunas e a requalificação do Terreiro do Paço. Quase cinco meses após ter sido inaugurada a nova estação do Metropolitano e 11 anos depois de desmantelado o cais, a mais bela praça de Lisboa - e, sem dúvida, uma das mais belas do mundo - continua incompleta. Não há sinal de obras para devolver à cidade e ao país um dos seus emblemas mais marcantes.

O Estado, através de uma empresa pública, comporta-se como qualquer empreiteiro ‘pato bravo’, daqueles que, com a cumplicidade de autarquias negligentes ou menos escrupulosas, levantam e vendem apartamentos à pressa, esquecendo-se, às vezes para sempre, dos arruamentos necessários, dos jardins e parques que se comprometeram a criar.Neste caso, nem se trata de construir o que quer que seja, mas apenas de repor, no lugar que lhe pertence há mais de dois séculos, um monumento querido dos lisboetas e sem o qual a praça e a cidade ficam amputadas.

Que os cidadãos tenham de pedir ao Parlamento que interceda para que o Estado cumpra uma obrigação tão elementar, eis o que não deixa de ser absolutamente extraordinário.

Publicação de
João Brito Sousa

domingo, 27 de abril de 2008

NA LOJA DO MESTRE VIEGAS


ESTE TEXTO É PARA A MALTA DO PATACÃO COM MAIS DE 60 ANOS

Vinha malta de todo o lado jogar matraquilhos no salão do Mestre Viegas. Eram jogatanas até às tantas. A principal equipa era o mano a mano do Vergílio Guerreirão com o Custódio, filho do Mestre Serafim. .

À noite ia lá toda a malta, era uma espécie de café onde a gente se encontrava e às tantas, quando aquilo começava a dar para o torto, o Mestre Viegas fechava a porta. .

Bebia-se uns Sofrutos ou laranjadas, havia um bocado de barulho mas nada de especial. Alguns de nós tinha pouco mais de vinte anos e se houve excessos era derivado da nossa juventude.

O Mestre vendia umas rifas para sortear uma motorizada, arranjava umas bicicletas a pedal, tipo, remendar furos, endireitar rodas através do aperto dos raios com uma chave que o Mestre trazia sempre consigo, .afinar correntes, endireitar guiadores, mudar lâmpadas, colocar farolins na parte de trás, encher pneus e todo o trabalho de consertos em bicicletas a pedal.

O Mestre era bom nesse trabalho e quando as coisas não entravam nos eixos à primeira entrava de serviço o martelo. Se havia um crenque torto numa pedaleira, aquilo, só se consertava com a dita arma. Quando isso acontecia, o Mestre já estava um pouco danado. Levantava-se e respirava fundo e às vezes dizia... ah vida.. vida..

Enquanto dizia estas palavras, o Mestre dirigia-se para o balcão onde tinha pendurada a ama secreta, respirava fundo mais ma vez e trazia o martelo já preparado para o combate. Chegava de novo ao pé da bicicleta, olhava-a de alto abaixo, mirava a coisa, via onde é que o crenque estava empanado, dava-lhe três ou quatro cacetadas e o assunto estava resolvido.

Um dia chegou lá à Loja o Joaquim João, que residia ali para o pé do Carmelo e disse ao Mestre. Meu Mestre a máquina precisa de um conserto geral, ver correntes, apertar raios, câmaras de ar novas `a frente e atrás, lâmpadas, enfim, aquilo que o Meu Mestre, acha que deve levar para ficar nova

Às cinco da tarde Joaquim, podes vir buscá-la.

O Joaquim só veio às 19, meteu-se de palheta com o António BORREGO, jogaram aos bonecos, sofrutos para aqui sofrutos para ali e lá para a meia noite, o Joaquim perguntou, Meu Mestre a bicicleta e o Mestre apontou para a secção de prontos e disse, está ali, dás-me 250 paus que foi um trabalho de luxo, Foi tudo amartelo... e ficou nova.
Primeiro tenho de experimentar, disse o Joaquim, primeiro pagas dizia o Mestre, a coisa estava a ficar preta, o Joaquim Portela disse, o Mestre tem razão, primeiro tens de pagar e depois é que levantas a mercadoria.

Estás a ouvir, disse o Mestre e tem mais, foi toda arranjadinha a martelo O Joaquim não queria dar “a massa”, vem o H. Correia e disse, Mestre, vamos ser justos, partimos a bicicleta ao meio e é metade para cada um. Pode ser?

Não pode ser, não. E o Joaquim pegou na carteira, tirou o dinheiro e pagou.. Como fazem os homens

Não sei se isto é verdade. Apenas ouvi dizer. E se não for o meu pedido de desculpas ao meu grande amigo Viegas filho e a todos os intervenientes..

(continua)

João Brito Sousa

sábado, 26 de abril de 2008

À FAMÍLIA DO LUCIANO E DA SUSANA



AO AMIGO LUCIANO MASCARENHAS

Um velho amigo que faleceu. Mais novo do que eu, tinha uma boa relação com o Luciano. Quando nos encontravamos havia sempre um pouco de conversa e perguintava-me sempre pelos meus irmãos, que esses sim mais do seu tempo.

João então e o teu irmão, o QUIM? E a QUITÉRIA?

E lá o punha ao corrente das situações.

Eu era mais conhecido do Armando, o irmão do Luciano que creio ainda está na AUSTRÁLIA.

É assim a vida. Chegamos e é até um dia.

Aí te deixo um abraço para ti Lucinao.

Porque paar mim tu não morreste.

APROVEITO PARA ENVIER UM ABRAÇO DE PÊSAMES, `A SUSANA MORENO pelo falecimento da Mãe.

A todos os BRACIASENSES, o meu abraço

João Brito Sousa




DA IMPRENSA /EXPRESSO


SOCORRO, ELE QUER VOLTAR
artigo de opinião de Miguel Sousa Tavares


Santana e Jardim representam bem a mentalidade daqueles cuja carreira política foi feita unicamente à custa do esbanjamento de dinheiros públicos. E quem vier a seguir que pague a conta, porque a sua responsabilidade se limita a ganhar eleições. há coisa verdadeiramente previsível na política portuguesa é que jamais nos conseguiremos livrar de Santana Lopes. Numa das mais geniais - e indecentes - jogadas da política portuguesa, Durão Barroso, que bem o conhece, concebeu o célebre plano ‘dois em um’: ele, Barroso, livrava-se a tempo do governo e do país e embarcava para o lugar europeu, exactamente adaptado ao seu cinzentismo político e onde tem cumprido exemplarmente o que dele se esperava e, sobretudo, o que não se esperava; e, simultaneamente, oferecia a Jorge Sampaio e ao país a oportunidade de testarem de vez a absoluta incompetência de Santana Lopes. Esperava Barroso (ou melhor, sabia, como muitos outros um pouco mais inteligentes do que as célebres ‘bases’ do PSD) que, por onde tinha passado o menino guerreiro - Secretaria de Estado da Cultura, Câmara da Figueira da Foz, Câmara de Lisboa - Pedro Santana Lopes nunca falhara em deixar tudo arruinado e de pantanas, sendo certo que a receita se repetiria no governo do país.

Há uma tese que defende que também Jorge Sampaio achou que o melhor era correr aquela lebre de uma vez por todas, enquanto um PS destroçado pela investigação do caso Casa Pia (nunca saberemos se séria, se politicamente orientada) encontrava tempo e líder para poder resgatar o brinquedo ao PSD.


Assim, o poder caiu na rua, que outra coisa não era a sua entrega àquela tropa fandanga de Santana Lopes.. E, tal como se esperava, ele fez o que pôde para dar cabo disto em apenas nove meses: deixou o défice em 6,2% e transformou a governação e representação de Portugal num espectáculo tão indigno que o próprio Sampaio teve de se mover, de vergonha. E o resto já se sabe: tentando manter o poder, que lhe caíra nos braços por golpe palaciano, Santana foi forçado a defendê-lo em eleições, onde conduziu uma campanha eleitoral abaixo do limiar mínimo eticamente aceitável e foi despachado com o pior resultado de sempre do PSD - ele, que se gabava de ganhar eleições como ninguém. Contrariando anteriores juras públicas, regressou à Câmara de Lisboa, onde ficou sentado à espera que o tempo passasse, e regressou ao Parlamento, onde Menezes, com medo dele, lhe entregou a liderança parlamentar.


Como de costume, “andou por aí”, ele que nunca soube fazer outra coisa na vida. Passaram apenas dois anos, mas bastaram-lhe dois dias em silêncio (que, para ele, significa uma longa reflexão) e ei-lo que se anuncia de volta “para o combate” - com a mesma tropa fandanga de sempre. Mais o dr. Jardim e, como se dizia de um presidente americano, “com um exército de frases pomposas movendo-se pelo horizonte em busca de uma ideia”.

No caso de Santana, como no de Jardim, a ideia é simples: os “combates”, como eles chamam às peixeiradas internas do partido e às eleições mais ou menos fáceis de ganhar. Nenhum deles fez jamais outra coisa na vida nem consta que o saibam fazer. Ambos são o expoente absoluto da demagogia basista - agora consagrada pelas directas dentro do partido, de que Menezes se serviu a primor.


Mas, enquanto Menezes ainda é um principiante nestas coisas, capaz de desistir em lágrimas porque “meia dúzia de intelectuais” lhe deram cabo da vida, já Santana e Jardim são muito mais frios e racionais, por baixo da sua capa de ‘emocionais’. Santana conduz a sua eterna campanha basista com mais inteligência do que Jardim, e por isso é que este se queixa de “não ter tropas no continente”.


Pois nunca entendeu que, se queria ser um político ‘nacional’, tinha de mudar o seu discurso: não se fala para o ‘povo’ das autarquias e distritais do PSD como se fala para os regedores de freguesia e cabos eleitorais da Madeira. E também não se pode dizer a primeira coisa que vem à cabeça em cada momento, num dia gritando que o PSD tem de ser social-democrata e no outro apelando à restauração da AD para não perder os votos da direita. E, já agora, não dizer disparates que possam pôr as bases a meditar, como essa de Aguiar Branco não servir porque “vem da burguesia portuense e o PSD sempre foi um partido do povo” (e Menezes, veio de onde - de Miragaia? Balsemão e Marcelo terão vindo do mundo rural da Quinta da Marinha? Durão Barroso veio da zona operária do Barreiro, secção maoísta? E Sá Carneiro, já agora, se não veio da burguesia portuense, terá vindo de onde?).

Para se ter uma ideia da profundidade ideológica e da radiosa perspectiva de Alberto João Jardim poder um dia governar Portugal, via PSD, atente-se no que antevê um fulano chamado Carreiras, chefe da coisa em Lisboa: “Jardim tem todas as condições para fazer em Portugal inteiro aquilo que fez na Madeira”. Todas as condições? E quem pagaria as contas - Espanha? Já com Santana Lopes, as perspectivas são ainda mais claras.


Tal como ele próprio explicou anteontem ao Conselho Nacional do PSD onde anunciou que “estava disponível”, há “duas vias para ganhar 2009” (note-se que não são duas vias para governar Portugal, mas para o PSD conseguir ganhar as eleições de 2009). “Há - diz ele - uma via igual à do PS, preocupada com a contenção e o défice” (que será a de Manuela Ferreira Leite); e há “a aposta no crescimento económico” (que é a via dele). Santana propõe-se assim, e com todo o descaramento possível, levar o PSD de volta ao poder prometendo mais forrobodó: se o elegerem agora, ele vai prometer aos portugueses a baixa dos impostos, o aumento das pensões sem olhar a números, mais despesa pública e que se lixe o défice e a ‘contenção”.


Depois de dois anos e meio a fazermos sacrifícios para recuperar as contas públicas dos seus nove meses de festa e na iminência de uma crise económica global como há muito não se via, o homem propõe-se deitar fora os ganhos dos sacrifícios feitos, em troca de termos o PSD de volta e o menino guerreiro de novo instalado em S. Bento a brincar aos primeiros-ministros. Ele e Jardim representam bem a mentalidade daqueles cuja carreira política foi feita unicamente à custa do esbanjamento de dinheiros públicos. E quem vier a seguir que pague a conta, porque a sua responsabilidade se limita a ganhar eleições.

Tudo isto seria apenas trágico-cómico, se não se desse o caso de já termos sobejas provas de que o ‘povo’ do PSD, primeiro que tudo, quer é que lhe prometam o poder, e só depois é que tem um vago interesse em saber como e para quê. É chão fértil para demagogos de feira. Deve ser por isso, aliás, que se costuma dizer que o PSD é ‘o mais português’ de todos os partidos.

MEU COMENTARIO
Este artigo de MST está claro na exposição e bem escrito. Mas quererá dizer o quê?
Será que MST no terreno fazia alguma coisa de melhor? Acho esta forma de criticar fácil e sem frutos à vista, por isso é que questiono estas crónicas. Apesar de me parecer que neste tipo de jornalismo MST seja isento.
É caso para perguntar onde será melhor aproveitável este talento? É que mesmo este trabalho que publica no Expresso não conduz a nada. Dizer mal na imprensa de Jardim ou Santana para eles é o mesmo que dizer bem.
O caminho não é este.
publicação de
João Brito Sousa

DA IMPRENSA/ PUBLICO


25 de Abril: Cavaco Silva "impressionado" com ignorância dos jovens sobre o "Dia da Liberdade"

O Presidente da República, Cavaco Silva, mostrou-se hoje "impressionado" com a ignorância de muitos jovens sobre o 25 de Abril e o seu significado e denunciou uma "notória insatisfação" dos portugueses com o funcionamento da democracia.

No seu discurso na sessão comemorativa do 25 de Abril, no Parlamento, Cavaco Silva divulgou extractos de um estudo que mandou realizar sobre o alheamento da juventude face à política, e atribuiu parte da responsabilidade aos partidos políticos.

O Presidente considerou "não ser justo" para aqueles que se bateram pela liberdade, tantas vezes arriscando a própria vida, que a geração responsável por manter viva a memória de Abril persista em esquecer que a revolução foi um projecto de futuro.

"Os mais novos, sobretudo, quando interrogados sobre o que sucedeu em 25 de Abril de 1974 produzem afirmações que surpreendem pela ignorância de quem foram os principais protagonistas, pelo total alheamento relativamente ao que era viver num regime autoritário", declarou o Chefe de Estado perante o hemiciclo.

Cavaco Silva recordou que, quando o 25 de Abril ocorreu, uma parcela substancial da população não tinha ainda nascido e lamentou que quem viveu a revolução tenha a tendência para não se lembrar disso, julgando que essa data, fixada no tempo, possui uma perenidade eterna.

"Um regime político não pode esquecer as suas origens", disse, acrescentando "não ser saudável que a nossa democracia despreze o seu código genético e as promessas que nele estiveram inscritas".

Para Cavaco Silva, "num certo sentido, o 25 de Abril continua por realizar". O Presidente destacou que "ainda há um longo caminho a percorrer" naquilo que o 25 de Abril continha em termos de ambição de uma sociedade mais justa, no que exigia de maior empenhamento cívico dos cidadãos, e naquilo que implicava de uma nova atitude da classe política.


MEU COMENTÁRIO

O Texto do senhor Presidente da República dá que pensar. O que haverá a dizer sobre este assunto. É o que deixo á vossa consideração.

Fico a aguardar comentários.

Texto de
João brito SOUSA

sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 DE ABRIL


PORTO, 2008.04.25


FAZ ANOS HOJE


Que eles entraram na capital
Do País
E disseram basta
Aquela casta
De imbecis
Que ocupavam os lugares
de responsabilidade
E de decisão.
E que tinham tudo na mão
E que nada faziam
Porque não queriam...



É hoje o dia
Que não devemos esquecer
Faz anos
Nesta madrugada
Que eles chegaram
Actuaram
Ocuparam
E tudo mudaram

Para melhor.?...
Para pior?..

Ainda estamos a apalpar
E a ver
Onde é que isto
Vai parar.


João Brito SOUSA

A FAMÍLIA DOS SERRENHOS NOS BRACIAIS


BRACIAIS; A FAMÍLIA DOS SERENHOS.

A família dos Serrenhos é uma das famílias mais importantes dos Braciais.

Depois há os Carregas, o Ti Carrega e a D.Felicidade, que são os pais do Joaquim - que está na Austrália, casado com a Maria Teresa e pai do Paulo Jorge – e da Felisbela, que tinha uma filha, a Natércia, professora, falecida recentemente..

Mas penso que os Serrenhos eram os maiores, mesmo tendo em conta a família dos Britos, Bárbara Brito dos Braciais casada com e Sebastião Rodrigues das Pontes de Marchil, com três filhos: Dr. Carlos Alberto Rodrigues, Engº José Manuel Rodrigues e Engº António José Rodrigues.

Oportunamente falaremos destes.

O António Serrenho morava nas traseiras da casa do meu avô. Não conheci a esposa dele, ou seja, a mãe do Tótoi e do Rui. O que conheci foi a presença lá em casa da D. Arminda, de quem o António teve uma filha de nome Ludovina.

Os Serrenhos eram três: o Manuel, o mais velho, o António e o Bento. Este casou com uma prima minha, a Carminha Brito. Parece que foi ele e o Manuel que estiveram em Angola onde fizeram fortuna.. Todos eles tinham grande jeito para o comércio. O Bento começou na venda do Zé Manelinho, antes deste e tinha como empregado o Luís Gatinhas, casado com a Violante filha do Inácio Moreno, que era parente não sei como.. Lembro-me de lá ir comprar coisas para a escola, como pedras de ardósia para fazer as contas e um lápis..

O Bento e não sei se o Manuel também, tinha uma grande empresa de estradas em ANGOLA, onde trabalhou o Américo do Vale aí do Patacão. Disseram-me que reside agora em Beja.

João Brito Sousa

DO CANADÁ ATÉ AO PATACÃO


DO CANADÁ PARA TODA A MALTA DO PATACÃO

Do RUI COIMBRA, a residir no Canadá, recebi este mail que não resisto a publicar aqui. Ei-lo:

“Um abraco do Canada para o Sr Brito

em primeiro quero pedir desculpa pelos erros que vou ter..Sr brito depois de agosto 2007 tenho visto nos [blogues] dos costeletas ou abracos aos braciais que eu conheco muitas pessoas que voce por vezes fala ...com por exeplo o Sr Silvino Marmota da Mocidade portuguesa em faro ,,.pois eu tambem frequentava a Mocidade portuguesa nesse tempo ......pois o Sr marmota e meu padrinho do baptismo e a esposa minha madrinha e que sao bem vivos hoje ,,pois moram em faro...pois nao sou [bife nem costeleta] mas estive empregado nos anos 57 a 63 primeiro na

mercearia que estava no largo do mercado em faro ,,lado nascente ,,.nessa mercearia estive 4 anos depois fui para a mercearia do barao no largo da palmeira......pois ao fazer a escola primaria tive a sorte de ter uma GRADE professora na 4 classe que se chamava Natercia Pires Correia ,,,mais ainda,, foi a Dona natercia que pedio ao dono da mercearia trabalho para mim....conheci bem a Dona natercia como a mae e os avos que moravam no patacao ,,,estive

muitas vezes na casa da Dona natercia ...morava na rua actor nascimento fernandes No ,,10 isto foi em 1957 tinha eu 12 anos,,,,,,,claro que conheci o professor Zambujal tambem o mario que trabalhava em frente da mercearia onde eu estava......nessa altura conheci o horacio santos seu irmao como os pais tambem,,pois moravam a 50 metros do mercado de faro ,entre o mercado e a estrada de olhao a partir da farmacia,,,,,,,meu nome e rui coimbra [tio do victor] sou de mata-

lobos andei na escola em Sao-joao-da venda e foi la que a Dona natercia foi minha professora,,,.com certeza que nos anos entre 57 e 63 estariamos juntos varias vezes,,,,porque eu tambem conhecia a Graciete passos;;;;e todas as tabernas do patacao, incluindo a do Ze manelinho,,........fui para a franca em 63 onde estive dez anos ,estou no canada desde 73 ,hoje

reformado estou aprendendo qualquer coisa no computador...vai devagar,,mas vai,,,,,,,sem mais um abraco,,,,,,,,,,rui

Publicação de
JOÃO BRITO SOUSA

INVESTIGAÇÃO EM PORTUGAL


PORTUGAL ENSINA AO RESTO DA EUROPA A TRANSFORMAR PNEUS VELHOS EM ASFALTO.

Um projecto do LABORATÓRIO NACIONAL DE ENGENHARIA CIVIL, para reutilizar pneus velhos no fabrico de asfalto está a ser esta semana apresentado na Eslovénia como um exemplo a seguir por outros países europeus.

MEU COMENTÁRIO

As Universidades estão a trabalhar bem em Portugal onde há uma série de novos investigadores nestas matérias e isso é importante

Texto d e
João brito SOUSA

quinta-feira, 24 de abril de 2008

AS VENDAS DOS BRACIAIS


AS “VENDAS” DOS BRACIAIS

- A Taberna? Trata de quê?, de vinho, de bêbados?
- Não. Trata da vida, da vida de pessoas infelizes.
- Faz chorar?
- Faz pensar.
- Pensar

- Sim, a Taberna é um livro que ensina.

Baptista-Bastos em o Cavalo a Tinta da China.

“A Gervásia esperara o Lantier até às duas hora da manhã. Depois, tiritando dos pés à cabeça por se ter deixado estar em camisa ao ar frio da janela, tinha adormecido, deitada através da cama, febril, a face encharcada em lágrimas. É assim que começa a obra “A Taberna” de Emilio Zola que aqui é citada por Baptista-Bastos..


No meu tempo de menino, nos Braciais havia a venda do Ti Zé Manelinho, apenas. Nasci com aquele nome em casa e sem saber por que é que aquele local de comércio era denominado de “A VENDA”. Hoje até perguntei à minha mulher como eram chamados, na sua terra de origem, os locais de venda de bens alimentares, líquidos e sólidos, necessários para satisfação de necessidades correntes. “É a Venda.” disse ela. Concluí que talvez a palavra “Venda” viesse substituir a expressão local de venda, o local onde se vendiam os bens. Para simplificar, ficou venda... tudo bem! Consultado o dicionário, diz que Venda é o estabelecimento humilde, aberto por negros libertos da escravidão; ou pequena mercearia e bar; ou só mercearia. Está explicado.

Estávamos nos anos cinquenta, no tempo do Presidente CARMONA, aquele que dizia: “Vemo-nos quando nos virmos”, e as pessoas viviam com muitas dificuldades. No Inverno, quando chovia, praticamente não havia trabalho nos campos. No Verão, desciam ainda os alentejanos para perto da cidade de Faro e os recursos financeiros disponíveis das populações do campo eram praticamente os mesmos ou quase nulos. Fosse no Inverno ou no Verão, a minha mãe mandava-me à Venda buscar pão ou outra coisa qualquer, mas não levava dinheiro... porque, simplesmente, a minha mãe não o tinha e dizia-me: “João, diz à vizinha que aponte!” E lá ia eu às compras, trazia a mercadoria e, quanto a pagamento... ia para o livro.

Portanto, a “Venda” desempenhou, até à chegada das grandes superfícies, uma grande função comercial e social, não só financiando a aquisição de bens de primeira necessidade, como também promovendo o encontro e convívio de pessoas, dentro do contexto social vigente. Pela abertura, aí pelas sete horas da manhã, os homens apareciam a tomar o seu copo de aguardente (No Algarve, não se usa muito a expressão “mata bicho”.) e contratar algum trabalhador para esse dia, para a semana em curso ou como trabalhador aturado (trabalho vitalício). Depois a Venda retomava o seu circuito normal e vendia uns maços de cigarros e uns copos de aguardente e de mercearias... o que fosse necessário. As Vendas, hoje, praticamente, acabaram mas mantém-se ainda, no shomens, o velho habito do copo de aguardente pela manhã, em muitas aldeias e sítios. De manhã diz o meu tio Eusébio faz isso... e lá vai um “calcezinho”... every days.

À noite, a venda era mais frequentada. Vinha o Ti Zé da Cova que morava ali perto, o Ti Barras, o Ti Aníbal, o Ti Luís Alcantarilha, o Ti Zé Lobacota e o irmão Joaquim, o Ismael Janeira e outros. Falavam de tudo: dos preços dos produtos, dos gados, disto e daquilo. Para dar lucro à Venda, pediam ao Zé Manelinho, o proprietário, que servisse uma garrafinha de água do Castelo com aguardente. Custava quinze tostões e passava entre todos. Se não chegasse para alimentar a rodada, repetia-se a dose, pedindo outra. Ali estavam até às onze horas da noite, mais ou menos, e depois iam-se embora. E diziam: “Bom, meus senhores...até à primeira!”, querendo dizer que se despediam agora até à primeira vez que se encontrassem.

Uma vez, assisti lá na Venda a uma coisa gira. Apareceram por lá dois rapazotes novos que iam casar com duas irmãs. Não sei como é que a coisa começou, mas... às tantas, os dois rapazes casadoiros, estavam a discutir sobre quem tinha mais dinheiro para o casamento. Eu só aqui nesta algibeira tenho cinco contos, dizia um deles. E dizendo isto, colocava as notas em cima do balcão, para que fossem vistas por todos. Agora fala tu..... mostra lá o teu... O outro, que não tinha nada ali à mão, entupiu... mas uma das outras pessoas que estavam presentes e assistia à conversa, na Venda, passou-lhe seis mil para a algibeira e disse-lhe baixinho.. mostra, o que este fez, com uma interpretação magistral, à Raul Solnado, dizendo, aqui tens ó meu sacana... e mostrou que tinha mais dinheiro que o primeiro. A “massa” vinha dos que estavam presentes, que a tinham ali e a iam, à vez, colocando na mão dos rapazes, o que eles iam apresentando em cima da mesa, dizendo ... eu tenho tanto e provo isso aqui e agora... e tu não tens nada, disseste que tinhas e mais não sei quanto... de tal modo que o visado teria de dirigir ao seu alimentador financeiro de momento, para dar ânimo à conversa. Coisas de camponeses .. os senhores compreendem...

Hoje, que chegaram os Super mais os Hiper, a Venda terminou a sua função social, que foi grande em tempo da Guerra e de restrições. Mas, enquanto durou, ajudou muita gente a sobreviver. Era lá que se vendia a sardinha estibada. ou sardinha amarela... e eu ia lá comprar .. ó vizinha quero levar sardinhas e a minha mãe pede para apontar. Era a unigrafia em pleno.

A Venda... apesar de tudo, uma saudade! Patrão, vai um copo?!...

João Brito Sousa

quarta-feira, 23 de abril de 2008

25 DE ABRIL SEMPRE




Grândola vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti ó cidade

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola vila morena
Terra da fraternidade


À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade


Grândola, vila morena foi composta como homenagem à "Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense", onde no dia 17 de Maio de 1964, José Afonso fez uma actuação. É nessa actuação que o cantor conhece o guitarrista Carlos Paredes, ficando impressionado com "o que esse bicho faz da guitarra!" (expressão do próprio José Afonso numa carta aos pais).

José Afonso fica também impressionado com a colectividade: um "local obscuro, quase sem estruturas nenhumas, com uma biblioteca com claros objectivos revolucionários, uma disciplina generalizada e aceite entre todos os membros, o que revelava já uma grande consciência e maturidade políticas".

Esta canção tornar-se-á famosa ao ser escolhida como senha para a revolução do 25 de Abril. Houve duas senhas. A primeira, às 23h, foi a música "E depois do adeus", de Paulo de Carvalho. Grândola, que foi a segunda, passou no programa "Limite" da Rádio Renascença às 0.20h do dia 25. Foi o sinal para o arranque das tropas mais afastadas de Lisboa e a confirmação de que a revolução ganhava terreno.

Recolha de
João Brito SOUSA

terça-feira, 22 de abril de 2008

POEMA DE ANTÓNIO SIMÕES


POEMA
de Terça - feira Gorda de Carnaval

Num recinto de baile,
os pares dançam voluptuosamente
ao som lânguidoda música!
que irrompe frenética
e parte vidraças dentro de mim.

... E vou para além donde não posso ir
através de mim.Ah! mas para atingir
o ponto culminante onde quero ir
sem Deus consentir,
eu imploro, soluçante:
- “Sr. Deus, eu creio em vós
e uma sensibilidade morta
renasce em mim !
Volto ao passado,
sob a vossa protecção,
e sinto-me outra vezcriança,
levada nos braços da ilusão.

-Sr. Deus ! Deixai-me ir ao recintode dança,
onde há perfumes estonteantes
e cores insinuantes em damas bonitas.
Hoje, terça-feira Gorda de Carnaval,
sr. Deus,(para que nasci assim sensívele vivo por elesa vida deles?)todo um passado ressuscita através dum presente mascarado...
- Perdoai-me, sr. Deus !

Eu sou egoísta e julgosentir por eles
- os pares dançantes
-a beleza sem termo, sem classificação,
dos seus corpos vibrantes, insinuantes,
e da música que penetra no meu Ser(sem razão de ser)
e se transforma em vento que percorre o continente,
o continenteda minha alma.

- Sr. Deus - mais uma vez - eu posso ir,
ao recinto de dança?
Prometo portar-me com cuidado...
ninguém saberá que fui exilado
de láquando era criança».

Ah! mas Deus, não me responde!
Deixo de crer, de ter fé,
e volto a ser ateu.
Vou sentar-me à mesa do bar
escondido, pervertido, nas traseiras do salão,
com a música a apunhalar-me a garganta,
que soluça quando cantauma indizível canção...

Alguém ao meu lado diz- ou pelo menos insinua,
-que a esta hora está chovendo lá fora,
que a esta hora está gente morrendo,
morrendo no mundo inteiro,
para salvar o mundo inteiro...
E eu gostaria de dizer que nesta hora sonolenta,
amorfa, nesta hora sem principio nem fim
está um menino morrendo em mim,
que fui eu,
que sou eu exilado dum país ridente,
primaveril, onde os homens pensam e actuam
sempre numa Esperança sem fim,
que sobe, sobe desmedidamente, continuamente
em vez de ficarem bebendo e apodrecendo moralmente !

- Eu bebo num grito de revoltaa miséria da minha existência,
e choro...Choro intimamente a minha morte
que ninguém vê !- Oiço !... Oiço citar o meu nomee dizer,
que faço poemas de sangue e quebro algemas de escravos
que jazem agrilhoados.

Volto-me, então, para mim, num olhar insinuante,
num grito de aflição !que fica mudo, indeciso…
- E faço hipóteses de triunfo e penso:
- «Se acaso, o meu nome e o meu retrato viessem amanhã,
nos jornais, toda esta gente diria a outra gente
que por sua vez diria,
também, a outra gente
que o poeta do jornal era aquele homem bêbado,
de terça-feira...de terça-feira Gorda de Carnaval.»

PUBLICAÇÃO DE
JOÃO BRITO SOUSA

segunda-feira, 21 de abril de 2008

POESIA DE ANTÓNIO SIMÕES


AO MEU CACHIMBO
Oh! meu amigo, meu insigne companheiro das noites de insónia, passadas em vão, que tal a nossa vida ?
Tal o fumo derradeiro da nossa ridente e desfeita ilusão ?

Quando chora o coração, a dor mais aperta...teu fumo azulado em zig-zag, noite escura,se eleva no espaço... minha alma desertade sois e esperanças, de carinhos e ternura !

De noite, janela aberta, olhando a rua silenciosa... e iluminada p'la lua, ficamos quedos e sós, a meditar tristemente.

E no ar paira uma sombra obscurecida que não sei se é fumo, ilusão desta vida, ou um olhar que interroga mansamente.
Publicação de
João Brito Sousa

domingo, 20 de abril de 2008

IMPRENSA/ EXPRESSO


O PRESIDENTE NA MADEIRA
por MST

Os relatos da longa visita de Cavaco Silva à Madeira - uma semana inteira, que a agenda divulgada está longe de justificar - deixaram-me a estranha sensação de que o Presidente está de visita a um país estrangeiro: uma espécie de Palop, só que um Palop muito especial onde pagamos um alto preço por a bandeira nacional ainda flutuar onde o governo local consente.

A visita começou mal antes mesmo de começar. Primeiro, porque foi antecedida de uma outra da segunda figura do Estado - essa anémona política que é Jaime Gama - que resolveu entronizar o dr. Jardim como símbolo supremo da vida democrática: o presidente do Parlamento nacional propondo como exemplo alguém que trata o parlamento regional como um lugar onde coabitam um bando de eunucos às suas ordens e “um bando de loucos” que se atreve a pôr em causa os ensinamentos do querido líder.

Depois, porque antes mesmo de embarcar, já Cavaco tinha feito divulgar um comunicado anunciando ao que ia: elogiar a ‘obra’ do dito líder. E, enfim, porque, à partida, já o Presidente sabia que a sua agenda era determinada pelo dr. Jardim e de acordo com os seus desejos: estava afastado da Assembleia Regional, para que os “loucos” não envergonhassem a Região; estava afastado das traseiras da obra de sucesso do querido líder, onde entre 20 a 30% da população vivem abaixo do limiar de pobreza e em condições que deveriam obrigar o Presidente da República a perguntar alto e bom som para onde foi o dinheiro, além dos túneis e viadutos para encher o olho; e, finalmente, porque apenas lhe era consentido - e ele aceitou - receber a oposição representada no parlamento regional em “encontros informais”, no hotel onde Sua Excelência se hospedava, tal qual como receberia amigos ou conhecidos locais.

E Cavaco Silva - o “sr. Silva” de Alberto João Jardim - aceitou tudo isto, muito mais do que é normal aceitar numa visita ao estrangeiro.

A visita de Cavaco à Madeira é uma nódoa que não sairá tão cedo, um momento de vergonha e capitulação que veio manchar uma Presidência até aqui pacífica, louvada e isenta de riscos. Mas, na primeira vez em que tinha de correr riscos políticos e assumir-se como representante primeiro da nação portuguesa, Cavaco Silva mostrou a massa de que é feito. E deixou muitas saudades de Presidentes com coragem e capazes de distinguir aquilo que, às vezes, é essencial e de que não há forma de fugir. Tivemos dois desses: Eanes e Mário Soares. Cavaco não tem esse instinto democrático inato: é um democrata por educação, não por natureza. Já o sabíamos, mas foi penoso ter de o recordar e logo a pretexto desta fantochada interminável e menor que é a longa chantagem de trinta anos que o dr. Jardim exerce sobre os órgãos de soberania e a política portuguesa.

O que eu gostava que um Presidente da República do meu país fosse fazer à Madeira era que, em lugar de se juntar ao coro dos elogios à ‘obra’ do dr. Jardim, tivesse um elogio para os portugueses que, trabalhando e pagando impostos ao longo de trinta anos, contribuíram para que a ‘obra’ se fizesse e para que o dr. Jardim fosse sucessivamente reeleito à conta disso. Que tivesse a coragem de resgatar a dívida de gratidão que a Madeira tem para com Portugal e que tem sido paga pelo dr. Jardim com intermináveis insultos e provocações, como se fosse nosso dever pagar e calar em troca do privilégio de a Madeira continuar portuguesa. Gostava que o Presidente explicasse aos madeirenses que ser português não é o resultado de uma conta de merceeiro, em que se pesa o deve e o haver e em que se reivindicam todos os direitos e se exige isenção de todos os deveres.

E que, a continuar por este caminho, chegará o dia em que os portugueses vão exigir, não a “autonomia sem limites” de que falava o infeliz Luís Filipe Menezes, mas sim a independência da Madeira: a independência declarada por Portugal, entenda-se; não a independência declarada pela Madeira. Que chegará o dia em que os portugueses se vão perguntar por que é que hão-de continuar a sustentar o poder, os negócios e o exibicionismo mediático daquelas figuras patibulares que esperavam Cavaco no aeroporto do Funchal. A mim, se me perguntarem se quero continuar a pagar impostos para sustentar esta ‘autonomia’ da Madeira, representada e usufruída por aquela gente, eu respondo já que não. Que vão à vida deles e que arranjem quem lhes pague as contas, porque a mim nunca me pagaram para ser português nem eu aceitaria.
Cavaco Silva deveria ter mais cuidado, mais sensibilidade política e mais noção de Estado ao afirmar que “nenhum português contesta hoje a autonomia regional”. Qual autonomia: a que custa 60, a que custa 90 ou a que custa 120 milhões por ano?

Eu faço parte de um grupo, só aparentemente minoritário, dos que não acham o dr. Alberto João Jardim “engraçadíssimo”. Não lhe acho mesmo piada nenhuma. Portugal já não é, felizmente, aquela tristíssima gente que vimos nas reportagens televisivas desta semana à espera da comitiva dos drs. Cavaco e Jardim. Aquilo é o Portugal no seu pior - inculto, ignaro, subserviente perante o poder, mendicante, reverente, alimentado a ‘sopas de cavalo cansado’ e vendendo o voto por um chafariz. E também não sou sensível àqueles supostos esgares de humor de Cavaco Silva, debitando banalidades grandiloquentes, quando desce ao ‘povo’, protegido por um eterno esquadrão de gorilas que jamais dispensa. Acho tudo aquilo uma fantochada, o Américo Tomás revisitado num país que eu desejo para sempre defunto e sepultado.

Esta viagem de Cavaco à Madeira serviu para me explicar, se eu não soubesse já, a razão pela qual jamais votei ou votarei neste homem. Porque, ao contrário do que ele parece pensar, não é o cargo que está ao serviço dele, mas ele que deveria estar ao serviço do cargo. E não esteve.

P.S. 1 - Exit Menezes: fez muito bem, foi um erro de «casting», de dimensão política, que não podia ter solução boa à vista. Foram seis meses de total asneira, de cata-vento sem sentido, de gritante impreparação política. Que volte àquilo que fez bem e que leve com ele a tropa-fandanga do Cunha Vaz, o Ribau Esteves, o Branquinho, o Pedro Pinto, o Rui Gomes da Silva e, por favor, o Santana Lopes.

P.S. 2 - Jerónimo de Sousa foi a Angola e voltou com a certeza de que o Governo local e o MPLA estão empenhados na luta contra a corrupção. Também Bernardino Soares tinha ido à Coreia do Norte e voltou com a convicção de que aquilo era uma democracia. O PCP acredita mesmo que somos todos idiotas?

P.S. 3 - Apenas «pro bono»: fui director da Fernanda Câncio na ‘Grande Reportagem’ durante vários anos. Demo-nos o pior possível, pessoalmente. Mas nunca tive uma dúvida, nem tenho, de que é uma excelente jornalista, séria e competentíssima. Contestar a sua contratação pela RTP, com base em ligações pessoais, é simplesmente abjecto. Quando a direcção do PSD desce a este nível, o melhor mesmo é desaparecer do horizonte.

O MEU COMENTÁRIO

Na minha opinião, MST numas terá razão noutros aspectos não. Atira-se a Cavaco como gato a bofe. Pode ter razão mas com a maneira como arrasa o nosso Presidenet é agressiva.

Se disser que MST é defensor de Pinto da Costa, não lhe resta possibilidade alguma de tentar colocar Cavaco em cheque. Porque Pinto da Costa me parece ser uma pessoa cem vezes pior praça que Alberto João Jardim, logo MST deveria era estar calado ou então ter outra postura na crítica futebolística.

MST parece-me equivocado.

Acho que o MST escreveu com ódio.

Publicação de
JOÃO BRITO SOUSA

IMPRENSA/ EXPRESSO


O BASTA DE MENEZES E O BASTA DOS PORTUGUESES hmonteiro@expresso.pt

A direcção do PSD conseguiu evidenciar uma série de defeitos que ficariam melhor escondidos. Em contrapartida, por muito que nos tentemos lembrar, nada nos ocorre sobre o que pensa acerca das questões fundamentais para o país

Menezes disse basta, mas não disse o que basta. Penso que todo o país dirá também basta, como Menezes, só que, infelizmente para ele, não se estará a referir à mesma coisa do que o líder do PSD.

Para o país basta a total inexistência do PSD.

Porque o PSD faz falta à democracia e à sua estabilidade, até por motivos que não são imediatamente perceptíveis.

Por exemplo, o ascendente que o PCP e muitos sindicatos têm vindo, nos últimos tempos, a conhecer, se são por um lado consequência das políticas sociais do Governo, são, por outro, efeito desta falta de um contrapeso à direita e centro-direita.

Veja-se os professores. Os sindicatos organizam com êxito uma manifestação de 100 mil professores na rua, contra a avaliação. E o PSD apoia… os sindicatos. É um espanto!

Como apoiou (ainda com Marques Mendes, saliente-se) a demagogia contra o fecho das urgências e dos blocos de parto; como estava disposto a apoiar várias demagogias nas reformas da Função Pública e sabe-se lá se nas reformas do Código do Trabalho. Assim, o PSD nem respeita a sua história, nem se dá ao respeito, nem é respeitado. E entrega, de bandeja, o Governo à esquerda, permitindo que se viva no que, às vezes, parece uma espécie de PREC serôdio.

Menezes governou o PSD como se o objectivo da sua liderança fosse governar o PSD. Ora o objectivo de qualquer líder do maior partido da oposição tem de ser o poder. Por isso, ele há-de se preocupar mais com o país do que com as guerras internas, coisa que Menezes não fez.

Na verdade, do até agora líder do PSD não sabemos uma palavra sobre as questões mais importantes do país; sobre a crise económica, sobre a crise na educação, sobre os inúmeros problemas na justiça.

Sabemos, com boa vontade, que o líder demissionário queria desmantelar o Estado em seis meses, ou coisa parecida - no que, naturalmente, nunca acreditámos - e ainda que mudou o símbolo e queria profissionalizar o partido (coisa que, como muito bem assinalou Aguiar Branco, o tornaria demasiado parecido com o PCP).

E se Menezes não fez o que devia fazer, distinguiu-se naquilo que não devia. O último episódio desta liderança, o ‘caso Fernanda Câncio’ mostrou um rol de defeitos quase inacreditáveis, daqueles que mais valia terem ficado sempre escondidos: hipocrisia, farisaísmo, parolice, coscuvilhice. Se o quisermos dizer numa palavra podemos utilizar o vocábulo 'estupidez'.

E a estupidez, em política tem vida curta. Como se viu...

O MEU COMENTÁRIO

Nunca percebi Menezes. Em todos os Congressos escoiceou por todos os lados. Escoiceou, inclusivamente, com Marques Mendes. Agora, apareceu em cena, seis meses após ter iniciado o seu consulado e quer ir-se embora porque foi traído desde o primeiro minuto.

É um homem sem talento e meio parvo.

Pelo menos é o que me parece.

Recolha de
João brito Sousa

sábado, 19 de abril de 2008

BOM FIM DE SEMANA


PORTO, 2008.04.19


BOM FIM DE SEMANA


Para os meus filhos em ALMADA XAXÁ E PEDRO Para a minha nora e para as minhas netas MARIANA e SOFIA

Para os meus irmãos em NEWARK, USA

Aló Solange, katy and Jack David, Daniela, Michele e respectivos....

Aló PAUL SPATZ e filhas

Aló primos e primas na Austrália e Perpingham em França em NEWARK, aló Tony and Quitéria Ilheu aló SIlvina no Canadá

Para a Celina e para o Aníbal, para o Zé ALEIXO Salvador esposa, Honorato Viegas e esposa, Peixinho e esposa em ALMADA,

Para toda a malta do 1º 4ª de 52 em especial para o Coelho Proença, Zé Maganão e Ludgero Gema,

Para o Gregório LONGO no Lar da Guia (até à primeira)

Para o aluno da Escola COMERCIAL e INDUSTRIAL de FARO que elegi como o melhor de todos os tempos, o Contra Almirante ANTÓNIO MARIA PINTO DE BRITO AFONSO.

Para o Eng º ANSELMO DO CARMO FIRMINO e esposa, outro aluno brilhante e dos melhores de sempre da Escola COMERCIAL e INDUSTRIAL com quem tive dúvidas na atribuição do melhor aluno de sempre, tendo sido prejudicado por ser de uma ou duas gerações depois da minha.

Para o Dr. José Martins Bom, outro brilhante aluno da Escola COMERCIAL E INDUSTRIAL e para o igualmente brilhante e talentoso ARNALDO SILVA..

Para o Dr. Eduardo Graça e o seu ABSORTO

Para o grande poeta ROBERTO AFONSO

Para o Engº SOUSA DUARTE, esposa e filho

Para o amigo Carlos BARRIGA E ESPOSA e Filha nas FERREIRAS.

Para o Luís José Isidoro em ESTOI, amigo inesquecível

Para o Engº Neto e esposa em ESTOI ainda.

Para o Engº Manuel Carvalho e esposa

Para os meus compadres, Dr. Manuel Rodrigues e Drª Fátima Rodrigues e filha, a Drª Ana Luísa Rodrigues.

Para o enorme MÁRIO MONTEIRO que agora mora em CAMPO

e para o Guilherme, Marta esposo e filho,

Para a viúva do CARLINHOS LOURO, filhos e irmãos e respectivos.

aló Custódio Clemente e Zé Mendes na AUSTRÁLIA,

Zé Lúcio, Florentino, Rosendo e Joaquim Carrega...

Victor e Célia Custódio e Leonilde Filhos e filhas.

Aló Montenegro SÃO E FILHAS ,

Tia Amélia.

Tias Alzira e Ti Manel

Eusébio e Júlia Lucília e Armando e Filhos

Silvina e Luís Alcantarilha e filhos

Mercedes e Alviro, BICAMA e BIZÉ E RESPECTIVOS

Maria do Carmo e Zé Maria e filhos (meu afilhado João Manuel) e noras netos

FLORIVAL EM França, esposa e filhas Para o CUSTOIDINHO, o filho do APOLINARIO, que diz que é teu amigo e com quem tive uma pega no restaurante o Jorge, no PATACAO.

Para: VIEGUINHAS de Pechão e respectiva equipa do almoço de sábado, o ZÉ GRAÇA, o BOTA de ESTOI e o ENGENHEIRO

Para a malta do 1º ano 1ª Turma de 52/53

Chefe de turma: CÉLIO MARTINS SEQUEIRAALUNOSJosé Bartílio da PalmaLuís Rebelo GuimarãesHerlander dos Santos EstrelaReinaldo Neto RodriguesAntónio Inácio Gago ViegasHumberto José Viegas GomesManuel Cavaco Guerreiro.Joaquim André Ferreira da CruzJoão BaptistaJosé Mateus Ferrinho PedroJosé Vitorino Pedro RodriguesIvoFrancisco Gabriel Carvalho CabritasJoão António Sares ReisFernando Manuel MoreiraAntónio Manuel Ramos JoséFrancisco Paulo Afonso ViegasManuel GeraldesJoão Manuel de Brito de SousaJorge Manuel AmadoJoão Vitorino Mendes BicaCarlos Alberto Arrais CustódioJosé Júlio Neto ViegasManuelJoão dos SantosJosé Pedro SoaresJosé Marcelino Afonso Viegas


Para o meu afilhado em Washington CARLOS ALBERTO DIOGO esposa e filhos

Para o DIOGO TARRETA e esposa e filho, o grande Engº JOÃO PAULO SOUSA

Para o REINALDO TARRETA, esposa e filho, o Engº Rui Tarreta e para a SOLEDADE e respectivo...

Aló ESTORIL Mário Fitas, Aló Porto Carlinhos Pereira, Adelino Oliveira em AZEITÃO. Romualdo Cavaco, Jorge Valente dos Santos e Zé Pinto Faria em Portimão. ADOLFO PINTO CONTREIRAS NOS GORJÕES E SOARES em TAVIRA. Feliciano Soares e Xico LEAL em Olhão e Zé Júlio na ilha da Culatra. Para a malta da Escola Comercial e Industrial de FARO, grandes amigos e colegas,

ROGÉRIO COELHO, LUÍS CUNHA, JORGE CACHAÇO E FRANKLIM MARQUES.

Para o JORGE CUSTÓDIO, o JORINHO que andou comigo na escola primária em Mar e Guerra, irmão da Fernanda e que agora mora em Faro e para o GABRIEL ferreiro na Falfosa.

Para CUSTÓDIO JUSTINO esposa e filhos, ANÍBAL PEREIRA e esposa no Patacão e João ALCARIA em Mata LOBOS , distintos bancários.

Para as minhas primas Maria Emília na Falfosa, filhos e respectivas, Margarida em Santa Barbara de Nexe, Maria em Faro e Glorinha em Tavira.

Para o primos ROBERT em Nice, JOÃO no Patacão.

Para os tios Zé Bárbara e Vitalina em Vila Moura e tio António no Canadá..


UM BOM FIM DE SEMANA PARA TODA A GENTE

João Brito Sousa

ANTES DA QUEDA DE MENEZES


A QUALIDADE DAS COSCUVILHEIRAS.

A incoerência paga-se e as sondagens não mentem: Menezes afunda-se e leva com ele o PSD

Na semana passada, o PSD resolveu interpelar o Governo no Parlamento sobre a qualidade da democracia, matéria sobre a qual têm surgido, aqui e ali, acções pouco dignificantes para os pergaminhos democráticos que os socialistas tanto gostam de exibir. Basta lembrar o caso Charrua, as visitas da PSP a sindicatos antes de acções de contestação ou a obsessiva tendência deste Executivo para se imiscuir na vida empresarial (de que os casos do BCP e da OPA da Sonae sobre a PT são os exemplos-limite) para se perceber que o tema até merece debate. Mais: do ponto de vista político, este é um assunto particularmente sensível ao eleitorado potencial do PS e tem provocado clivagens entre a ala esquerda e a ortodoxia dominante no partido.

Mas o PSD não soube aproveitar a ocasião. E não soube porque a intenção foi apenas aproveitar-se de forma oportunista do recém-conhecido relatório da Entidade Reguladora da Comunicação Social para se vitimizar e reivindicar um tratamento mais equitativo por parte dos media do Estado.

Ou seja, a questão essencial da qualidade da democracia, enquanto garantia de vivência livre, justa e digna dos direitos e deveres por parte dos cidadãos, não passou de uma bela tirada para enganar papalvos. O que realmente faz correr a direcção do PSD é a divisão da coutada temporal dos «tempos de antena» entre os partidos do bloco central, na mesma linha, aliás, da sugestão há meses feita por Menezes a propósito dos comentadores políticos nas televisões. Um comentador para mim, um comentador para tiŠ Qualquer dúvida sobre as preocupações do líder social-democrata quanto à «qualidade da democracia» seria, de resto, desfeita no dia seguinte a esta interpelação. Bastou ouvi-lo, cândido e compreensivo, a justificar, na Madeira, a proibição da integral cobertura jornalística do congresso do PSD regional. Tanta incoerência paga-se e as sondagens não mentem: Menezes afunda-se e leva com ele o partido. Na altura mais complicada para o Governo Sócrates, toda a oposição sobeŠ menos o PSD, segundo a última sondagem do Expresso.

O que se compreende, ao saber-se o que tem para oferecer aos eleitores. Quando a vida é difícil e o desemprego alastra; quando nem a muitos dos que têm trabalho chega o dinheiro para pagar despesas básicas; quando tantos dos que clamam por justiça não têm horizonte para a ver aplicar; quando a insegurança saiu dos subúrbios problemáticos e se transferiu, de armas e bagagens, para a porta de cada um de nós, qual é a bandeira de Menezes? Nada mais nada menos do que uma nova Constituição. Eis o sofisma de quem não tem nada para dizer.

Enquanto isso, e como se do desfecho do caso dependesse a salvação da pátria, alguns dos seus acólitos entretêm-se com uma daquelas tricas que costumam aquecer a conversa das comadres: o facto de a jornalista Fernanda Câncio ir apresentar um programa de que é co-autora, na RTP2. Câncio é profissional há 22 anos, já trabalhou em televisão e até escreveu um livro sobre o tema alvo do programa, mas nada disso conta para as coscuvilheiras do PSD. O picante é que é namorada de Sócrates, percebem? E quer esta gente governar Portugal.

Recolha de
João brito SOUSA

sexta-feira, 18 de abril de 2008

UM POETA DO POÇO LONGO




ANTÓNIO SIMÕES JÚNIOR – O HOMEM E O ESCRITOR

1. INTRODUÇÃO


Quem pretender elaborar um mero resumo biográfico sobre António Simões - nome por que foi registado e ao qual acrescentaram o apelido “Júnior”, para não se confundir com o do pai, depara ainda hoje com a falta e, o que é mais grave, com inexactidões, de elementos indispensáveis à verdadeira narração e compreensão da vida deste olhanense, que foi militante político, operário, escritor e que toda a vida estudou e pesquisou.

Mas a vocação e a ambição que nele se sentia, o que verdadeiramente o deleitava era escrever, fazendo dele um escritor compulsivo. Foi feliz como escritor, pesquisador e estudioso, mas foi profundamente infeliz na sua vida matrimonial. Infeliz, ainda, por ter vivido cerca de dois terços da sua vida fora da Pátria, concretamente, na Argentina.

2. NASCIMENTO, INFÂNCIA, JUVENTUDE

São dados certos que nasceu a 22-09-1922, no sítio de Poço Longo, freguesia de Quelfes, concelho de Olhão. Filho de António Simões, natural de Faro e de Angelina Ignacio, nascida em Quelfes, Olhão. Com o filho em gestação ou pouco depois dele ter nascido, o pai Simões emigra para a Argentina. Júlio Fradinho (1), que conviveu com Simões Júnior, em Buenos Aires, assevera que este só conheceu o pai na Argentina.

Diz-se que completou a instrução primária – e o seu desenvolvimento intelectual parece confirmar a afirmação –, mas não se sabe que escola frequentou: se a escola do “Lopinhos” (2), se da Paróquia (ou do Padre) ou se teve a sorte de ter ingressado na Oficial, mercê de algum pedido forte, pois a capacidade de admissão desta última escola era ínfima em relação à população em idade escolar, carência que se manteve durante muitos anos.

Simões Júnior e Manuel Madeira conheceram-se, quando jovens, movidos pela mesma apetência pelos livros nos quais esperavam encontrar respostas para todas as interrogações que os assaltavam. E o local de encontro foi naturalmente a Livraria Farracha, na Rua do Comércio, em Olhão, que na época, à falta de estruturas institucionais próprias, funcionava como um “centro cultural”, agindo o seu proprietário, conhecido como opositor ao Regime - como o “animador” e o “conselheiro”! Se juntarmos a estes o Lopes de Brito e o Raul Martins Veríssimo (o último dos quais haveria de protagonizar uma das mais rocambolescas fugas às garras da Pide), temos aqui um núcleo que esteve na origem da grande movimentação política que implantou e desenvolveu em Olhão o MUD Juvenil, impulsionador das lutas reivindicativas da juventude e, pelo seu dinamismo, das camadas adultas.

O fim da II Guerra Mundial foi uma alegria para o Mundo, e, inclusive, para Portugal. O povo de Olhão, mesmo receando o aparelho policial do Estado Novo, não se conteve e saiu à rua, desfilando pela Avenida, gritando”Viva a Paz!”. O Nazi-Fascismo fora derrotado e vitoriosos saíram os Aliados, dos quais os povos esperavam liberdade, emprego e justiça social.

Olhão, em 1945, estava no auge do seu desenvolvimento económico em consequência do pleno labor das suas fábricas de conservas, da sua frota pesqueira e do bom momento da economia associada. A população cresceu que bastasse, recebendo gente que vinha atraída pelo “el dorado” olhanense. Haja em vista o fenómeno das “quarteireiras”. As ideias socialistas e comunistas encontram um campo propício à sua implantação, mau grado a existência da Pide. Simões Júnior, que lera bastante sobre os fundamentos do Comunismo e seguia atentamente a evolução da URSS, constituída após a célebre Revolução de Outubro de 1917, adere à célula do PCP de Olhão.


A sua residência era vizinha dum pólo de grande concentração industrial (zona da E.N. 125, no troço da Av. Almirante Reis – Quatro Estradas, delimitada a sul pelo Caminho de Ferro), oferecendo excelentes condições de contacto com o respectivo operariado.

Simões Júnior, nas horas de trabalho, envergava o tradicional fato-macaco, mas, acabado o serviço diário, vestia-se bem. Contraditoriamente, ou por desejar agradar às raparigas, até chapéu “à diplomata” chegou a usar. À noite, frequentava o Café Avenida, no qual situou o seu poemeto “Excitação – Café Avenida – às 23 horas”, onde se encontrava com os amigos e cujo ambiente lhe serviria de argumento em mais de um dos seus livros. E é com o amigo Madeira que, nas folgas, dava grandes passeios pela Avenida da República e junto ao mar. Porque o mar assemelhava-se a “alguém” que interpelasse e transmitisse mensagens que precisavam de ser descodificadas…

3 A JORNADA DE BELA MANDIL E O CASAMENTO

Em 23 de Março de 1947 dá-se a Jornada de Bela Mandil (Olhão), um encontro de confraternização da juventude algarvia, que se queria fosse um Festival, para a organização do qual o Simões trabalhara clandestinamente. Ao fim de algumas horas, “os jovens foram surpreendidos por uma brigada da P.S.P. que os intimou, por ordem do Comandante da Polícia de Faro, a retirarem-se imediatamente da mata”(6).

Mas à P.S.P. juntou-se a G.N.R., dispondo esta de metralhadoras posicionadas nos pontos altos do percurso, que era um caminho que conduzia à E.N. 125, e desta a Olhão. A dispersão, porém, só se consumou quando a G.N.R., entre o Cemitério e a Ponte da C.P., carregou sobre a multidão, disparando tiros para o ar. Assim, …”no resto desse dia e noite e durante mais dois ou três dias, foi Olhão patrulhada pela G.N.R., a cavalo (7). O ambiente era, a um tempo, opressivo e apreensivo. Temia-se que fossem feitas prisões. Simões admitia estar incluído no rol. Mas não é isso que o impede de, no dia seguinte ao Encontro, em 24-03.1947,casar com Silvina dos Santos Pereira, natural de Tavira. Haviam-se conhecido em Olhão, pois ela vivia ou teria familiares a residir na Rua Almirante Reis (8), habitualmente, frequentada por Simões, por ser ponto de passagem para a sua residência.

4. A PUBLICAÇÃO DO 1º. LIVRO E A “FUGA”PARA MARROCOS

Entretanto, tem o livrinho “Poemas Juvenis” a imprimir na tipografia “O Algarve”, em Faro, mas como só irá ficar pronto em 22-11-1947, encarrega o seu amigo Raul Veríssimo de o receber e distribuir, posto que tem um novo e importante projecto pessoal a cumprir e não pode esperar até àquela data.

Na verdade, uma vez casado, receando ser preso a todo o momento e sendo certo que o trabalho começava a escassear na vila, resolve “fugir” para Marrocos, - o que terá acontecido no fim do verão de 1947. Junta-se assim à saga de muitos e muitos olhanenses e naturais de outras terras do Algarve, fugidos ao desemprego. Parte com a sua noiva numa lancha, saveiro ou “enviada” no que seria uma espécie de “viagem de núpcias”arriscada, que poderia ter-se convertido numa “viagem para a morte”, sem que ambos tenham provado o mel e o fel dos anos vindouros

5. ARGENTINA – O SONHO, A OBRA, O DRAMA

Marrocos foi para ele um trampolim para um “salto”maior, embora tenha gostado do que viu e viveu nesta parte do Magreb. Para quem só viajara de Faro a Vila Real de Santo António e de Olhão a Lisboa, Marrocos, tão perto e tão diferente na fala, no vestuário, na paisagem e nos usos e costume, encantou-o. Sobre esse país, então um protectorado francês, escreveu um livro, Marruecos Hoi e nele situou a acção de outros, nomeadamente, La Aventura de Casablanca. Deu-lhe até a oportunidade de escrever vários artigos para a “Voz do Sul”, de Silves.

Mas o objectivo, o sonho, é alcançar a Argentina, onde vive e trabalha o pai, que não conhece. Chega, na companhia da mulher, em 22-03-1949, e fixa residência na província de Buenos Aires.


É Presidente da Argentina Juan Domingos Péron, cuja política tinha algo de comum com a do Estado Novo, à qual escapara.

Fugira do regime férreo português, mas não só teve de conviver com o peronismo como, entre os anos 1976 e 1983, que “tratar” com as ditaduras militares, que utilizaram os meios mais sujos para liquidar os adversários. Mas assistiu ainda ao movimento das Mães da Praça de Maio, que reclamou o castigo dos assassinos!

Talvez por isso, ao publicar, em 1953, o seu primeiro livro em língua castelhana, La Realidad Portuguesa y La Politica Dictatorial, substitui o seu nome pelo pseudónimo de S. Linofre e manda imprimi-lo em Montevideu (Uruguai).

Encontra o pai, que possui uma pequena fábrica, com o que ganha a vida. Trabalha – e a mulher, Silvina, também - para sustentar a casa. Lê e escreve nas horas vagas, que são sempre poucas. Ao mesmo tempo, vai procurando – e consegue – inserir-se nos meios literários e progressistas não só de Buenos Aires como do Brasil e Angola, além de manter os laços que o ligavam à revista “Vértice”, de Coimbra, desde os tempos da sua juventude, em Portugal. Colabora em cerca de 50 jornais e revistas de várias origens, nomeadamente: “Subúrbio”, “Princípios” e “Veladas”, da Argentina -sendo, desta última, secretário de redacção - revista SUL (Brasil), no “Diário Ressurge, Goa” e em “Cultura Angolana”. Além do mais, tem que estudar para dominar o castelhano, língua que passa a adoptar, por indispensável, quer para uso corrente quer porque escreve sobretudo para os argentinos ou latino-americanos.

De acordo com Júlio Fradinho, “O Simões tinha casado com a Literatura”. Na verdade, ele estava cheio de projectos para escrever livros e outros trabalhos literários para jornais e revistas. A sua biblioteca era constituída por 30.000 volumes. A Silvina, sua mulher, alegre, vivendo no “romântico”país do tango e do mítico Gardel, tinha outras motivações… Trabalhando como assalariada, sentia-se livre e decidiu abandonar o lar. Mais tarde, pede para voltar. Simões acede em recebê-la em sua casa, mas com “vidas separadas”. Ao fim de algum tempo, a situação torna-se insustentável. Ela fecha-se num quarto, recusando todo o auxílio que o Simões estava disposto a prestar-lhe. Para lhe dar os alimentos, teve de fazer um buraco na porta por onde os introduzisse. Configurando um estado de demência mental, ela acaba por ser internada, falecendo em 16-04-1980!

Habituado a escrever desde a juventude, é só na Argentina que publica os seus livros de prosa: novelas, romances, ensaio e uma peça de teatro.

Quantos livros escreveu ele na totalidade? Uma inventariação completa não está feita ainda. O autor, em 1987, confidencia ter escrito 20 livros. É certo que ainda publicou algumas obras mais antes da sua morte, mas também é sabido que um deles, pelo menos, foi reescrito. Mas uma coisa é ter escrito, outra é ter publicado.

Por exemplo, sabe-se - ele o disse -, que o manuscrito do DOM JUAN desapareceu por completo quando do assalto à Editorial Futuro, onde o livro se encontrava para impressão, no tempo do governo de José Maria Guido. Perda que foi um trauma para o autor, posto que considerava ser a melhor obra que até então escrevera. Por outro lado, andou hesitante quanto ao título dar a alguns dos seus livros. Por exemplo: La Aventura de Casablanca esteve para se chamar La Ficción y la Realidad de Pedro Mascareñas, nome da personagem principal, “um filho de Olhão”.
Pela minha parte, respondo por 16 livros publicados: Poemas Juvenis, editado em Portugal, 1947; La Realidad Portuguesa y La Política Dictatorial, editado em Montevideu, 1953;Vieja Crónica de Olhão, editado em Montevideu, 1956;Pequeños Burgueses, 1957, editado na Argentina, como aliás todos os que se seguem; La Mariposa y el Cuervo, 1959; Marruecos, Ayer – Hoy, 1961; El Cuervo, 1973;La Piscina, 1973;Judas y Minos, 1977; Los Gatos, 1980; La Maquina de los Sueños, 1982;La Novela Imposible, 1986; Discurso sobre Velásquez, 1987; El Milagro, 1987; Cesário Verde de Memoria, 1989 e La Aventura de Casablanca, 1992. Não afirmo que esta inventariação esteja completa, mas esta é a minha contribuição para se atingir esse objectivo. Sabe-se que projectava escrever sobre Robespierre, a queda do Salazarismo e o 25 de Abril de 1974, e, muito particularmente sobre Olhão! Olhão, que de uma maneira ou de outra está presente em vários dos seus livros!

Vieja Cronica de Olhão e Pequeños Burgueses fazem parte da lista dos livros proibidos pela Censura do Estado Novo. Estes dois primeiros livros de prosa inserem-se no movimento neo-realista português, que o escritor viveu antes de emigrar. Era o tempo de Alves Redol, de Soeiro Pereira Gomes, Faure da Rosa e dos algarvios Manuel do Nascimento, Leão Penedo, A. Vicente Campinas, etc. Mas o mundo não pára, é feito de mudança. A URSS, a “pátria do comunismo real”, dissolveu-se. Ele próprio, como ser vivo, mudou. O país que adoptou para viver é outro, outros os problemas que se põem a essa sociedade. Os novos livros reflectem o amadurecimento do escritor como homem físico, psicológico e social. A experiência obtida na terra natal, em Marrocos e na Argentina, com uns saltos a Montevideu, as leituras aturadas, a sua vida do dia-a-dia, em suma, são as fontes que formam o “estado onírico” que o leva a escrever cada novo livro. Para trás ficaram as escolas, os movimentos, as tendências literárias…

Depois de ter escrito cerca de 20 livros e o mais que já foi dito, está doente. Desde a juventude que fuma. Ele pertencia àquele tipo de intelectual que acredita que o tabaco e o café dão inspiração…Só quando entra em crise é que se lembra que tem um “sopro” no coração. Possivelmente morreu em consequência de um dos males ou dos dois simultaneamente. Provavelmente no ano em que em Portugal se publicava a tradução de Vieja Crónica de Olhão (9).


Cumprira-se assim a sentença do Pe. António Vieira: “Portugal para nascer, o mundo para morrer”.O exemplar do livro que lhe foi enviado para a última morada conhecida, veio devolvido. Se o tivesse recebido, poderia ter repudiado a afirmação “Portugal não gosta de mim”. Os amigos que cá deixou “acordaram” tarde, mas, como diz o nosso povo: “mais vale tarde que nunca!”. O novo passo a dar agora é a tradução e publicação dos restantes livros publicados em língua espanhola. Há que trazer este nosso escritor ao pleno conhecimento dos algarvios em particular e dos portugueses em geral. Se não é maldito, então tem de ser arrancado ao esquecimento!

(1) Do grupo fundador de “O Jovem”, Olhão, 1947.Emigrou para a Argentina em 1951.
(2) “Escola” citada in Visto e Ouvido…em Olhão…Reflexões “, de José Barbosa.
(3) Autor do ensaio “Breve Retrato Psico-Cultural de António Simões Júnior”, in SOL XXI, nº.23, de 12/199.
(4) Actualmente R. António Henrique Cabrita.
(5) In Los Gatos, de A.S.J.
(6) In “Juvenil”, órgão do Mud Juvenil, publicado a seguir à Jornada de 23-03-1947.
(7) In Pequena Monografia de Pechão, de Francisco Guerreiro.
(8) Segundo o depoimento de Jorge Temudo, também do grupo de “O Jovem”, Olhão, 1947.
(9) Livro que na tradução portuguesa - Gráfica do Algarve, 1996 – recebeu o título Antiga Crónica de Olhão.


Publicação de

João Brito Sousa

quinta-feira, 17 de abril de 2008

IMPRENSA / EXPRESSO


OS TESOUROS DO IRAQUE
texto de Clara Ferreira ALVES


NUMA DAS SALAS do Museu Britânico, perto dos centauros alados da Assíria e dos tesouros da Mesopotâmia, existe um mapa com fotografias na parede. Nele se assinala que a guerra do Iraque, as duas guerras e invasões do Iraque destruíram monumentos e vestígios de brilhantes civilizações da região, e que no lugar da cidade de Babilónia existe hoje um campo militar americano.

Vê-se na fotografia, numa terraplanagem, helicópteros e soldados armados vagueiam sobre os restos da cidade de Nabucodonosor. Nos desertos de areia e nas montanhas rochosas que fazem a fronteira com o Irão, à beira dos rios Tigre e Eufrates ou no Chat-al-Arab, nos confins com a

Turquia ou a Síria, em Bagdade ou em Bassorá (onde uma guerra civil alastra agora entre xiitas), tudo o que constituía a herança patrimonial e arqueológica de uma das regiões mais importantes da História do homem foi destruído, saqueado, bombardeado, queimado, pulverizado. Todos nos lembramos da famosa frase de Donald Rumsfeld quando lhe perguntaram a opinião sobre o saque do Museu de Bagdade, que ocorria ao mesmo tempo que a Casa Branca celebrava mais uma das suas vitórias militares libertadoras dos povos. "Stuff happens", disse o homem que inventou Guantánamo.

Esta é uma das consequências da guerra que os que ainda andam por aí a tentar defender com argumentos falaciosos a sua falha de razão nunca mencionam. Em 1999, estive em Babilónia. Ou no que restava então de Babilónia, a cidade ajudada a construir pelos judeus de Jerusalém no degredo. Uma cidade repartida por alguns dos maiores museus do mundo, entre eles o Museu Pergamon de Berlim, o Museu de Istambul e o Museu Britânico.

Os grifos e seres alados das paredes e do Corredor das Procissões que conduzia à Porta de Ishtar, uma das maravilhas do Mundo Antigo, estão reconstituídos em Berlim ou deixados com a patine do tempo noutros lugares, que não consegue ocultar a beleza dos tijolos pintados com pigmento amarelo e turquesa e que parecem cobertos de uma camada de verniz, uma técnica de revestimento semelhante à da loiça vidrada que preservou as cores e os desenhos.

Em 1999, com Saddam no poder, Babilónia estava deserta e parecia uma paisagem de Chirico, com o sol e a sombra a desenharem ângulos oblíquos que tornavam o conjunto arquitectónico uma cidade fantasma, onde um ou dois guardas fingiam vigiar os muros de tijolo e pediam um dólar. Não havia visitantes. Apenas os vestígios de uma reconstituição artificial dos muros da cidade, com tijolos de barro amassado, que tinha por objectivo devolver a Saddam Hussein a glória e esplendor de Babilónia de que ele se sentia o novo rei e o descendente directo de Nabuco.

A megalomania tinha acrescentado, mesmo ao lado da cidade e encostado aos seus muros periféricos, um gigantesco palácio de cor de betão, com a forma mais ou menos deformada de uma mastaba, impenetrável e guardado por tanques e solados armados. Supõe-se que Saddam gostava de ali se recolher para contemplar o crepúsculo dos deuses. A obra e a reconstituição de Babilónia, com a participação monetária e simbólica dos governos que transaccionavam com Saddam (todos os europeus e mais os americanos, antes de 1991), fora interrompida durante a primeira guerra do Golfo. Antes, durante a longa carnificina com o Irão, e quando o Iraque começou a deixar de ter dinheiro para o esforço de uma guerra que não conseguiu ganhar, Babilónia ficou para trás.

O palácio, hoje sede dos militares americanos, transformado em caserna e quartel-general, é a representação de tudo o que aconteceu de errado no Iraque.E quem quiser ver Babilónia ou o Código de Hamurabi (ou Ur, ou Ctesiphon), é melhor ir à Turquia, à Alemanha, a Londres, onde os muros de Babilónia suspiram no exílio que os protegeu da loucura humana. É pena que do Iraque vá sobrar tão pouco, como sobrou tão pouco no Afeganistão, cujas antiguidades e relíquias budistas menores ainda há bem pouco tempo eram vendidas embrulhadas em papel de jornal nos hotéis, antiquários e bazares de Islamabade por milhares de dólares. Muito do que foi roubado nos últimos anos foi roubado por americanos, muitos deles oficiais da CIA que passavam no aeroporto com caixas de alumínio carregadas de tesouros (eu vi, em Cabul) que escapavam ao controlo oficial.

E o que sobrar, fora o que os responsáveis e arqueólogos conseguiram esconder, terá de ser recomprado aos privados por estes países espoliados, se alguma vez saíram do atoleiro. Em Nova Iorque, muitos dos artefactos da Mesopotâmia, da Suméria e da Assíria continuam a ser vendidos a coleccionadores particulares. Pode ser que um dia os vejamos numa fundação ou num museu de um mecenas generoso. Pode ser que se percam para sempre no labirinto da ganância.

Este é um preço da guerra do Iraque de que ninguém fala, para não o comparar ao preço em vidas humanas. Nenhum país pode ser espoliado do seu passado ou da sua história, e os tesouros do Iraque ajudavam a fundar uma identidade comum que hoje se esboroa e se acaba. O Iraque, enquanto país, acabou. O Iraque será pelo menos três países e etnias que disputam uma interpretação religiosa e os poços de petróleo. Cinco anos mais tarde, vir dizer que valeu a pena esta guerra é uma obscenidade moral e intelectual.

Publicação de
João brito Sousa