segunda-feira, 19 de novembro de 2007

UM COMENTÁRIO COM DIREITO A POST

(a taberna também podia ser assim)


DO AMIGO ZÉ NEVES

do apcgorjeios.blogspot.com


O meu texto “AS VENDAS DOS BRACIAIS

recebeu por parte do meu amigo ADOLFO PINTO CONTREIRAS, lá dos Gorjões, um comentário muito simpático com o qual concordo e desde já agradeço.

Gostaria aqui de pintar um pouco a manta sobre o ADOLFO, porque é um homem que eu admiro e muito. Sabia da sua existência no Liceu em Faro, mas conheci-o melhor em Lisboa, quando ambos frequentávamos os Institutos académicos da nossa respectiva área profissional.

A ideia que tinha do ADOLFO é que era um cábula, mas essa ideia desvaneceu-se quando me chegou que fez o curso superior do Instituto Industrial sem qualquer reprovação e com boas notas. E soube também que fez uma excelente e competente carreira profissional.

Mas onde o ADOLFO mais me impressionou, foi num jogo de futebol entre o Nexense e o Patacão, no campo deste e há mais de quarenta e tal anos, quando ainda no aquecimento, o Adolfo recebeu uma bola no ar, acariciou-a com o pé que levantara, desceu a perna com a dita sobre a bota para o chão, e, com maestria e arte, ar compenetrado, olhou para a área , centrou e veio outro de cabeça e meteu-a na gaveta..

Nunca mais me esqueci disto e nesse lance consegui ver o exímio praticante de futebol que foi - que vi jogar mais vezes, claro- vi a honradez e respeito que disponibiliza na entrega a qualquer seu desempenho, profissional ou lúdico, vi o rigor que coloca em tudo o que faz, vi o elevado grau de exigência que coloca a si próprio, vi um homem de uma enorme disciplina interna. Em suma, vi ali um grande homem.

É assim que eu vejo o Adolfo, de tal maneira isento e exigente, que talvez a expressão “um comentário mito simpático” que escrevi na segunda linha, esteja um pouco mal metido, porque o Adolfo não faz favores a ninguém: O QUE É ..É.

Estou ler a sua obra de guerra que recomendo e qualquer dia direi alguma coisa. Trata-se duma obra poética arrojada mas muito bem conseguida. Em breve falarei dela aqui.

E é com muita honra que publico aqui no meu espaço o comentário do ADOLFO ao meu texto, como um hino ao campesinato donde eu e ele somos provenientes. E não nos envergonhamos disso. .

Não é assim meu caro ADOLFO?

Aí vai um abraço do

João Brito Sousa

PS- Falta-me um dado. Saber como era o ADOLFO na porrada com os outros, na escola primária e no Liceu. É um aspecto muito importante. Conta aí uma história.


SEGUE-SE O TEXTO DO ADOLFO


João,


Aqui nos Gorjões ainda subsistem duas "vendas-taberna" e duas "vendas-mercearia".O meu pai teve uma"venda-mercearia-taberna-padaria" durante mais de sessenta anos e eu fui menino e fiz-me rapaz nesse ambiente tal como o descreves. O livro de "apontamento" ou dos "fiados" ou dos "cães", foi necessário para além do fecho das portas dada a data de atrasados que continha.

Como dizes a "venda" nos meios rurais teve uma importância social extraordinária, pois foi, muitas vezes, local único de reunião e troca de opinião e experiências dos trabalhos do campo, de estradas, de negócios de frutos secos, de poesia popular (o A.Aleixo frequentava todas as tabernas desta área),e também de discussões políticas e sobre a guerra, local de discussão de ideias para criação de Sociedades Recreativas, festas para angariação de fundos para doentes pobres graves (tuberculose),ou outros bens locais, etc.

Na taberna as pessoas têm e sentem os mesmos problemas e outros mais que BB,e falam deles com os mesmos sentimentos de aprovação ou reprovação, com conhecimento de experiência feito, sem subtilezas de linguagem mas limpos, directos e sinceros. E são felizes ou infelizes como toda a gente porque a felicidade não se mede pelo bem estar, nem pela repimpada comodidade citadina, nem pelo saber refinado, nem por boas maneiras de falar, apresentar-se ou mostrar-se , nem por esperteza retórica, nem por ter muito ou ter pouco, nem por ser inteligente ou atrasado.

O querer cuidar da felicidade dos outros, ou querer-nos fazer felizes à força segundo conceitos de felicidade estranhos à nossa existência e consciência, foram os casos das várias utopias sociais que houveram e jamais deram bons resultados.

A taberna é tanto um mundo de vida feliz como infeliz tal com qualquer habitação pobre, remediada, rica ou chique de qualquer lugar do planeta .BB vislumbra exactamente isso quando diz que a taberna é um livro que ensina. Ora, porque raio de razão há-de ser só e sempre um professor infeliz?

Um abraço do Adolfo.

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