sexta-feira, 28 de março de 2008

POLÍTICA INTERNACIONAL


DA IMPRENSA/Expresso

TIBETE

A crise no Tibete prova que a China teima em recorrer a velhas tácticas que a impedem de crescer.
A ascensão da China é a grande história política e económica dos nossos tempos. No cerne desta questão está um sonho absolutamente extraordinário - transformar a China, um país caótico, extremamente violento, pobre, rural e faminto durante o século XIX e XX, numa potência mundial num curto espaço de décadas. Este sonho envolve números extraordinários. E envolve também uma série de dilemas políticos bastante exigentes. Os números e os dilemas ficaram bastante claros na semana que agora acaba.

O ‘The Economist’ da semana passada incluía um estudo sobre o tremendo apetite chinês por matérias-primas. Nos últimos anos, a busca de Pequim por petróleo, gás natural, carvão e metais tem sido incessante. As necessidades da economia chinesa explicam este enorme apetite. A revista inglesa fala em números que nos fazem pensar. A China consome actualmente metade do cimento, um terço do aço e mais de um quarto do alumínio mundial. Se olharmos para as importações de minério de ferro, vemos que elas têm aumentado em média 27% ao ano nos últimos quatro anos. As necessidades chinesas de carvão são tão grandes que em Junho do ano passado havia uma bicha de 79 navios no porto australiano de Newcastle à espera de vez para carregar.

A Agência Internacional de Energia estima que daqui a vinte e dois anos a China terá de triplicar as suas importações de petróleo.

Os números do ‘The Economist’ mostram que uma parte do sonho chinês implica o fim da sua autonomia económica internacional. Depois de um estudo exaustivo da ascensão das grandes potências ao longo da história e daquilo que aconteceu em Singapura, Hong Kong e Taiwan, a liderança chinesa concluiu que é realmente possível ascender à condição de potência mundial nas próximas décadas. Para que esta ascensão seja uma realidade, Pequim precisa de conseguir quatro coisas ao mesmo tempo.

A primeira é um longo período de paz com as principais potências internacionais. A segunda é uma espécie de enorme aceleração da história da economia e sociedade chinesa. Para os decisores chineses, esta aceleração é extremamente arriscada do ponto de vista político mas é também essencial para a transformação do país. No coração desta transformação está a rápida modernização da economia, a saída dos campos e a vinda para as cidades chinesas de quase quatrocentos milhões de pessoas nos últimos anos.

Os números desta enorme migração interna vão continuar a aumentar nos próximos anos, e tal só será viável do ponto de vista político se continuar a existir crescimento económico e empregos.

A terceira coisa que é essencial para Pequim é a modernização de toda a sua rede de infra-estruturas, de maneira a tornar o rapidíssimo processo de urbanização apetecível para a nova classe média do país. Esta classe média precisa de casas, escolas, hospitais, estradas, pontes, aeroportos e linhas de caminho-de-ferro. Por último, a ascensão e a prosperidade chinesa dependem cada vez mais da progressiva integração no sistema de regras e instituições do capitalismo internacional. Estas regras e instituições são cruciais para que a China continue a poder exportar os seus produtos para todo o mundo.

Ao nível político, todavia, a China não está nada interessada em prescindir da sua autonomia interna. A furiosa reacção de Pequim aos distúrbios, manifestações e protestos que se tem vindo a realizar no Tibete nas últimas duas semanas mostram isso mesmo. Esta autonomia faz, por assim dizer, parte do código genético do regime chinês. O problema, como os últimos dias estão a mostrar, é que é cada vez mais difícil manter e praticar esta autonomia de uma forma tradicional.

Do ponto de vista da liderança chinesa, o que está a acontecer no Tibete é um enorme embaraço político. A poucos meses do início dos Jogos Olímpicos, um acontecimento crucial para o sonho chinês, a última coisa que Pequim precisa é de um desafio claro à sua autoridade política e prestígio interno. Em tempos não muito distantes, digamos 1989, Pequim resolveria o problema de Tibete de uma forma rápida, brutal e sangrenta. Na véspera dos Jogos Olímpicos, o preço político de uma opção destas seria exorbitante mesmo para os decisores mais duros de Pequim.

Os manifestantes dentro e fora do Tibete sabem isso muito bem. A oportunidade de uns é a frustração dos outros.

A edição do ‘The Economist’ e os acontecimentos no Tibete mostram a tensão que existe no coração do extraordinário sonho chinês. Este sonho envolve uma enorme convulsão social e económica. Esta convulsão envolve riscos políticos enormes e só será ultrapassada através de uma espécie de um grande mergulho no sistema económico internacional. O sonho também tem envolvido uma espécie de surdez e indiferença em relação ao exterior. Manter estas duas partes do sonho em equilíbrio será cada vez mais difícil para Pequim. Digamos que esta semana foi um bom resumo dos desafios e dilemas que os decisores chineses terão de enfrentar nos próximos anos.

Vinte e cinco anos depois

E se as pessoas livres pudessem viver seguras no conhecimento de que a sua segurança não assentava na ameaça de uma retaliação dos EUA para dissuadir um ataque soviético, que nós poderíamos interceptar e destruir mísseis balísticos estratégicos antes de eles chegarem ao nosso solo ou ao solo dos nossos aliados?”. A 23 de Março de 1983, Ronald Reagan chocou praticamente toda a gente - os Democratas, grande parte da sua Administração, as chefias militares no Pentágono, os aliados europeus e a liderança soviética - ao defender que os sistemas de defesa contra mísseis balísticos podiam e deviam desempenhar um papel fundamental na segurança internacional.. Vinte e cinco anos depois, tudo indica que este tipo de defesas virão a desempenhar um importante papel geopolítico e militar na defesa dos países europeus.

Publicação de
João brito Sousa

2 comentários:

  1. FROM WASHINGTON

    Bom dia

    Os ultimos dias teem trazido a' tona de agua um dos espinhos mais pungentes e gritos de liberdade deste principio de seculo se bem que a situacao se arrasta ha' bem mais tempo;nos pincaros dos himalaias um povo pobre vive subjogado a, outro ainda mais pobre pelo menos no que respeita ao seu direito de autodeterminacao......
    nao sou um "expert" na politica chinesa mas, um observador atento isso sou.
    Visitei a China em tres ocasioes diferentes ,totalizandomais ou menos mes e meio...mais propiamente quarenta dias....nao e' muito mas foi o suficiente para ficar com uma ideia abalizada em como um ocidental ve "o monstro".
    Uma sociedade pobre, pauperrima aos nossos niveis do ocidente ou japao.Ha dois anos quando la' me desloquei pela ultima vez ,falando com os guias turisticos que sempre olhavam sobre os ombros a' direita e a' esquerda antes de abrir a boca, informavam que o salario me'dio de um chines eram quarenta dollares!Claro que ha' milionarios....mas quantos num universo de de 1 biliao e duzentos milhoes de seres?...Bilionario e' o PCC.
    Dono de um em cada dez carros em transito...e dos grandes e luxoosos!
    Aqui surge a pergunta chave :Onde podem os chineses melhorar a situacao economica dos Tibetanos?...A miseria e' generalisada
    O capitalismo desenfreado,sem rei nem Roque campeia na rua.....no comercio de miseria da venda de "souvenirs"...gente andrajosa vendendo o velho livro dos ensinamentos de MAO...eu tenho tres ou quatr e ofereci uns dez a amigos saudosistas!!!!!Rlogios de todas as marcas ,falsos vendem-se a's caixas nos sitios onde se passeiam os ocidentais e japoneses.
    Centrais atomicas---sacrilegio dos sacrilegios para os ambientaistas ali estao a' beira das grandes cidades ....criancas banhando-se nas aguas mornas do arrefecimento das mesmas...Nao me digam que e' impossivel...eu vi
    Que podem os chineses levar aos tibetanos?HONG-KONG,CHANGAY?...Nao podem ser transportadas para o interior!!!Pekim?A cidade mais suja que ate hoje vizitei?!Vao la,agora com a politica da porta aberta do PCC da' para ver.
    O trabalho escravo existe,..esta' la'!Sindicato? oque e isso?O PCCsabe o que e' bom para os trabalhadores chineses
    Um pouco de vergonha,isso sim faria falta aos dirigentes da classe previlegiada que oiligarqicamente governa o MONSTRO com pes de barro.
    um abraco joao...se estou pecando e' por defeito
    ate ja'

    DIOGO.

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  2. MEU CARO AMIGO,

    Muito bom texto e sério. Gostava de ter aqui o Figueiras para colaborar connosco.


    Um abraço.

    João Brito Sousa

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