quarta-feira, 19 de março de 2008

OS VELHOS DOS BRACIAIS


OS VELHOS DOS BRACIAIS

" A velhice é uma noite maravilhosa onde brilham as estrelas."
Teixeira de Pascoais.

Depois do meu avô José Apolo que já falei aqui, falemos hoje de outros velhos, velhos porreiros e amigos, como o velho MANUEL GARROCHO, pai da Custódia e sogro do Joaquim Rebola, que tinha um neto que nunca mais soube nada dele, nem dos pais nem de ninguém.

O Ti Garrocho era um homem da cultura, sabia ler, sabia portanto o que os outros não sabiam. Um dia, encontrou o meu tio Luís Alcantarilha Filho e perguntou-lhe, como já disse aqui uma vez, óh Luís, não viste por aí o ferroviário?... e o Luís perguntou-lhe o que é isso senhor Manuel... então não sabes o que é um ferrroviário?... não, disse o meu tio .. óh homem tu és um analfabeto...

O velhote mais porreiro lá dos Braciais era o ti Manuel Simão, pai do Domingos, do Manuel e do Zé Simão, gente boa e trabalhadora do Monte Sheriff. O ti Manel andava ali pelas hortas, trabalhava na agrícola e uma vez falei com ele, encostado `a enxada e sentado na aberta. Então Ti Manel o que é que me conta?...e ele, olha João só te sei dizer que muito tempo não posso durar. Nunca mais me esqueci desses minutos que estive a falar com o tio Manel Simão. Mas não vamos falar disso agora.

No Monte Sherif vivia também a Tia Luísa Apolo, irmã do meu avô e Mãe do nosso primo, actor e cantor Manuel Patuleia e do Zé Patuleia, que vivia com a velhota Encarnação pois já não lhe conheci o marido.

A velhota Encarnação morreu, porque pôs um bocado de cal de caiar paredes em cima de uma ferida uma pé e foi-se. O Primitivo, filho do Amaro que era asmático, pegou num arame de fardo de palha, foi ao palheiro da Tia Luísa, deu-lhe um laço numa das traves do telhado e foi-se embora.

A Tia Luísa ia almoçar muitas vezes a casa do meu avô, eram dois temperamentos fortes e brigavam por tudo e por nada. Dizia a Tia Luísa para o meu avô:- o que é que queres Zé?.. Dá-me o pão, dizia o meu avô. E ela, não queres mais nada?... `E o meu avô logo, óh sua santa dê o pão se puder....

Em frente ao meu avô morava o ti Carrega, o pai do Joaquim e da Felisbela, casado ou junto, não sei bem, com a Tia Felicidade. Um dia o meu tio Felício que era ainda rapazote, foi-se às parreiras do Ti Carrega e arrancou umas uvas, o velhote veio atrás dele e, não o conseguindo alcançar gritou-lhe: -Ó Felício levas todas... não. Ti Carrega, velho amigo.

Texto de
João Brito Sousa


A VELHICE É UMA NOITE MARAVILHOSA

Um dia chegará, não tenhas pressa...
Entretanto... vive conforme puderes.
A vida são dias não te esqueças dessa...
E a morte é noite se assim o quiseres.

Não tenhas medo desse dia desgraçado
Onde vai acabar tudo aquilo que começou
Vive sempre como um homem honrado
E nunca digas que o tempo não te chegou

A vida e a morte são dois grandes aliados
Chegamos nus e vimos ao Mundo desarmados
E morremos um dia quando ela quiser...

Mas ter dívidas ou não... isso pouco importa
Ela pode não avisar... entra e não bate à porta
E é nesse dia que se acaba todo o nosso ser.

JOÃO BRITO SOUSA

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