domingo, 30 de março de 2008

A GRANDE VERDADE DA VIDA


A VIDA É UM CRAVO VERMELHO

POESIA ETERNA
de CURVO SEMEDO
O Velho, o Rapaz e o Burro

O Mundo ralha de tudo,
Tenha ou não tenha razão,
Quero contar uma história
Em prova desta asserção.
Partia um velho campónio
Do seu monte ao povoado,
Levava um neto que tinha
No seu burrinho montado:
Encontra uns homens que dizem:
"Olha aquela que tal é!
Montado o rapaz que é forte,
E o velho trôpego a pé."
"Tapemos a boca ao mundo",
O velho disse: "Rapaz,
Desde do burro, qu'eu monto,
E vem caminhando atrás."
Monta-se, mas dizer ouve:
"Que patetice tão rata!
O tamanhão de burrinho,
E o pobre pequeno à pata."
"Eu me apeio", dis prudente
O velho de boa-fé,
"Vá o burro sem carrego,
E vamos ambos a pé."
Apeiam-se, e outros lhe dizem:
"Toleirões, calcando lama!
De que lhes serve o burrinho?
Dormem com ele na cama?"
"Rapaz", diz o bom do velho,
"Se de irmos a pé murmuram,
Ambos no burro montemos,
A ver se inda nos censuram".
Montam, mas ouvem de um lado:
"Apeiem-se, almas de breu,
Querem matar o burrinho?
Aposto que não é seu."
"Vamos ao chão", diz o velho,
"Já não sei qu'ei-de fazer!
O mundo está de tal sorte,
Que se não pode entender.
É mau se monto no burro,
Se o rapaz monta, mau é,
Se ambos montamos, é mau,
E é mau se vamos a pé:
De tudo me têm ralhado,
Agora que mais me resta?
Peguemos no burro às costas,
Façamos inda mais esta."
Pegam no burro: o bom velho
Pelas mãos o ergue do chão,
Pega-lhe o rapaz nas pernas,
E assim caminhando vão.
"Olhem dois loucos varridos!",
Ouvem com grande sussuro,
"Fazendo mundo às avessas,
Tornados burros do burro!"
O velho então pára e exclama:
"Do qu'observo me confundo!
Por mais qu'a gente se mate
Nunca tapa a boca ao mundo.
Sirvam-nos estas lições;
É mais que tolo quem dá
Ao mundo satisfações."
Publicação de
João Brito Sousa

1 comentário:

  1. Críticas

    Bem lembrado!
    Boa ideia, esta de recordar aqui, duma forma tão singela, quão cruel pode ser o mundo, quando a auto-confiança é fraca e se é levado pela opinião alheia.
    Uma crítica ao nosso comportamento deverá sempre ser analisada, porquanto ninguém é soberano ou detém a exclusividade na forma de pensar e agir. Todavia, cada crítica deve ser dissecada e ponderada a sugestão que comporta; não de ve ser seguida cega e expontaneamente!
    "Cada cabeça, sua sentença!". Por isso, antes de se alterar os níveis de comportamento, por força das opiniões de terceiros, há que dar ouvidos, prioritariamente, à sentença da nossa cabeça.
    Repito que não devemos ficar "cegos e surdos" às críticas ou conselhos alheios; mas insisto em que, sem a força interior capaz de uma clara análise das sugestões apresentadas, se transformará a nossa vida num inferno, se conduzidos apenas por influência das críticas. Porque estas, como cogumelos , surgem e proliferam com a maior das facilidades. Na maioria das vezes, levianamente!
    Sem arrogância, sejamos sempre nós próprios! É o caminho mais curto para a felicidade.

    E, sejamos felizes!

    Arnaldo silva
    Felizmente reformado

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