quinta-feira, 8 de novembro de 2007

CRÓNICA DA 1ª REPÚBLICA

(parlamento)

USOS E COSTUMES


A revolução de 5 de Outubro não altera o essencial da estrutura social portuguesa. Não sendo posta em causa a propriedade da riqueza (com excepção do caso específico da Igreja), as classes sociais dispõem-se de acordo com a ordem tradicional. Todavia dão-se profundas modificações quanto ao protagonismo dos diversos grupos sociais. É a derrocada da nobreza, que, sem fortuna e sem o proteccionismo da monarquia, perde de um dia para outro, regalias e influência.

A república é inequívoca a esse respeito: pela Constituição de 1911, são rejeitados os privilégios de nascimento e foros de nobreza e extintos os títulos nobiliárquicos e de conselho, assim como as ordens honoríficas com as suas prerrogativas.

Traumatizados pela sua despromoção a comuns cidadãos, dezenas de aristocratas, acompanhados de alguns elementos da classe média ligados ao poder monárquico, preferem ir para o estrangeiro conspirar contra o novo regime.

Desapareceram assim as grandes festas de salão, as concentrações de Verão, o convívio fino do S. Carlos, as oportunidades de exibir toilettes e intercambiar futilidades, a ostentação do luxo e do requinte. Sendo assim, as camadas sociais salientes são naturalmente as que apoiam a República, nomeadamente a classe média urbana: comerciantes, funcionários públicos, professores, empregados de balcão, escriturários, pequenos e médios proprietários e profissões liberais.

Há depois os pobres, que, mesmo desiludidos com o regime, é licitamente correcto serem enaltecidos, já que a revolução, pelo menos nas palavras, faz-se em seu nome.

João Brito Sousa

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