segunda-feira, 24 de março de 2008

TERTÚLIA NO CAFÉ PIRAMIDES


A TERTÚLIA NO CAFÉ DAS PIRÂMIDES
A prova da teoria sobre a origem das nossas Campinas.


Por DIOGO TARRETA

Esta crónica, recebida de Washington, pretende ser uma pequena homenagem a uma personalidade que mito amou Faro, porque as cidades também se amam .

Recordando um grande Farense

Um homem fascinante da nossa cidade que eu tive a honra de por ele ser considerado um amigo- o Engenheiro Joaquim Lopes Belchior- homem culto, e empreendedor.

Calculou e construiu o hotel Eva, e fundou a Metal Farense entre outras muitas coisas mais. Foi também um grande agricultor no ramo dos citrinos.

Um dia disse-me –Diogo o dinheiro é o poder dos ignorantes, salvo raras “excepções” creio que se referia a ele a excepção- homem de grande fortuna mas extremamente inteligente e culto.

Deixou amargo de boca a alguns! Foi sempre um homem de oposição sensata- foi seguido de perto pela Pide mas, não puderam pôr-lhe a mão. Porque sempre fez oposição sensata, repito!

Segui-o algumas vezes nas suas pesquisas, sobre a nossa região e prezo-me de um dia ter encontrado a prova da sua teoria sobre a origem das nossas Campinas.

Segundo ele e é verdade toda a planície que começa no Coiro da Burra e acaba no Rio Seco, é formada pelos aluviões das duas principais ribeiras que nos circundam a este e a oeste- a Ribeira da Conceição e a do Biogal e pelo meio a de Marchil.

Devido ao trabalho a que me dedicava na altura, Pesquisa e Captação de águas, aconteceu-me um dia olhar numa nora no Chelote e para minha surpresa, a nora só tinha 4 ou 5 metros de anéis! Eles estavam assentes num cascão e por baixo do cascão um algar enorme e a continuação da nora já sem anéis de cimento- o algar estava coberto de detritos pequenos de rocha!

Fiquei intrigado e procurei-o ao que ele acedeu de imediato e...lá fomos . O homem quando viu o fenómeno disse-me: “ Diogo você não sabe quanto isto é importante para mim! Esta aqui a prova da minha teoria que deixa e ser teoria e passa a facto”.

Esta nora esta situada por detrás da casa de bicicletas do Estaca- para quem conheça.

Tínhamos um grupo de amigos que nos juntávamos no café das Pirâmides no jardim Manuel Bívar, que nos reuníamos ao fim da tarde para conversar - faziam parte o senhor “Xavier”(antigo chefe da secretaria do liceu, muito dotado em letras corrigia a obra escrita do engenheiro), outro engenheiro mais jovem o engenheiro Sabino, neto do David Cramegeira, para quem se lembre.

Rapaz de uma inteligência fulgurante mas com pouca paciência e uma maneira de ver a política diferente da do Engº Belchior e não raro se envolviam em discussões acesas.

O Zé Luís Leiria Faria, comandante da Tap agora ja reformado e que se referia à sua profissão como sendo chauffeur de aviões, também entrava nas acaloradas discussões.

E nós os menos cultos ouvíamos e absorvíamos na medida do possível aqueles ensinamentos e chamávamos ao grupo “Universidade Aberta” colaboravam também o Jorge das Pirâmides –proprietário- orgulhoso de ter por clientes no seu estabelecimento homens brilhantes como aqueles. E não raro se juntavam 4 ou 5 mesas do café para tomar uma biquinha., e ouvi-los.

O engenheiro Belchior também era muito terra a terra e contou-nos que um dia quando construiu o cinema de Silves, na hora do pagamento final o dono não queria pagar o saldo da factura e arranjou desculpas de mau pagador, pelo que o pleito foi parar a tribunal.

O advogado do engenheiro era o doutor Carrapato, Advogado também muito conceituado que negociou o acordo final na presença do juiz e, quando o sujeito passou o cheque, não conhecendo provavelmente bem o engenheiro fez o seguinte comentário que o enfureceu e que foi mais ou menos isto:- “obrigado Sr. Engenheiro está uma obra perfeita, mas sabe negócio é negócio e temos sempre que pagar o menos possível!

Mesmo na presença do juiz o Belchior não resistiu e deu-lhe um par de murros que por pouco não o levaram à cadeia!

Foi presidente da Câmara da nossa cidade a seguir à revolução e não raras eram as vezes que o Engº Belchior acabava a reunião de câmara com dois socos na mesa e o comentário- “assim não se vai a lado nenhum”

Há muito para dizer sobre este grande Farense e a sua obra - falaremos mais noutra ocasião- sobre este grande homem que tanto me fascinou e influenciou.


Diogo Costa Sousa

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