sexta-feira, 7 de março de 2008

LITERATURA

(Armando Baptista-Bastos)

O SECRETO ADEUS
Armando Baptista Bastos

O SECRETO ADEUS é uma obra literária que fala da vida, de coisas concretas ouras talvez não, do movimento de experiências vividas, dos nossos sonhos e contradições.

Como todas as obras de Baptista-Bastos, esta também pretende fazer pensar e tornar-se numa obra útil.. Aqui, o livro pretende fazer entender as coisas, transformar a solidão em revolta.. Exprime-se aqui um testemunho de desencanto. Esta obra é sinal e indício desse grande desequilíbrio entre o poder e a sabedoria, encorpando em si uma concepção de protesto como uma actividade cívica do homem .

Este livro, feito de palavras, é o reflexo de uma época. As palavras e os actos completam-se. Porque as palavras possuem força e honra. Uma obra literária faz-se com palavras, que, necessariamente são actos.

O autor, um homem conhecedor do comportamento humano, usa uma linguagem simples mas objectiva, a frase é dotada de uma elegância enorme, carregada de perfume e suavidade, umas vezes atrevida outra romântica, mas que cativam sempre.

A beleza é uma preocupação do autor, quer seja numa mulher quer seja numa tela de Picasso. O belo também pode existir no culminar de uma vida e a morte pode conter beleza se a vida foi digna. Sempre a honra nas atitudes, sempre a exigência da cabeça levantada, sempre o olhar em frente mas também sempre a dúvida.. “Nunca haverá instantes serenos de beleza.” diz o autor.

E é nesta suavidade de imagens que nos enche a alma de pequenas coisas grandes e nos transporta para outra galáxia, onde a paisagem é sublime e onde nunca se morre, porque só morre quem está desactualizado. E nessa galáxia onde o autor nos leva é sempre manhã radiosa e solarenga.

Quer beber uma pinga de aguardente? Pergunta o autor no contexto de uma outra vida, de uma outra galáxia, tipo menino sem condição, irmão de todos os nus, tira os olhos do chão vem ver a luz do José Afonso. Nesta obra todos temos lugar. Que é como quem diz, neste Mundo. Mas que lugar é esse?... É o autor quem diz: “Todos os dias, durante anos e anos: guerras, terramotos, matanças organizadas”.. É este o local onde se escreve, onde se luta, onde se sobrevive. E onde as condições escasseiam.

Você reza?.... pergunta?
Nunca. Não sei rezar, responde

E é neste intervalo que se situa a coragem de viver, a garra para fintar os desafios que nos surgem pela frente em todas as estações do ano e em todas as latitudes e comprimentos de onda . . “Mas também devo dizer-lhe que em cada homem coabita outro homem”... diz o autor.
Toda a vida é um processo de demolição. A vida é uma constante surpresa, uma esquina ao virar da qual se pode enfrentar tudo, diz o autor ainda..
È esta a obra que vos recomendo.

Publicação de

João Brito Sousa

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