sábado, 24 de novembro de 2007

COMENTÁRIO COM DIREITO A POST

(é imperioso voltar à alfarrobeira)

AS HORTAS DO ALGARVE

por Arnaldo Silva


O seu insucesso. Causas e consequências.

Não sou, obviamente, um experimentado conhecedor da dura – em todos os sentidos – vida das explorações agrícolas nos anos cinquenta e sessenta em terras algarvias. O meu avô, não podendo viver dos rendimentos de umas terras de barrocal, ali para as bandas de Santa Catarina, fez a sua vida como caseiro de algumas “quintas/hortas” na Luz de Tavira e em Tavira.

No tempo em que o regime de exploração se pautava pelo “quinto” ou pelo “terço” do rendimento obtido

Desse pequeno conhecimento empírico de então bem como dos elementos que posteriormente fui colhendo, junto de outros familiares que igualmente viveram desse tipo de explorações, ficou-me a certeza de que o que aqui foi dito, tanto pelo Diogo como pelo Brito, corresponde a uma realidade bem concretizada.

1 – Capacidade de “desenrascanso”
Nós somos assim. Pouca visão do futuro, não o planeando. Quando o problema bater à porta, “logo se vê!”. “ A gente há-de arranjar uma solução!”.Foi assim; é assim; será assim. Como doença intratável e incurável que nos fará ficar sempre na cauda dos acontecimentos mundiais.Por esta razão, os motores para tirar a água dos poços chegaram tardiamente às nossas noras, os tractores nunca aí foram vistos e o sistema de rega “ao pé” foi coisa que nunca passou pela cabeça de quem levou gerações a fazer a rega manual, pelo sistema das leiras e que exigia uma tremenda mão de obra!Inovar para progredir não está no nosso imaginário!Este tema daria matéria para um “Tratado sobre o Comportamento de um Povo”. Fico por aqui, a ideia está dada.

2 – Individualismo exacerbado

Como consequência da tal “capacidade de desenrascanso” e não só, nós nunca pensamos em solicitar a ajuda do vizinho ou em aliarmo-nos a ele para a persecução conjunta de um objectivo comum. Com o “não só” quero deixar esta nota: um americano, quando vê o vizinho com um novo Cadillac, diz para consigo que um dia vaiconseguir ter um igual, trabalhando para isso; o português, rói-se de inveja, lamenta a “p…” de vida que tem e nada faz para a modificar. O chamado Estado Novo bem tentou iDesse pequeno conhecimento empírico de então bem como dos elementos que posteriormente fui colhendo, junto de outros familiares que igualmente viveram desse tipo de explorações, ficou-me a certeza de que o que aqui foi dito, tanto pelo Diogo como pelo Brito, corresponde a uma realidade bem concretizada

A análise do Brito está muito precisa, como compete a um bom economista. Pouco mais haverá a acrescentar no que se refere às causas do insucesso daquela actividade agrícola.O que lhe faltou a ele aduzir, em meu entender, são duas razões que se prendem com a característica do povo português, a saber implementar um certo espírito de corporativismo, mas não se foi muito longe.

E, quando a iniciativa de criar a tal cooperação não partia do Estado, então ela não surgia mesmo, por mais que a economia de cada exploração se afundasse!Os Grémios, as Cooperativas, as Casas do Povo apenas acudiam aos casos da agricultura de interesse geral e nacional. O trigo, o azeite, o vinho, a amêndoa.As produções hortícolas, essas não mereciam as atenções das Cooperativas.

Eram de “pequena” monta, muito familiares e localizadas e, além disso, perecíveis.Cada Horta vendia os seus produtos a intermediários que engrossavam as suas contas bancárias enquanto aquelas viam definhar cada dia os seus parcos rendimentos. Afundavam-se! Mas aliarem-se e criarem circuitos próprios de distribuição, não!” .

Não o fizeram. Morreram…Dois outros factores contribuíram com forte impacto para o fim dessas explorações. Por um lado, os descendentes dos agricultores daquele tempo, como é o meu caso, partiram para as cidades, na busca de um futuro melhor, deixando vazia a sucessão na exploração agrícola.

Por outro lado, o desenfreado desenvolvimento turístico da região, em conjunto com a incomensurável apetência pela praia de uma florescente burguesia daqueles anos, fomentou a construção de habitações para alojar a cada vez maior horda de veraneantes. Como inevitável consequência, a urbe invadiu o campo e este, indefeso, cansado de tão ingrato trabalho, aliciado pelo monte de “chorudos” maços de notas, sucumbiu! Naturalmente! Irremediavelmente!

Dê-se um passeio pela Rua 125, entre Monte Gordo e Vila Real. Está lá tudo “escarrapachado”!Mas “não há crise”! Os amigos espanhóis colocam cá todos os géneros que necessitamos para que não se morra de fome em terras lusas. É a “aldeia global” a funcionar. Só não sei aonde estes “aldeães” vão parar ou como vão continuar a viver!Talvez os políticos tenham uma ideia!

arnaldo silva
felizmente reformado

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