terça-feira, 4 de dezembro de 2007

LITERATURA


TORGA, um grande escritor.

Texto dedicado ao Álvaro Magalhães..


TORGA

é indiscutivelmente um grande escritor. Um escritor é, fundamentalmente, um homem de carácter e com carácter. É um homem de rigor, que se assume, que respeita os outros, que tenta compreender o mundo que o rodeia, que só escreve sobre aquilo que sabe, que é tolerante e é simultaneamente um revoltado e um companheiro. Escritor é aquele que ensina e nos põe a pensar.

Folheio o DIÁRIO IV e leio a páginas 15. “Já uma vez tentei escrever da minha meninice mas não fui capaz de coisa de jeito. A infância não se repete, nem na lembrança nem na imaginação....”

Torga parece-me aqui um homem, melhor, um escritor disciplinado. Talvez que ele não queira recordar a infância, ou tenha vaga ideia dela, ou haverá outro motivo qualquer. É ele que diz, “que as feridas da minha alma não se curam. Quanto mais o tempo passa mais se avivam. É uma mágoa que não me deixa sorrir nem para dentro nem para fora”

Sabe-se que Torga não era um homem de fácil relacionamento, não ia a lugar nenhum, Lisboa inclusive, era na sua vida privada um homem muito senhor do seu nariz, esteve no Brasil em casa de tios, formou-se em Coimbra e aí montou escritório.

No Natal ia à terra, a S. Martinho de Anta e era ele que matava o porco e o esquartejava. Curioso que o Pai lhe chamava a atenção sobre determinadas coisas, ele que era cirurgião e não tinha do Pai o acordo quanto ao esquartejamento, olha lá... vê bem o que estás a fazer.. leva a faca ao cerro...

Torga adorava andar pelas serras, dizia . aqui os versos brotam. Era caçador de cartucheira à cinta para as perdizes e para as codornizes e ia ao mar pelos patos. Diz ele: “é o mesmo dia que se repete há anos, este de subir a serra com as perdizes à frente...”

Os diários de Torga, são pequenos contos, cada um deles com o seu conselho e o seu ponto e vista muito claramente expressos. É um observador das atitudes e comportamentos do homem nos seus mais ínfimos pormenores. É um homem de honra quando diz crer que a vida não tem sombra de interesse, concebida e vivida em termos de mentira e conveniência... a cada verdade corresponde um fruto e a cada mentira uma desilusão.

Este homem é escritor.

João Brito Sousa

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