(Raul Brandão)
É PRIMAVERA
Por Raul Brandão
É PRIMAVERA
Por Raul Brandão
CHEGA Fevereiro.
È Primavera. Dá logo rebate a tojo bravio. A aspereza é a primeira a senti-lo.
O tempo está fúnebre. Ouço o ruído calamitoso das águas. Só os botões dos salgueiros estalaram. Nos galhos despidos entreabrem-se flocos friorentos e peludos.
Corre um vento glacial e as árvores encolheram-se transidas. Mas nesta frialdade sinto já ternura.
O ar de Fevereiro é outro: é morno. As rãs, de barriga no lodo, coaxam de satisfação, pegajosas e moles como a erva verde e húmida.
E, de um dia para o outro, crescem, encastoados na terra negra, fios de erva a reluzir.
O ar sabe bem; sabe a qualquer coisa de bravio.
Ao longe o sol trespassa os montes. Manhã de névoa e oiro gelado. Uma árvore nova cobre-se entontecida da primeira flor. Apressou-se, enganou-se... É uma haste de pele luzidia, três raminho abertos. E isto envolto em ternura tanto faz que se trate duma árvore como duma rapariga.
Sente-se nesta atmosfera húmida a seiva a inchar os botões túmidos das árvores. Volta a chuva gelada: a primavera vem com hesitações.
È Primavera.
Texto retirado de “Humus”
Recolha de
João Brito Sousa
Recolha de
João Brito Sousa
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