segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

FARO; O LARGO DE S. SEBASTIÃO

(chalé MATEUS DA SILVEIRA)
O LARGO DE S. SEBASTIÃO.

O Largo desempenhou grande função social nas aldeias, vilas e cidades, pois era ali que, noutros tempos, se juntava gente aos magotes para comemorar qualquer coisa. O Largo era o centro das localidades e era através do Largo que o povo comunicava com o mundo, como diz Manuel da Fonseca em “o Fogo e as Cinzas”.

Era ali que os viajantes se apeavam das diligências e contavam as novidades. Também à falta de notícias, era aí que se inventava alguma coisa que se parecesse com a verdade. Nada a destruía; tinha vindo do Largo.

Estas crónicas que escrevo por puro prazer, para mim, constituem um elo de ligação à cidade que continuo a adorar, porque Faro é a minha cidade, a cidade que muito contribuiu para o estatuto de homem que hoje possuo.

Falar de Faro, constitui uma aproximação às origens, e na minha escrita por impulsos, apraz-me recordar locais e nomes de pessoas e contar algumas peripécias de outros tempos, que tenham acontecido comigo ou que tenha sido testemunha aí para essas bandas de S. Sebastião.

Quem entra em Faro e vem do Posto da Polícia de Viação e Trânsito em direcção ao refúgio Aboim Ascensão, à esquina da primeira rua à esquerda, que antigamente ia dar à estrada da Senhora da Saúde, ficava aí um estabelecimento comercial de comes e bebes e mercearia, salvo erro, cuja exploração pertencia a um polícia, cujo filho é o Zézinho “Polícia”, que me parece estar a residir em Coimbra e costumava andar aí com a gente.

Continuando em direcção ao Refúgio, primeira à direita é o Largo de S. Sebastião, zona de residência da minha colega de Magistério, a Professora Marciana. Gente “célebre” daí do meu tempo eram os irmãos Primitivo, o Jorge e o Teófilo, o Joaquim Padeiro (um rapaz adorável) o Jorge Tavares e o Ludovico, todos lá da Escola Comercial.

O Teófilo e o Ludovico eram excelentes jogadores de futebol, sendo o Ludovico até um super dotado na matéria. O Joaquim Padeiro evidenciou-se no andebol escolar, pois era detentor de um remate alto lá com o charuto.

Saindo de S. Sebastião em direcção a S. Pedro, fica à direita o Posto da GNR, onde nós, os da Escola Comercial íamos aos sábados aprender a manejar armas não sei para quê; era o serviço de Milícias.

Era aí que o Quinta Nova, um rapaz lá da Escola Comercial que tinha queda para militar, dava as suas instruções técnicas. Mas não matámos ninguém.

Segue-se depois à direita ainda, a cadeia antiga, onde esteve preso o Rui Rebola lá do Patacão, por ter sido apanhado pela polícia a conduzir um tractor agrícola sem carta de condução. Ainda me lembro de ir ver o Rui, aos sábados, mas não consegui entrar na cadeia, vi-o cá de fora. Ao lado da cadeia há ali uma capela onde ficam uns cadáveres à espera do enterro.

Foi de lá que saíram os funerais do Xico Zambujal, grande figura de professor e de artista de Faro e de pessoal ali do Patacão, entre os quais o meu padrasto. Como me competia, estive lá no funeral dele e o senhor padre, que acompanhou a cerimónia final, teve um discurso deste tipo:

Tens muito dinheiro...olha (e com o indicador apontava para o caixão...), como que a dizer que isso não vale de nada, tens ar condicionado?... e apontava, tem isto tens aquilo e apontava sempre. Saí de lá convicto que somos mesmo pó e que não valemos nada.
Continuando, agora à esquerda, ficava aí a sapataria Limpinho, cujo “boss” era casado com a Teresinha, que tinha sido minha mestra de escola paga, na Senhora da Saúde. E seguindo, estava agora à esquerda uma casa que recebia raparigas estudantes e depois entrava-se no Largo de S. Pedro, onde está a Igreja onde eu fui baptizado pois sou natural de S. Pedro e afilhado do Padre Zé Gomes.

Faro é a minha cidade. Vamos continuar a falar dela. Farense, sempre.

Por
João Brito de Sousa

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