sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

GORJÕES ANTIGO

(não é os Gorjões. Mas podia até ser)

GORJÕES ANTIGO, OS BAILES
(texto retirado do APCgorjeios)


Segundo o Tio Cascalheira, que já conta 86 anos e que em rapaz corria os bailes todos das redondezas porque era bom dançarino e namoradeiro, houve aqui no nosso lugar muitas casas "que traziam balho" no seu tempo, princípios dos anos 30 do século passado.Era já rapazote, entre 12-15 anos, e diz que o primeiro baile de que se lembra e frequentou foi o do "Tio João Apolo Cigano no armazém da Isabelinha", hoje chamado "armazem do Zé Caiado", no desvio

para a Goldra de Cima, e que era propriedade de António de Jesus.

Depois começou a frequentar o baile no armazém do meu tio João Pinto, mais tarde do meu tio Adelino Pinto após a morte do irmão, aqui no cruzamento do lugar do Alto, corria o ano de 1935-36.

Nesta altura, também trazia baile o "Dólas" (Joaquim de Jesus) no seu armazém novo no lugar do Poço Arranhado. Nos finais da década de 30 traziam baile o Tio Sebastião, no lugar de Santa Catarina, e o seu genro Tio António Veneranda aqui próximo do Alto. Lembra-se o Tio Cascalheira que ainda foi ao baile no armazém do Zé Bento, no desvio para a Goldra de Baixo e Loulé, e que quem trazia o baile era o Tio Manel Sobrado e Xico Pedro "o Bravo", grandes ases do "jogo do teso".

No princípio dos anos 40, juntaram-se aqui no lugar do Alto, que já se tornara a centralidade do sítio, alguns Mestres pedreiros, ferreiros, capatazes de estradas, barbeiros, carpinteiros, proprietários de sequeiro, acordeonistas, etc., que tinham em comum ter frequentado a escola e sabiam ler e escrever escorreitamente, alguns com a 4ª classe de 6 anos tirada na 1ª república, outros tinham estado em França para combater nas trincheiras da Flandres em La Lys, os quais pertenciam não só a uma nova geração como a uma geração de novos conhecimentos, novos costumes e modernidades.

Estes homens juntaram muito tempo e esforços a reunir e organizar todos papéis necessários para requerer oficialmente e abrir legalmente uma Sociedade Recreativa Gorjonense em 1943, em plena 2ª guerra mundial.

Com a abertura pública, a sócios e não sócios, da SRG terminaram os bailes à moda antiga, em armazéns sem regras, onde se ia "balhar", "beber à homem" e no final jogar ao "jogo do teso" para acabar tudo à bordoada depois de mandarem as mulheres e as moças para casa. Foi um grande passo civilizacional e social para o sítio, embora tenham ficado para trás os bailes de roda e bailes mandados primeiro e os bailes de concertina depois. Nascera os bailes abrilhantados por famosos acordeonistas locais, onde todos deviam apresentar-se e comportar-se com "preceito", não era permitida a entrada a bebados, cuspir no chão ou ter o chapéu na cabeça na sala de baile.

As moças começaram a fazer permanentes, os moços a fazer ondas e usar brilhantina e eram motivo de chacota se vestiam peúgas ou sapatos rotos. Os pares podiam dançar mais apertados e as pernas peludas das moças deixaram de ser sexualmente atractivas.

Hoje o Grupo Folclórico e Etnográfico Gorjonense ao representar os bailes de roda e mandados de antigamente, dá-nos uma idéia acéptica dessas danças, jamais lhes restituirá o seu ambiente próprio à luz do petróleo, ao cheiro do vinho e aguardente e do suor dos corpos sujos de terra.

João Brito Sousa

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