terça-feira, 27 de novembro de 2007

LITERATURA



«A BOLSA DA AVÓ PALHAÇA»
De Baptista-Bastos

Já li o último de BB e continuo fã. Se bem li, o autor quis levar-nos aos locais da sua infância para nos dizer que “ um homem faz-se assim...”, perdendo uns lances, suportando outros e nos intervalos espreita as mamas das gajas, enfarda uns murros na tromba, era grande...pergunta o Pai.. .. e após algum (pouco tempo) enrola-se de novo no edredon não dando cavaco, como quem quis dizer: não te posso ensinar tudo; tens de aprender, pá

O livro é meigo, trata de coisas muito simples e trás à tona o grande desejo da avó, que era o de ir ao Dafundo de eléctrico. Vejam bem como está bem evidenciado o hoje considerada ridículo dessa viagem, que era tudo na vida da avó Palhaça.. .

O livro fala, à laia de ternas recordações, da escola primária, dos correios, da drogaria, do campo das Salésias, do chafariz, do carrilécrico-operário, das soleiras das portas do beco, dos pombos nos beirais, dos vasos de manjericos, dos bailaricos e da valsa, dos pêlos nas pernas das mulheres, do talho daquele “mangas” que tinha sido boxeur e fala de outras coisas mais, que muitos já se teriam esquecido e aí está a beleza do livro, que levará alguns a dizer... no meu tempo é que era...

Afinal o livro fala dos valores de toda a juventude de Lisboa. «Já foste às putas» é o valor maior.

A figura do João Linhares Barbosa, o letrista de fados vadios de Lisboa, que escreve todo o enredo e dá-lhe até o tom...que até poderia ser uma coisa assim... como este,

Deste-me um beijo e fugiste..
Mas eu fui-me embora também
Não mais te vi nem me viste
Talvez tenhas ido para o Além

Se foste ou não pouco interessa
E de um qualquer ponto de vista
A vida de um homem começa
Quando descobre que é artista

E o Balalaika coveiro foi preso...
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Portanto, o livro trata destas coisas simples e simultaneamente complicadas da vida.
As vizinhas chamavam-na «Eh, Palhaça! Eh, Maria Palhaça»
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A minha avó trouxera-me sempre no coração: agora, levava-me consigo dentro dos olhos.

Já não há avós como a avó Palhaça..«Ao despedir-se enfiava a mão na bolsa colocada por detrás do avental e dava-me umas moedas. «Come bolas de Berlim, dão grande sustento ao corpo». A bolsa tinha a forma de um oito...

A bolsa da avó Palhaça podia ser a bolsa da minha avó Brita que levava nela figos torrados e mos dava, dizendo, toma João meu menino....

E viva a vida.


João Brito Sousa

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