(natal no verão)
UM VOTO E UM DESEJO A CUMPRIR
Gostava mais do NATAL quando era puto. Era uma altura em que havia mais ilusões, havia muito espaço para viver ainda e dava para não se levar as coisas a sério. Era o que fosse. Era num tempo em que a gente podia imaginar.... e sorrir. A nossa forma de estar era não ligar puto a nada. O Natal só era Natal porque a tia Serafina fazia as empanadilhas com batata doce. E eu gostava muito daquilo ... e da tia Serafina também.
Na minha casa a minha Mãe nunca armou o presépio. Nunca lhe perguntei mas tenho quase a certeza que ela não percebia nada das imagens. Sabia efectivamente qual era o burro, as ovelhas, o palheiro... dessas coisas todas ela percebia. Mas não se atrevia a movimentar aquelas figurinhas. Penso que não tinha jeito..
Era uma mulher cómica a minha MÃE. Contava historias com graça e era carinhosa comigo. Uma vez, foi lá uma malta comer a casa, amigos do meu tio, parece-me e às tantas acabou-se a comida. E, mesmo com a panela vazia a minha Mãe perguntou para os convidados. Alguém quer mais?.. e um deles disse, não obrigado. Apanhei um susto dos diabos....
Nesse tempo, parece que o mês de Dezembro era mais simpático, apesar de mais frio, muito mais, um frio que dava nas orelhas da gente e que me obrigava a dormir com uma samarra vestida para me livrar dele, Agora, que já me esqueci desse frio todo, digo que o Dezembro desse tempo era mais simpático, mas se calhar não era. O que eu tinha era menos cinquenta e tal anos que tenho hoje..
Nesse alltura, subia a uma laranjeira mesmo em Dezembro que fosse e comia dez ou quinze laranjas descascadas à mão!... e depois ia dar de comer aos bezerros e às galinhas... que a minha Mãe possuía no galinheiro. Os ovos eram porreiros para cozinhar com tomate. A minha Mãe deixava aquilo torriscar um pouco Era bom... era muito bom e tenho saudades desses tempos e desses Natais que não eram nada...
Sim.. o sapatinho ia para a chaminé Eu punha logo umas botas grandes.. para receber muito.. e recebia tudo menos chocolates que era o que eu gostava. E depois ia queixar-me à minha Mãe, que se fartava de rir comigo.
Hoje já não me rio. Sinto-me um bocado com pena de mim. E ainda me pergunto se é mesmo Natal Olho à minha volta e não vejo as empanadilhas da Tia Serafina...E onde é que está o frio e as samarras para eu me vestir?.. Nem frio nem samarras!..
Então não é este o Natal que eu gosto...
Mas faço um voto e deixo um desejo.
UM BOM NATAL E UM BOM ANO PARA TODOS.
João Brito Sousa
Gostava mais do NATAL quando era puto. Era uma altura em que havia mais ilusões, havia muito espaço para viver ainda e dava para não se levar as coisas a sério. Era o que fosse. Era num tempo em que a gente podia imaginar.... e sorrir. A nossa forma de estar era não ligar puto a nada. O Natal só era Natal porque a tia Serafina fazia as empanadilhas com batata doce. E eu gostava muito daquilo ... e da tia Serafina também.
Na minha casa a minha Mãe nunca armou o presépio. Nunca lhe perguntei mas tenho quase a certeza que ela não percebia nada das imagens. Sabia efectivamente qual era o burro, as ovelhas, o palheiro... dessas coisas todas ela percebia. Mas não se atrevia a movimentar aquelas figurinhas. Penso que não tinha jeito..
Era uma mulher cómica a minha MÃE. Contava historias com graça e era carinhosa comigo. Uma vez, foi lá uma malta comer a casa, amigos do meu tio, parece-me e às tantas acabou-se a comida. E, mesmo com a panela vazia a minha Mãe perguntou para os convidados. Alguém quer mais?.. e um deles disse, não obrigado. Apanhei um susto dos diabos....
Nesse tempo, parece que o mês de Dezembro era mais simpático, apesar de mais frio, muito mais, um frio que dava nas orelhas da gente e que me obrigava a dormir com uma samarra vestida para me livrar dele, Agora, que já me esqueci desse frio todo, digo que o Dezembro desse tempo era mais simpático, mas se calhar não era. O que eu tinha era menos cinquenta e tal anos que tenho hoje..
Nesse alltura, subia a uma laranjeira mesmo em Dezembro que fosse e comia dez ou quinze laranjas descascadas à mão!... e depois ia dar de comer aos bezerros e às galinhas... que a minha Mãe possuía no galinheiro. Os ovos eram porreiros para cozinhar com tomate. A minha Mãe deixava aquilo torriscar um pouco Era bom... era muito bom e tenho saudades desses tempos e desses Natais que não eram nada...
Sim.. o sapatinho ia para a chaminé Eu punha logo umas botas grandes.. para receber muito.. e recebia tudo menos chocolates que era o que eu gostava. E depois ia queixar-me à minha Mãe, que se fartava de rir comigo.
Hoje já não me rio. Sinto-me um bocado com pena de mim. E ainda me pergunto se é mesmo Natal Olho à minha volta e não vejo as empanadilhas da Tia Serafina...E onde é que está o frio e as samarras para eu me vestir?.. Nem frio nem samarras!..
Então não é este o Natal que eu gosto...
Mas faço um voto e deixo um desejo.
UM BOM NATAL E UM BOM ANO PARA TODOS.
João Brito Sousa
Gostei muito deste seu texto, Sr.João Brito Sousa.Fez-me recuar no tempo, e recordar com saudade os Natais de antigamente.
ResponderEliminarComo antigo "costeleta" da década do 60, leio igualmente com muito agrado e alguma saudade,todas as referências que faz nos seus belos textos à Escola Industrial e Comercial de Faro.
Muito Obrigado
e Festas Felizes
A.Gabadinho
Pois é verdade!
ResponderEliminarBate à porta mais um Natal.
Época que sempre nos vai imbuindo de um estado de espírito muito peculiar, vá-se lá saber se é só pela tradição que vem de muito longe e nos foi passada pelos nossos progenitores ou se, simplesmente, a absorvemos porque, magicamente, paire nos ares desta festividade um não sei quê de indefinido, mas muito concreto que nos constagia.
É Natal! Assim, de simples. E nós sentimo-nos mais próximos do nosso próximo, mais amigo do nosso amigo, mais saudosos da meninice.
É Natal! E assim, simplesmente, nos lembramos mais dos familiares e amigos já desaparecidos e evocamos o que de bom com eles vivemos. Empanadilhas, filhoses, sapatinho, tudo nos vem à memória com a mais natural das naturalidades.
Por isso mesmo, pela facilidade dessas evocações, aqui quero deixar não só a retribuição do voto e do desejo do nosso amigo Brito mas torná-los extensivos a todos quantos por aqui entram.
BOM NATAL PARA TODOS!
Votos de Próspero Ano de 2008 do
arnaldo silva
felizmente reformado
PS - Eu fui colega de uns irmãos Gabadinho. Se é o caso do A.Gabadinho do comentário aqui inserido, um abraço muito especial para ele.
Não me lembro do Natal da ilusão e sonho dos livros de histórias contadas às crianças, os meus Pais sempre me disseram que o Pai natal era o Pai que com muito suor conseguia comprar as meias ou camisola que me era oferecida depois do jantar que juntava anualmente a família à volta daquela mesa à qual se abriam as asas para podermos caber todos os tios e os primos. Não havia também presépio, porque o meu Pai era ateu e portanto essas coisas do nascimento do Deus menino numa gruta, aquecido por um burro e uma vaca não passavam de uma boa treta da igreja , da igreja que na semana santa perdoava o pecado da gula aos ricos mediante o pagamento da bula, da igreja que na celebração das missas reservava os lugares da frente para os senhores importantes da terra, da igreja que primava por bons discursos e por práticas menos consentaneas com os mesmos.Era segundo ele( o meu pai )uma forma de levarem os pobres ao engano fazendo-os pensar que Jesus era um deles, e consequentemente era mais uma forma de aumentar o número de crentes.
ResponderEliminarpara mim o Natal foi sempre a festa da família, foi sempre o dia em que nos reuniamos, comiamos as filhós amassadas pela minha mãe , comiamos o galo de cabidela feito pelas minhas tias, o berbigão aberto ao natural regado com muito limão pelo meu Pai, sempre acompanhado de muita conversa, muitos dixotes, muitas anedotas, muito riso, muita Paz...Depois, eram distribuidas as prendas, havia abraços e beijos de agradecimento, de calor humano e com os olhos a quererem-se fechar de sono iamos para a cama.
Hoje passados já tantos anos, já sou Avô, continuei a tradição herdada, a tradição do Natal, a tradição da reunião da família, que as novas tecnologias fazem alargar a mesa de convivio aos familiares e amigos que se encontram a milhares de Km, com a ilusão para os mais novos da existencia do Pai Natal que desce para a sala da lareira por umas escadas em caracol carregado com um saco de prendas gritando "Ho Ho Ho "-Sou o Pai Natal , trago uma prenda para o menino David ".
Só de ver os olhos do menino, abertos de espanto, de alegria por estar dentro do seu sonho, com medo quase de lhe tocar e que o sonho deixasse de ser sonho, valem a pena estes momentos de ilusão.
Amigo Brito de Sousa, continuo a gostar do Natal,(seria bom que fosse Natal todos os dias), este ano também tu estás sentado à volta da minha mesa de confraternização. Um Feliz Natal para ti e para os teus. Um abraço. Sousa Duarte