quarta-feira, 14 de novembro de 2007

CRÓNICA DAS SETE E DEZ

(o patacão ao domingo)
Estou sem assunto.

Ainda não levantei a persiana e escrevo à luz do candeeiro eléctrico. Antigamente não era assim, era a petróleo, não era João, ainda te lembras quando se partia a chaminé, levantávamos o pecal e rodávamos um pouco a manivela para a torcida subir e nos alumiar, para podermos ver fazer as contas e resolvermos os problemas que as nossas professoras primárias nos mandavam para casa..

João, aqui há dias, falando na nossa vida desses tempos antigos, acabaste por falar da D. Silvana, a professora aí do Patacão, e foi tão bonito ouvir tu falares bem da tua professora. Caiu-me bem na alma quando tu disseste... “ essa grande professora que foi a D. Silvana.” Mas no fim de contas, tu também foste grande porque tiveste a capacidade de reconhecer que a tua professora foi grande mulher e grande amiga, pois foi ela que te avisou que na vida há um perigo em cada esquina.

Os professores primários são assim... amigos, muito amigos dos seus alunos...

E a D. Feliciana, lembras-te? Vivia aí no Patacão e dava escola em Santa Bárbara de Nexe. Nunca mais a vi. E os Braciais também tinha um professor que era eu e dava escola em Almada.

Braciais e Patacão... sempre. O Braciais do Napoleão, do Zé Nunes e do Carlinhos, os filhos da Marçala, a parteira que ajudava a nascer os bebés. A minha Mãe quem ajudou foi a avó Brita. E depois quando os moços nasciam as vizinhas davam pacotes de arroz e de açúcar e pacotes de outras coisas...

A vida é poesia, JOÃO.

Repara nestes versos do poeta Roberto Afonso,


Quando a primeira lágrima aflorou
Nos meus olhos, divina claridade
A minha pátria aldeia alumiou
Duma luz triste, que era já saudade.

Humildes, pobres cousas, como eu sou

Um poeta que se preza como é o Roberto considera-se igual às coisas pobres, humildes e inúteis que existem por aí. Mas o Roberto Afonso é um grande poeta e escreve coisas lindas para nós.

A poesia continua a ser a arma do povo. E o Roberto Afonso sabe isso e não deve parar.

Onde eu gostava de estar agora era na pastelaria central do PATACÃO, a antiga tasca do BERNARDO PIRIQUITO, a tomar um café com o meu amigo João e o grande poeta que é o Roberto Afonso.

Mas isso um dia vai acontecer.. com o HENRIQUE ROSA taambém.

Já levantei a persiana. Resta-me desejar um bom dia para todos. E viva os Braciais e o Patacão.

SEMPRE..

João Brito Sousa.



1 comentário:

  1. Amigo João Brito Sousa:

    Sobre a quadra (primeira que faz parte de um soneto) que transcreve e que atribui à minha "triste" pessoa, devo dizer-lhe que há um ligeiro equívoco (compreensível pois ainda não abriu a persiana)... Já tive há algum tempo atrás este belo soneto do ilustre Teixeira de Pascoaes no meu Blog... Mas é obra do seu Autor e não minha... Pobre de mim que mal sei escrever o meu nome...

    Cumprimentos do

    Roberto Afonso

    Transcrevo todo o soneto do Poeta:

    Quando a primeira lágrima aflorou
    Nos meus olhos, divina claridade
    A minha pátria aldeia alumiou
    Duma luz triste, que era já saudade.

    Humildes, pobres cousas, como eu sou
    Dor acesa na vossa escuridade...
    Sou, em futuro, o tempo que passou-
    Em num, o antigo tempo é nova idade.

    Sou fraga da montanha, névoa astral,
    Quimérica figura matinal,
    Imagem de alma em terra modelada.

    Sou o homem de si mesmo fugitivo;
    Fantasma a delirar, mistério vivo,
    A loucura de Deus, o sonho e o nada.

    Teixeira de Pascoaes

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