terça-feira, 30 de novembro de 2010

A MINHA PRENDA DE NATAL

A MINHA PRENDA DE NATAL
Por João Brito Sousa

Éramos muito amigos e passamos muitos momentos de amena cavaqueira. Trabalhávamos na mesma empresa em secções diferentes e foi aí que nos conhecemos. Andávamos quase sempre juntos, pelo menos, quando podámos. E ríamo-nos muito com situações acriançadas que criávamos..O MF era um amigo de eleição. Jogava bem à bola, foi representar a empresa num jogo em Londres, era um senhor. Uma vez fomos ver o filme o Leão da Estrela no cinema Condes e andamos quinze dias seguidos a rir. Ele continuou na empresa enquanto eu segui para outras paragens. Muitos anos depois senti saudades desses tempos e liguei-lhe. Foi óptimo voltar a reviver uma amigo. Recordámos os nossos almoços à quinta feira no António, o celebérrimo caril de frango, que nunca comi melhor. E recordamos outras coisas. Telefonei outra vez e outra e outra até que um dia não nos entendemos por motivos que não os trago para aqui. Fiquei magoado comigo e com o meu amigo. A fim de uns tempos voltei a falar-lhe. Senti frieza na recepção. Compreendi. Mas há poucos dias o meu amigo enviou-me o mail cujo conteúdo vai a seguir.


fernando pessoa


"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.

Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.

Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!

- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.
E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.

Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a
sua vida isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!"




Foi a minha prenda de Natal.

Bom Natal para todos.

João Brito Sousa

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A FÉ DOS HOMENS

A FÉ DOS HOMENS
Por Rui Humberto


“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
E assim afirmo:
Deus continua a querer, o homem já não sonha e a obra já não nasce.

É verdade, Deus continua a querer, e por Deus não entendo aquele Ser intocável e inatingível que devemos temer e venerar, entendo-o como a Humanidade no seu todo, e cada um de nós enquanto indivíduos.
Indivíduos que vivem em sociedade, em família, que convivem com amigos, com conhecidos, com menos conhecidos com …
E contra mim falo, por vezes, a maior parte das vezes, não olhamos para o nosso lado, afastamos o olhar e afastamo-nos, é mais cómodo, mais “barato”. Sentimo-nos muito mais confortáveis no nosso egocentrismo e egoísmo barato, e muitas das vezes nem para nós próprios somos bons.
Perdemos o melhor da vida: a partilha.
A partilha de saberes e de experiências e muitas vezes do pouco ou do muito que temos. Cada vez mais é cada um por si e Deus por todos. Ninguém é generoso e com generoso não quero dizer esbanjador, quero dizer capaz de oferecer uma refeição a um desconhecido que não come há dias não olhando à cor, credo, raça, saber, género, idade, estatuto ou aspecto, mas vendo um Ser
Humano que merece comer metade do meu único pão.
Mas, ainda é mais barato distribuir um sorriso, uma palavra de ânimo, uma carícia, ainda que platónica, ou um elogio.
E isto é parte do meu sonho, não desiludir aqueles que me rodeiam, os meus filhos e a minha mulher, os meus pais, amigos e conhecidos. Não é tarefa fácil mas é deveras gratificante.

No entanto o Homem já não sonha. É mais barato, mais cómodo e mais seguro, sem riscos ou custos. E contra mim falo, por vezes baixo os braços, ou melhor, obrigam-me a baixar os braços, mas luto, com as forças físicas que já não tenho. Luto e continuo a sonhar. Os moinhos de vento existem e movem-se, movem-nos e movem a Humanidade e a sociedade. Temos é que manter a fé e não desistir perante a adversidade.
Quero que o homem volte a sonhar.

Estes poucos dizeres são o deixo por ora e espero com eles contribuir para que a Obra nasça.
Qualquer que ela seja, grande, pequena, assim, assim. Aqui deixo a minha disponibilidade. E é o somatório das nossas pequenas disponibilidades que faremos pequenas grandes obras. Não tenham dúvidas.
Sobre isto eu não tenho e não tenham dúvidas.

rhpositivo@yahoo.co

domingo, 28 de novembro de 2010

ENGº JOÃO PAULO SOUSA

HISTÓRIA DE UM PORTUGÊS DE MÉRITO


JOÃO PAULO SOUSA, nasceu na Senhora da Saúde, freguesia de S. Pedro, distrito e concelho de FARO. Frequentou a Escola Tomaz Cabreira onde fez o Curso de Formação de Serralheiros, com o Mestre Mendonça, onde aprendeu a trabalhar nas frezadoras, tornos, furadoras e outras máquinas.

Esta formação escolar foi muito importante para conseguir obter a posição que hoje ocupa na USNAVY, como principal responsável no sistema de travagem dos aviões que aterram nos porta aviões.

No exame de acesso, foram-lhe colocadas diversas peças para que reconstruísse determinado objecto. Metidas mãos à obra o Engº João Paulo detectou a falta de um parafuso. Foi ao torrno e fez um. Os outros não sabiam fazer, quase todos americanos.

No fim do exame, o examinador perguntou-lhe:- e o parafuso? Fiz no torno, respondeu o João Paulo. Quem te ensinou? Mestre Mendonça in Faro´s school.

APROVADO, disse o exaninador.

Este pormenor da vida do Engº João Paulo, depois de melhorada, vai ser objecto de um programa na rádio LAGOA, da autoria do Dr. Varela Pires, GRANDES PORTUGUESES, lá fora.

O Engº João Paulo, disse sim.

Votos de Bom Natal para todos. são os votos do

JBS

sábado, 27 de novembro de 2010

ENTREI

NOS CONFRADES DA POESIA COM ESTE POEMA,


VEJO-A EM TI

Nada entendo do que me queres dizer
Sorriste-me, talvez a querer dizer sim
Mas quem és; o que andas aqui a fazer
Na primeira vez que te vejo fico assim

Serás tu a vida? não entendo o teu olhar
E receio perder-me na tua voz melodiosa
Será que me olhas quando estás a olhar
Ou será outro motivo, mulher bondosa

Noto em ti um carisma multifacetado
E a tua presença é muito do meu agrado
Mas onde estou, que faço eu ao pé de ti?

Não sei se sonho ou se és tu que aí estás
Se trazes a felicidade não quero que vás
Porque é isso que procuro e vejo-a em ti.


João Brito Sousa

COMENTÁRIO NO BLOGUE DE DIMAGALHÃES

http://dimagalhaesartevida.blogspot.com

MEU CARO DIMAGALHÃES

Olhando seu blogue percebo melhor aquele poeta português, de nome António Aleixo, analfabeto, que escreveu.

Ser artista é ser alguém
Que belo que é ser artista
È ver as coisas mais além
Do que alcança a nossa vista

Efectivamente, meu caro Di, o seu é um trabalho de ,mérito

PELO QUE VI

Magalhães, você é mesmo um valor
Esteticamente falando, obviamente
Porque os seus trabalhos, sem favor
Agarram e prendem a atenção da gente

Pelo que vi, parece-me um cavalheiro
E assim, nestes versos que lhe envio
Deixo-lhe os cumprimentos, primeiro
E só depois lhe digo que muito aprecio

A sua arte, resultante do enorme talento
E sobretudo desse grande conhecimento
Que o senhor possui e traz dentro de si

Arte não está ao alcance de um qualquer
Está no coração e na alma de cada ser
E dentro do senhor, sim, está pelo que vi

Aceite um abraço do

João Brito Sousa
http://bracosaoalto.blogspot.com/
jbritosousa@sapo.pt

AOS MEUS AMIGOS

UM DIA A MAIORIA DE NÓS VAI SEPARAR-SE ...

Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos...
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido... Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre... Hoje não tenho mais tanta certeza disso. Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nos e-mails trocados...
Podemos nos telefonar... conversar algumas bobagens. Aí os dias vão passar... meses... anos... até este contato tornar-se cada vez mais raro. Vamos nos perder no tempo... Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão: Quem são aquelas pessoas? Diremos que eram nossos amigos. E... isso vai doer tanto!!!
Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida! A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...
Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo.
E entre lágrima nos abraçaremos... Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante. Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado...
E nos perderemos no tempo... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades...
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores... mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!!!

AOS MEUS AMIGOS

UM POEMA DE FERNANDO PESSOA


"Um dia a maioria de nós irá separar-se.Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhámos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, dasvésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.
Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, sejapelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro.

Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias eperguntarão:Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!
Vamo-nos perder no tempo...

Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias eperguntarão:Quem são aquelas pessoas?
Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!

- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!
A saudade vai apertar bem dentro do peito.Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

enviado por Mário Fitas

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

NO CAFÉ DOS VELHOS

(ESBOÇO DE ROMANCE)

NO CAFÉ DOS VELHOS

I
Era na rua Direita na Costa da Caparica, na que vai para a praia, que, no primeiro café à esquerda, se juntavam o Dr. Ventinho e mais uns quantos, formando uma espécie de tertúlia e digo espécie, porquanto apenas o Ventinho era possuidor de uma bagagem invulgar. Os outros nem por isso. Mas sabiam ouvir, uma particularidade interessante e cada vez menos usual. E que conta muito.
Ventinho desempenhara na vila a sua profissão de médico, era muito conceituado, um homem daqueles a que se pode chamar um homem bom. Mas era sobretudo um homem da cultura, patriótico quanto baste, conhecedor dos princípios e valores por que se deve reger a sociedade, um estilo eticamente correcto, acompanhava-o sempre um sorriso, os seus bons dias dados à população transmitiam uma corrente de grande harmonia social, o que levava as pessoas a terem pelo facultativo uma grande dose de amizade.
Era ainda poeta e fazia sonetos profundos. E conseguia sonhar escrevendo os seus poemas. Sobretudo poemas de amor e com muito amor. Era, não parecendo, um apaixonado da vida, apesar de possuir um ar melancólico. E, tal como Saramago, sabia que hoje estamos e amanhã podemos não estar.
A boa relação entre o Dr. Ventinho e os pescadores, respectivos familiares ou outros, começava no consultório do médico, onde, com uma paciência infinita, se inteirava dos males da clientela, jovem ou adulta. A simpatia de Ventinho era natural, tudo espontâneo, de tal modo que quando se soube do seu falecimento, toda a vila chorou, porque tinha morrido um homem bom.
Certa vez que entrei no acima citado café, o grupo estava reunido e falava de História Universal, assunto que o Dr. Ventinho adorava abordar. Além de História, Ventinho adorava também Literatura e falava dos autores clássicos com a propósito e sabedoria Prosa ou poesia, tanto fazia, pois a vida para Ventinho era estudar. Mas isto tudo depois da Medicina, que ele exercia com uma devoção enorme, quase paixão.
Eu conhecia Ventinho desde uma vez que precisei dos seus serviços. Ficámos bons conhecidos, quase amigos e cumprimentava-o sempre, quando me cruzava com ele na rua que ia dar á praia. Ventinho, que usava chapéu, um palhinhas no Verão e um de feltro lá pelos Invernos, balbuciava bons dias ou boas tardes e levava as mãos ao alto do cocuruto, simulando tirar o chapéu. Era um cavalheiro.
Quando entrei no café cumprimentei os presentes, especialmente Ventinho, que era o único que eu conhecia e recebi dele a respectiva contrapartida. Ia com um amigo e sentámo-nos numa mesa ao lado, e às tantas diz-me o meu amigo.
- Conheces o sujeito que está a falar?

(Cont)
João Brito Sousa

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

FORAM DOIS DOS NOSSOS

RECORDANDO


ZÉ RAIMUNDO E VITORIANO

FALECERAM

O VITORIANO era um amigo mas não é da minha geração. Bom amigo. Paz à sua alma.

ZÉ RAIMUNDO

É do meu tempo. Jogou à bola comigo e recordo sempre um jogo no campo do Martinho contra uns tipos de Faro. Ganhamos 3 /1 e o Zé Raimundo jogou à campeão. Era um defesa esquerdo de grande qualidade. Ia a todas. Alinhamos com Adelino Simão, Aníbal, Agostinho, Zé Marques e Raimundo. João e Cabo Santos. Henrique Rosa, Manuel, Renato e Rosendo.

Fizemos uma grande exibição.

A maior homenagem que posso ter feito ao Zé Raimundo foi colocá-lo no meu romance "COMO SE GOSTASSSE", já na última página, a minha personagem aparece na venda do Zé Raimundo e pergunta por alojamento. O Zé foi mostrar e perguntou à minha personagem: Gosta. E Lázaro, a minha persnagem,disse, sim, COMO SE GOSTASSE.

Há-de chegar a minha vez. Até lá.

Estou convosco.

Ab.

João

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A VIDA NA TV

AGORA, todos sabem tudo.

Ainda estou incredulo quanto ao que se passa na TV, acerca do que vai pelo mundo, para usar uma expressão antiga.

O que me espanta é ninguém ter previsto nada daquilo que se diz agora, ou seja, que vem aí uma catastrofe

Mas onde é que andaram estes cavalheiros que agora se mostram muito preocupados? Será que o mundo vai acabar ...

JBS

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A PRIMEIRA PÁGINA DO MEU QUINTO ROMANCE

FUI EU QUE ESCREVI MAS ACHO LINDO.

SEM TÍTULO, AINDA

São 7 horas e vinte minutos da tarde e vou começar o meu quinto romance. Sei apenas que já comecei a escrever. E agora não há hipótese de voltar para trás.. Falar de quê? Zero de ideias e quero escrever trezentas páginas. Uma por dia e no dia dos meus anos a obra vai chegar ao fim. Não tenho dúvidas nenhumas. E mais, até o posso acabar antes. Quando estou de maré escrevo com bastante fluidez até. Sou uma espécie de Torga nas fragas; aqui a poesia brota, costumava dizer esse “velho” combatente das letras, homem admirável que nunca se vergou, nem perante a vida nem perante nada, Torga é um exemplo a seguir, homem do norte do País, que discutiu a vida com a vida, numa luta incessante de desafio permanente, palmo a palmo, procurando os melhores argumentos para vencer, venceu umas vezes e perdeu outras, mas não se aguentou no último combate, aquele onde todos perdemos.
A vida não agradou a Torga, como não agradou a Raul Brandão, como penso não terá agradado nunca a ninguém. Insisto nisto porque entendo ser este o ângulo certo para a apreciar. A vida terá que ser vista por esta janela, pois estou convencido que muitas arbitrariedades que se têm processado seriam facilmente evitáveis. O verdadeiro valor da vida é precisamente não ter valor nenhum, na opinião de Torga.. Porque pode acabar de um momento para o outro sem se justificar e sem ter um pouco de sensibilidade para adiar essa momento. e sem respeito por um projecto que tínhamos começado, com todo o empenho e dedicação. Mas se ela quiser nada disto chega ao fim; nem projecto, nem empenho, nem vitória, nem nós, nem nada. Ela, a vida, é que é a mais forte. Devíamos todos saber disto porque estou convencido que nos tornaríamos mais humildes. E fazendo aquilo que mais gostamos poderíamos ter a esperança de ser felizes.
Eu, por exemplo gosto de escrever e procuro a felicidade por essa via. Haverá outras vias mas a minha, aquela onde me sinto melhor, é na convivência com o teclado. Num certo sentido, diria, que a minha forma de escrever ou aquilo que escrevo vai na direcção daquilo que eu gosto de ler. Escrevo e gosto do que escrevo. Mas diria que aprecio um romance simples, que fale das coisas simples da vida, porque a vida é o meu lema e entendo que deverá ser simples e se não for, temos a obrigação de a tornar simples. De forma a torná-la mais saborosa. No fundo, o que se pretende é vivermos uma vida próxima da vida e viver de bem com ela. Sorrir para ela. A vida vive-se levando-lhe emoções através das palavras. Mas precisamos de saber lidar com ela, de a saber ler, mais no sentido de a saber interpretar, mais de a perceber, que ao fim e ao cabo é tão difícil como a saber escrever. Eu disse sabê-la ler, entendido. Porque eu por mim procuro entendê-la saber escrever, luto por isso e sei que é um objectivo nunca conseguido. O escritor quer sempre mais, anseia, procura, despe-se de tudo para fazer o melhor. Ele e a noite debatem-se por uma conclusão. Victor Hugo começava a escrita da vida às oito da manhã, Teixeira de Pascoaes também escrevia de manhã, António Lobo Antunes iniciava os trabalhos às duas da tarde e Miguel Sousa Tavares ligava bem com a noite. Todos grandes talentos, grandes mestres.
Comecei a escrever por influência da professora primária. Senti que tinha jeito, ou julguei que tinha ou pensei que tinha e meti-me à estrada. Tive os meus mestres e descobri com Vergílio Ferreira que o escritor terá como missão fazer tocar a mensagem no coração do leitor, tinha que o pôr pensar, teria que o motivar para a vida, para a luta, para o desafio, para a vitória possível, porque a vitória total não existe, o que é isso de vitória, não há vitórias, há a ética, sim, esse talvez que possa conduzir a um estatuto de honra, de seriedade, de dignidade, dessas coisas todas que tornam um homem livre e decidido, frontal e ganhador, dos que arriscam. O escritor sabe disso e é dele a obrigação de estudar a matéria e ensinar. Não, não vou por aí, diz o poeta.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

OPINIÃO

FCPORTO 5 / SLBENFICA 0

O Campeão está encontrado, disse ...

O QUE É UM CAMPEÃO ?


Em futebol, não se é campeão por se ganhar 5/0 a um adversário. Um campeão é aquela instituição que, se ganhar por tal margem, não faz gaudio disso. Campeão é outra coisa, é a instituição que respeita os adversários e que tem uma postura, não direi irrepensível, mas digna.

Instituição digna é uma institução que tem nos seus corpos gerentes uma conduta diária e permanente que é reconhecida por todos como exemplar.

Uma instituição campeã não deixa que um dos seus corpos gerentes se deixe fotografar com o treinador da equipa adversária para ...

Uma instituição campeã não homenageia árbitros que prejudicam adversários em jornadas seguintes.

Uma instituição campeã apresenta indicadores de nobreza e não de dúvidas como consta no DN.

Uma instituição campeã educa os seus atletas não os defende quando els prevaricam.

Uma instituição campeã dá o exemplo, não atira pedras.

Esse campeão que dizem estar encontrado não tem postura de campeão.

É o que eu penso.


JBS

POEMA

COMEÇAR


Começar, seja ele o que for, é começar
É um trabalho que se vai iniciar agora
É ir por essa estrada nova e caminhar
E não desistir nunca até chegar a hora

Em que se vê luz no trabalho começado
Que nos faz vibrar e dá vida ao coração
Trabalho que começo nunca está acabado
Há sempre na alma do artista insatisfação

Por isso estou sempre começando a fazer
Qualquer coisa que me dê alegria e prazer
Mas a minha obra está sempre a começar.

Quero sempre melhorada a última que fiz
E oiço sempre o coração que me fala e diz
Que na verdade estamos sempre a começar …


João Brito Sousa

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CONVERSAS EM FAMÍLIA

COVERSAS EM FAMÍLIA
António Lobo Antunes


Acabei agora mesmo o segundo borrão do penúltimo capítulo do livro que estou a escrever. Se as coisas correrem normalmente em outubro ficará completo. E depois, claro, falta fazer tudo. Passei o verão inteiro nisto, quase não saí da mesa e sinto-me cansado e tonto. Ando com ele, a mata-cavalos, desde o dia 2 de Março, sem contar os quatro ou cinco meses anteriores de espera, anotações ocasionais, esboços de uma linha em que gastava horas, como gastei horas, de cotovelos no tampo e mãos nas bochechas, sem pensar, a esvaziar-me para o receber. A minha maneira de trabalhar mudou muito ao longo dos anos. Não faço um plano, começo praticamente sem nada, tacteio, às cegas, num nevoeiro interior, quando julgo haver encontrado uma direcção o livro muda, há dias em que consigo meia dúzia de linhas, dias em que consigo meia página, aí a partir da primeira metade as palavras começam a andar mais depressa e eu atrás delas, com a sensação de pegar na ponta da trela de um cão mais forte do que eu, que não cessa de puxar-me e me desequilibrar. Não entendo peva do mistério da criação, ignoro em absoluto de onde o material me vem. O meu problema, ao ler as primeiras versões, é tentar dar-me conta das possibilidades internas do texto e se vale a pena estruturá-lo
(tentar estruturá-lo)
ou não. Nunca tenho a certeza, vou progredindo através de versões sucessivas, parece-me ser água entornada buscando o seu caminho numa frincha do soalho. Vejo os livros libertos de mim, com uma lógica interna que é apenas sua, possuindo uma temperatura e uma densidade que escapam aos meus mecanismos lógicos, aos meus desejos, à minha vontade. Afigura-se-me óbvio que não são meus e, para ser inteiramente honesto, deviam ser publicados sem nome de autor. E depois o medo de rapar o fundo ao tacho, de a fonte ter secado, de não haver mais nada em mim e a minha vida ficar desprovida de nexo. O que faria eu se não escrevesse? Gostei de ser médico, há alturas em que a Medicina me dá saudade mas julgo que seria extremamente difícil voltar a confrontar-me com o sofrimento alheio e somá-lo ao que trago. De cada vez que vou a um hospital comovo-me, as salas de espera das consultas doem-me, as enfermarias doem-me, a minha incompreensão perante a morte dói-me. Ninguém foi feito para morrer e vi morrer bastante gente. Demasiada gente. Do António, daqui a uns tempos, ficará uma casa de palavras, sem a minha cara lá dentro. Resta-me esperar que seja habitável para os que entrem. A gente pensa que escreve para a eternidade mas pouquíssimas obras sobrevivem aos seus supostos autores. Por exemplo, de milhares de escritores franceses do século XX quantos resistem ainda? Dois: Céline e Proust. Tudo o mais desapareceu ou está desaparecendo inelutavelmente. Por exemplo, trezentos e tal anos após a morte de Shakespeare, quantos dramaturgos continuam a ser representados? Ibsen, Strindberg, Checov e é quase tudo. Dos americanos do mesmo século XX apenas Tennessee Williams resiste. As dúzias e dúzias de outros, alguns tão renomados (Arthur Miller, Thornton Wilder, Lillian Hellman, Saroyan, Albee, etc.) não cessam de desbotar-se a caminho de uma extinção inevitável. A mesma coisa com a Poesia, o Romance, o Ensaio, para falar nessas divisões absurdas. O grande crítico T. S. Eliot desapareceu, o grande poeta T. S. Eliot esfarela-se a olhos vistos. O tempo elimina quase tudo, fica uma areiazinha de frases. Se calhar de Chesterton e Bernard Shaw sobrará apenas um
Shaw
- Olhando para si até parece que há fome em Londres
ao que Shaw respondeu
- E olhando para si até parece que foi você que a causou.
No outro dia pus-me a olhar os livros na estante do meu pai: dúzias de nomes esquecidos. Do seu querido Oscar Wilde talvez dure uma ou outra piada, como resposta, à saída do clube, a um chato que lhe perguntava para que lado ia:
- Para o outro
respondeu Wilde que, moribundo, informou os amigos
- Entre mim e este papel de parede há uma luta terrível: um de nós vai morrer
e tenho pena, porque foi um dos primeiros escritores que amei. Tive aqui um francês que anda às voltas com uma obra acerca de mim: a cada autor que eu citava a quase invariável resposta era
- Mas já ninguém o lê
e citava autores de que gosto, que foram ou continuam a ser importantes para o meu critério, ele a insistir
- Mas já ninguém o lê
e eu tristíssimo, porque esta segunda morte, a daquilo que dedicaram a vida, é bem mais horrível que a primeira. Autores de mão segura, não borra-botas, e aí a gente procura-lhes os livros e, desalentadamente, compreende. A imortalidade, em Arte, é difícil de prever. Régio e Nemésio nasceram em 1901, há cinquenta anos Régio era imensamente popular, Nemésio conhecido pelas suas conversas na televisão. Quem imaginava, na altura, que a poesia de Régio ia sumir-se num rufo e a de Nemésio se mantém sem uma prega, e cresce? Eu penso: João Cabral de Melo Neto vai permanecer. E a seguir penso: quem sabe se não estou enganado? Os critérios de avaliação serão completamente diversos, os motivos que levam as pessoas a aderir a uma obra também, o movimento do gosto incessante. Bach levou cento e cinquenta anos esquecido até ser adoptado pelos românticos. Mas será isto importante, será isto realmente importante? Até que ponto todos os livros, de todos os autores, não formam um único, imenso livro, que principiou a ser escrito muito antes de nós e prosseguirá sem fim, interminável? Perguntas, perguntas. No fundo não me interessam muito: o que eu desejaria era deixar, mais ou menos acabada, a minha casa de palavras, por definição para sempre incompleta. E que o leitor se sentisse justificado e feliz lá dentro, rodeado de vozes que breve diálogo entre ambos, quando o enorme e gordíssimo Chesterton disse ao magro
Shaw
- Olhando para si até parece que há fome em Londres
ao que Shaw respondeu
- E olhando para si até parece que foi você que a causou.
No outro dia pus-me a olhar os livros na estante do meu pai: dúzias de nomes esquecidos. Do seu querido Oscar Wilde talvez dure uma ou outra piada, como resposta, à saída do clube, a um chato que lhe perguntava para que lado ia:
- Para o outro
respondeu Wilde que, moribundo, informou os amigos
- Entre mim e este papel de parede há uma luta terrível: um de nós vai morrer
e tenho pena, porque foi um dos primeiros escritores que amei. Tive aqui um francês que anda às voltas com uma obra acerca de mim: a cada autor que eu citava a quase invariável resposta era
- Mas já ninguém o lê
e citava autores de que gosto, que foram ou continuam a ser importantes para o meu critério, ele a insistir
- Mas já ninguém o lê
e eu tristíssimo, porque esta segunda morte, a daquilo que dedicaram a vida, é bem mais horrível que a primeira. Autores de mão segura, não borra-botas, e aí a gente procura-lhes os livros e, desalentadamente, compreende. A imortalidade, em Arte, é difícil de prever. Régio e Nemésio nasceram em 1901, há cinquenta anos Régio era imensamente popular, Nemésio conhecido pelas suas conversas na televisão. Quem imaginava, na altura, que a poesia de Régio ia sumir-se num rufo e a de Nemésio se mantém sem uma prega, e cresce? Eu penso: João Cabral de Melo Neto vai permanecer. E a seguir penso: quem sabe se não estou enganado? Os critérios de avaliação serão completamente diversos, os motivos que levam as pessoas a aderir a uma obra também, o movimento do gosto incessante. Bach levou cento e cinquenta anos esquecido até ser adoptado pelos românticos. Mas será isto importante, será isto realmente importante? Até que ponto todos os livros, de todos os autores, não formam um único, imenso livro, que principiou a ser escrito muito antes de nós e prosseguirá sem fim, interminável? Perguntas, perguntas. No fundo não me interessam muito: o que eu desejaria era deixar, mais ou menos acabada, a minha casa de palavras, por definição para sempre incompleta. E que o leitor se sentisse justificado e feliz lá dentro, rodeado de vozes que