sexta-feira, 30 de novembro de 2007

AO POETA MANUEL MADEIRA



















(cesário verde, álvaro feijó e camilo pessanha)
CONVERSANDO COM UM POETA

Manuel Madeira é um poeta de qualidade. Mandei-lhe uns trabalhos e deu-me umas ideias. Ainda há pessoas assim, que dão alguma coisa aos outros.

A poesia deve conter emoção e ser actual. Deve ser macia para os declamadores se entenderem com ela.

Poesia é CAMIO PESSANHA,

Interrogação

Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.

Camilo Pessanha


Poesia é ÁLVARO FEIJÓ

Um Soneto de Amor da Hora Triste
Quando eu morrer — e hei de morrer primeiro
Do que tu — não deixes de fechar-me os olhos
Meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
E ver-te-ás de corpo inteiro.

Como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
Dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
Fecha-me os olhos com um beijo.

Farei a nebulosa travessia
E o rastro da minha barca
Segui-los-á em pensamento. Abarca

Nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
Ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus,

Poesia é Cesário Verrde

Eu e ela

Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distracção,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavalheiro de Flaublas...


Cesário Verde
A MINHA NOÇÃO DE POETA
Pessoa disse que o poeta é um fingidor. E eu concordo. Muitas vezes ao poeta cabe-lhe colocar-se no lugar do outro e fazer passar a ideia que os problemas dos outros são os seus.
Mas no fundo um poeta é apenas uma pessoa que tenha uma certa queda para expor a ideia dando-lhe uma certa graça e leveza, nunca deixando de ser autêntica.
O poeta capta mais que os outros porque está mais disponível.
Escrever poesia é ter um bom poder de síntese e ter um bom vocabulário. E depois há maneiras próprias de escrever donde sai o estilo.
Sou contra as modernices e sou a favor do perceptível. E contra as sílabas. A poesia não pode ter travões, a poesia é livre tem de ser livre no modo de se apresentar.
E sobretudo tazer ideias...
Assim.
ENCANTAMENTO
Esse teu vestido azul... que trazes colado ...
À formas do teu corpo... dão-lhe tal beleza
Que ao menor nobre sentimento fica enamorado
E com vontade de reagir perante a certeza
De que o que se viu chega para me convencer
Que está aí toda a verdade do real momento
Que será único nesta minha maneira de ver
E produz em mim todo esse encantamento...
João Brito Sousa

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