terça-feira, 4 de março de 2008

FARO; FIGURAS E FACTOS

(Casimiro de Brito. POETA, COSTELETA e FARENSE)


O RAFINA, O PAPA ARROZ E O MÁ LÍNGUA.

Ao ler o livro do Eduardo Brazão Gonçalves, verifico que há tantas coisas que eu desconhecia de Faro, começando logo pelo autor, estranhando eu próprio isso, uma vez que frequentei a cidade anos seguidos. Todavia, é minha intenção conhecê-lo logo que possível, por me parecer uma pessoa muito interessada pelas coisas da cidade o que, nisso, tem o meu aval.

Não conheci o Rafina ,o moço de fretes já idoso que trabalhava na estação de caminho de ferro da cidade, quando em 41 o Eduardo Brazão aí desembarcou. Nem o Rafina nem os outros dois. E penso que é um assunto interessante este, uma vez que as novas gerações não assistiram ao desempenho dessas profissões, que havia aí há uns anos a atrás.

Os moços de fretes usavam um boné especial, em cuja zona frontal estava colocada uma chapa em metal com um número que correspondia a não sei quê, o que constituía o sinal de identificação da profissão, juntamente com umas cordas que traziam arrumadas em argola, que enfiavam no braço segurando-as ao ombro.

O diálogo desses cavalheiros, está muito bem descrito na obra ”APARIÇÃO” de Vergílio Ferreira, na sua chegada à estação de caminho de ferro de Évora, quando para aí foi leccionar. Dessa profissão, ainda se vêm por aí umas reminiscências mas coisa pouca.

Moço de fretes ou galegos, era como também se chamavam a estes profissionais, porque o trabalho que faziam era bastante duro.

De referir que a utilização deste termo galego era tida como perjurativa no contexto social e gerou grande polémica no País vizinho, obrigando o filólogo Roman Raña a solicitar à Real Academia Espanhola, a eliminação imediata dessa palavra, que, em termos históricos e sociais, constituía motivo de grande indignação para a Galiza".

O poeta Salvador Garcia Bodaño, membro da Real Academia Galega, de igual modo manifesta descontentamento pelo que julga ser uma "campanha de desprestígio para o povo galego". "É uma injustiça histórica", diz. A campanha contra os galegos é antiga, "vem do tempo em que os nobres de Castela desprestigiavam a Galiza e o seu povo".
Por outro lado, os dicionários portugueses, dizem acerca do vizinho galego que é moço de fretes...". Na 8ª edição do Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, não há qualquer acepção pejorativa da palavra galego. No Domingos Barreira, uma edição de 1984, além de "moço de fretes", galego é "ordinário; fraco; de pequeno valor". O que convenhamos não é nada simpático... como foram o Rafina e os colegas.

Ou talvez não.

João Brito Sousa

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