sexta-feira, 14 de março de 2008

O MEU AVÔ JOSÉ APOLO


O MEU AVÔ JOSE APOLO.

Nunca tive ocasião de desfrutar do convívio fraterno que desejaria ter tido com o meu avô José Apolo, o Pai da minha Mãe. Tenho esse desgosto atravessado. Com a Mãe da minha Mãe também não tive essa possibilidade, porque a senhora faleceu cedo. Do lado do meu Pai a coisa foi pior ainda, pois nunca conheci os meus avós, que terão falecido muito cedo. Sobrou a madrasta da minha Mãe a quem a gente chamava a avó Brita. Carinhos a avó Brita não dava muitos, dava mais porrada, mas não foi coisa por aí além. Deu par que ficássemos amigos.

Quando conheci o meu avô já ele estava muito velhote e já não trabalhava. É esta a primeira recordação que tenho dele. Eu e os meus primos, brincávamos muito lá em casa do meu avô e ele saia do quarto aí pelas dez horas da manhã. Era na mesa grande da cozinha que tomava o pequeno almoço que, não me lembro bem, mas que deveria ser preparado pela avó Brita. No campo costumava-se tomar ao pequeno almoço um grande tigela de café acompanhado de pão com manteiga.

Depois disso, o meu avô, apoiando-se numas canas que serviam de muletas, dirigia-se para a casinha do motor (assim se chamava esta zona onde o meu avó se sentava) e esperava que alguém viesse falar com ele. Gostava de ter sido eu um desses que lá tivessem ido falar com ele, mas nunca o fiz, não só por falta de à-vontade mas de assunto também e lamento isso. Às vezes encontrava-o na venda e deixava-lhe pago um copinho de aguardente. Não sei de onde é que me vinha tal ideia, inclusivamente o dinheiro para tal, pois isso foi muito anos antes de eu começara trabalhar aos dezoito anos. Mas foi assim.

Hoje eu já sou avô. E a situação repete-se pois estou longe da minha neta que também não me vê. Nem eu a ela. E a minha neta Mariana até me chama AvôDão. Mas gosto muito da minha neta e às vezes compro-lhe coisas. Vou com ela às lojas que eu e ela gostamos e digo-lhe, Mariana podes escolher, vê lá o que é que gostas e ela logo se aproxima daqueles modelos que mais a cativa. Normalmente, escolhemos roupas no pronto a vestir e, da última vez, a minha neta Mariana disse-me: Avô, eu gosto desta blusa sem costas. Recuei um pouco dizendo esta não Mariana, mas não adiantou nada, a Mariana disse, sim Avô, é esta mesmo... e lá foi .Uma vez ouvi esta frase de um avô:- os pais são para educar e os avôs são para deseducar. Não vou discutir isso mas a minha vocação vai precisamente nessa direcção.

Gosto muito da minha neta e vou sabendo notícias dela pela minha filha que me diz ser a Mariana muito aplicada na escola. Quando estou com ela, a Mariana nos primeiros dez minutos quase não fala, mas depois soltasse - lhe a língua e até dá gosto passear com a Mariana. E vamos passear os dois de mãos dadas nas avenidas do Centro Comercial. Coisa que nunca fiz com o meu avô mas que tenho a certeza que ele gostaria de ter feito comigo. Quanto mais não seja levar-me até ao jardim, que é o local onde quase todos os avôs levam os netos.

Por enquanto tenho só uma neta mas o meu avô deveria ter tido aí uns vinte, já que tinha dez filhos e por sua vez todos tiveram filhos também. Mas o meu avô nunca foi passear com os seus netos ao jardim. Mas eu já fui.

Não é verdade MARIANA?...

João Brito Sousa

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