sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

CRÓNICA DE WASHINGTON


BOM ANO NOVO


ORGULHO-ME DE TER SIDO EU QUE O FIZ.
por DIOGO TARRETA


Este texto vai para o ADOLFO CONTREIRAS do ESQUADRÃO 149 e autor de "A GUERRA e os DIAS" e para o escritor JOÃO FERNANDES autor de "MATA e MORRO", porque ambos escreveram duas muito boas obras sobre a gerra do ULTRAMAR PORTUGUÊS.



Um pouco de memória

As experiências de nos ex - combatentes em Angola são tão diferentes como diferentes éramos nos mesmos!

Ha duas teses defensáveis no referente a Guerra ela própria e com argumentos fortes em ambas,

Nunca estive em zona de combate por muito tempo! Pertencia a companhia de caçadores 1521 que saiu do BI 18 de Ponta Delgada onde os soldados e cabos eram açorianos, oficiais e sargentos

da metrópole—aqui a primeira incongruência! Porque não seriam todos açorianos uma vez que existiam nos Açores oficiais e sargentos suficientes para os efectivos que de la saiam.

Éramos comandados pelo capitão José de Almeida Pinto Bandeira, hoje Brigadeiro reformado, homem recto oficial aprumado e de palavra seca.

Em Angola claro passamos por Luanda um mês, seguimos para o Lumege (Luso) dois meses para em seguida então sim, para um lugar definitivo—N’Riquinha no Leste por um ano.
N’Riquinha era lugar famoso pelo seu e isolamento, chamavam-lhe ”as terras do fim do mundo”-----o que e certo e que era esse o sentimento que se tinha, era um deserto, ali começa o deserto Calari, que se prolonga pela África do Sul, a agua íamo-la buscar ao rio Cuando, que distava do acampamento à volta de 10 quilómetros por entre as areias de difícil acesso! Abasteciam-nos de víveres e munições, uma vez por semana- a segunda feira via Nord atlas (barriga de jinguba…quem se lembra).

Vida difícil, não havia população alguma, vivíamos isolados entregues a nos próprios!

De Guerra ouvia-se falar que acontecia no norte, mas a zona acabou por entrar em ebulição a norte da N’Riquinha mais exactamente em Gago Coutinho, onde Savimbi abriu a frente leste do conflito.

Perdemos dois homens do pelotão que tínhamos em reforço ao batalhão de Gago Coutinho, foram emboscados quando regressavam de uma saída a caca- é necessário dizer que na zona o exercito era alimentado em carne grande parte pelo que se caçava e a caca abundava!

Haviam ordens restritas para abater só o necessário, e bom que se o diga.
Aos nossos dois mortos deixamos um pequeno memorial na N’Riquinha. Segundo já me informaram foi destruído após a independência. Orgulho-me de ter sido eu que o fiz.

Da nossa companhia faziam parte dois futuros políticos pós 25A.

O deputado José Manuel Carreira Marques que fez parte da assembleia constituinte e posteriormente se tornou autarca de Beja por onde ficou muito tempo, e o deputado Mendes Moderno de Pombal, também fez parte da constituinte. Já nesse tempo de denotava neles valores acima da media, mas para minha surpresa aparecem para a política em campos opostos ao que defendiam nesses tempos---a vida e assim.

Quando acabamos a missão no leste fomos colocados na barragem de Cambambe no Cuanza Norte, também ai um lugar pacífico! Passávamos os tempos livres no Dondo- antiga e primeira capital de Angola.
Vila movimentada e com população mista. Da Guerra também não havia sinais a não ser dos movimentos de tropas que utilizavam a Estrada principal.

Esta Estrada foi construída por um conterrâneo nosso o Bento Rodrigues do qual já falamos.

Por isso eu digo houve diferentes vivências de quem por lá passou na missão que ingloriamente nos foi imposta.

Não sei se estas minhas memórias tem algum interesse para o teu blog.

Segue a fotografia do memorial que atras menciono.
Diogo

O MEU COMENTÁRIO

Caro Diogo,

O teu trabalho acerca da guerrilha no Ultramar Português interessa-me muito, porque está muito bem escrito (qualquer pessoa o percebe) e vem mostrar que um homem se pode sentir orgulhoso por ter estado no campo . de batalha.

ORGULHO-ME DE TER SIDO EU QUE O FIZ (memorial na Riquinha) e uma frase linda que na verdade te deve proporcionar muita alegria.
Numa única palavra: GOSTEI DA TUA DESCRIÇÃO DE GUERRA.
recolha de
João Brito Sousa

2 comentários:

  1. Caro Diogo Tarreta,
    A guerra é uma das mais duras experiências da vida.Pode-se ter passado "quase" todo o tempo fora dela e levado bom e regalado tempo jumto das populações locais. Contudo basta aquele instante de ver tombados, de repente, os nossos amigos camaradas do dia a dia para sentir quão imoral e terrível é a guerra.
    Safos e passados muitos anos sobrevalorizamos as bos recordações e tudo o que a tropa foi como escola de valores, de camaradagem, entreajuda e amizade que nos ajudaram a saber sofrer e enfrentar ,sem abatimentos e com firmeza, as duras lutas e batalhas da vida civil.
    Bem podem os outros denegrir ou destruir o que fizemos com amor que para o autor será sempre um acto de orgulho para quem o comete sentidamente.
    Adolfo Contreiras

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  2. Agora que os anos já curaram ou disfarçaram as feridas causadas por essa experiencia que passamos , onde em alguns casos já só resta uma neblina a encobrir o que já não sabemos se foi sonho ou realidade, porque se calhar a nossa memória a obrigou a enterrar, è importante que se divulgue essa parte tão importante da nossa vida que até agora temos guardada apenas para nós próprios.É importante porque, há uns tempos a esta parte,se tem vindo a assistir a um esquecimento, de quem de direito, desta parte da nossa história, do mesmo modo que nos bancos da nossa escola nos foi omitida a história da final da monarquia e dos anos da primeira república...
    Esse " quem de direito" parece querer não só omitir como também denegrir as acções, os comportamentos, a idóneidade moral dos milhares de portugueses que participaram nesta guerra colonial de catorze anos, que abarcou várias gerações de jovens, dos milhares de mortos, dos muitos milhares de feridos e estropiados fisica e psiquicamente, que apenas foram cumprir um dever-O serviço Militar Obrigatório.
    Custa-me hoje ver aqueles que outrora se recusaram a cumprir o serviço militar obrigatório, não porque achassem que era ideológicamente incorrecto mas porque iam perder quatro anos da sua vida profissional, porque iam ficar afastados do seio das suas famílias ou pura e simplesmente por cobardia, virem a Terreiro desprezar, calar a face visivel desse período, que eu direi glorioso, da nossa história, oferecendo subsídios de miséria, que envergonham quem os recebe, como o pré envergonhava as praças que mensalmente formavam, se perfilavam e faziam continencia para receberem dois escudos...
    A história não se apaga, assume-se, um povo sem história não tem futuro...foi o que ensinei aos meus filhos. Uma vez mais, de cabeça bem erguida assumo a minha participação na Guerra Colonial.Não nos pudemos calar camaradas de armas.Bem hajam.
    Sousa Duarte- Um ex-combatente em Moçambique- 1972-1974

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