sexta-feira, 28 de março de 2008

IMPRENSA/JN PORTO


O CANTINHO DO PINA

Por outras, palavras,
Manuel, António, Pina

O arcebispo de Pamplona, Fernando Sebastián, aproveitou recentemente a Sexta-Feira Santa para exortar os católicos a aceitar a morte sem medo do sofrimento e a recusar cuidados paliativos. Assim seguiriam o exemplo de Cristo, "que morreu sem cuidados paliativos".

O sofrimento, que, em boa parte do Antigo Testamento, é escândalo e maldição de que os homens serão libertados pelo Messias, transforma-se, no Novo Testamento, em beatitude a partir do exemplo de Cristo, que, "em vez da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz" (Hb 12,2). Até ao ponto de S. Paulo dizer que se "compraz (…) com o sofrimento e a angústia" (2 Co 12, 10).

Muita da oposição da Igreja Católica à eutanásia (mesmo a passiva) funda-se nas alegadas virtudes redentoras do sofrimento. Daí até a aspirina ou o ben-u-ron serem criações do demónio vai um pequeno passo teológico que clérigos integristas como o de Pamplona não hesitam em dar.

Para quem não for suficientemente santo é, porém, difícil ver beatitude numa dor de dentes, num cancro terminal como o de Chantal Sébire ou na doença de Alzheimer de Hugo Claus. Não se inconformou Cristo na cruz "Pai, pai, por que me abandonaste?". Por que haviam a professora francesa e o escritor belga de se ter conformado com o seu inútil sofrimento

Publicação de

Jooão Brito Sousa

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