quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O GOLPISTA

(BASTILHA)

Golpista do Société Générale é solto depois de assumir operações fictícias
estado de S.Paulo

Kerviel disse à Brigada Financeira que agiu no interesse do banco e negou ter enriquecido com as operações
Texto de Andrei Netto

O jovem de 31 anos suspeito de ser autor de golpes que causaram perdas financeiras de € 4,9 bilhões ao banco francês Société Générale ganhou liberdade provisória ontem. Jérôme Kerviel, operador da instituição, estava detido desde sábado na Brigada Financeira, um braço da polícia da França.

Ele prestou depoimentos nos quais reconheceu que tomava posições de risco em nome da empresa. Kerviel disse que desde 2005 criava operações fictícias para dissimular posições especulativas. A compra de activos que ele realizou somou, de acordo com o banco, 48 bilhões, que foram renegociados pela instituição entre segunda e quarta-feira passadas em bolsas européias, em especial em Londres e Frankfurt.

Segundo Kerviel, a perda de 4,9 bilhões teria sido causada pela “precipitação” do Société Générale em devolver os títulos ao mercado.Kerviel negou que tenha enriquecido com as operações e disse agir de acordo com os interesses do banco. Confirmou que tinha “relativa liberdade” e conhecia os sistemas informatizados de controle por ter trabalhado cinco anos no sector encarregado de monitorar “operadores”.

Elisabeth Meyer, advogada de Kerviel, disse que seu cliente foi indiciado por abuso de confiança, falsificação e uso de documentos falsificados e violação de códigos de sistemas de informática antes de ser posto em liberdade.

Ele não deverá ser acusado de corrupção se ficar comprovado que não houve enriquecimento ilícito.O depoimento de Kerviel confirma em parte os argumentos usados pela direção do Société Générale para explicar o prejuízo. Ontem, em Paris, o presidente do banco no Brasil, François Dossa, definiu Kerviel como “um génio da informática” que “criou um esquema” para compra e venda de activos sem o efectivo registro pelo sistema de controle do banco. “Foi exactamente isso que aconteceu.

O sistema não é frágil, mas esses hackers conseguem burlar qualquer sistema”, disse Dossa ao Estado, após um encontro com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. “Hoje, todos os bancos estão varrendo seus sistemas para verificar se não há factos semelhantes”, argumentou.Para Dossa, eventuais alegações de Kerviel de que trabalhava em nome dos interesses do banco são um delírio.

“Para se defender, ele falará qualquer coisa.” O presidente da filial brasileira reconhece que a imagem do banco foi arranhada, mas pondera que o fraudador foi o grande responsável. “O facto é que não foi uma fraude óbvia.”Os € 4,9 bilhões perdidos nas operações de Kerviel equivalem a 80% dos lucros do banco em 2007. “Podemos dizer que não houve lucro, ou que lucramos apenas € 800 milhões em 2007.

Mas o facto é que nosso capital não mudou”, disse Dossa.Para compensar o rombo nas contas, o executivo confirmou que o Société Générale realiza operações de aumento de capital no valor de € 5,5 bilhões, para indicar ao mercado que a crise será superada com excedentes financeiros. Em contrapartida, analistas de mercado ouvidos pelos jornais Le Monde, Le Figaro e Libération indicaram que o aumento de capital fragiliza a posição dos actuais accionistas diante de uma possível oferta de compra do banco.

Recolha de
João Brito Sousa

1 comentário:

  1. O Poder corrompe

    A genealidade humana, alicerçada na sua capacidade extra para o desempenho de tarefas diárias, tem destas coisas. Quero dizer, umas vezes se coloca ao serviço dos seus compéres outras se desvia desse louvável caminho para alfinetar as normas de boa conduta social.

    É pena, lamentável mesmo, que nem sempre se encaminhem todos os passos dos génios ou foras-de-série para proporcionar mais e melhor nível de vida aos normais humanos.

    Monsieur Kerviel é um bom exemplo, a lamentar, da genealidade desencaminhada. Aquele crâneo conseguiu, desde 2005, camuflar de forma perfeita, operações bancárias que, pelo seu montante e objecto , foram certamente objecto de aturada análise de vários administradores, bem qualificados, da Société Générale.
    Até parece mentira! Mas aconteceu!

    O que levou Kerviel a semelhante conduta?!
    Eu acredito que não terá sido o uso em proveito próprio, o enrequecimento pessoal, como ele alega.
    Porque nós, os humanos, somos assim. Consentimos que o Poder nos corrompa. Cedemos sempre a vaidosos egoísmos quando se nos é permitido dispôr de Poder. A capacidade de dominar, máquinas ou homens, embriaga, tolda as ideias, coarta a capacidade de descernimento, baralha as noções apreendidas do bem e do mal, do certo e do errado. Deixa apenas palpável, presente e dominante a incontrolável satisfação de uma vaidade conseguida; fui capaz!

    Não estou escrevendo as alegações finais da defesa de Monsieur Kerviel. Longe de mim um tal propósito! Estou apenas quase embevecido com a extrema capacidade da alma humana para criar as melhores trancas e os melhores processos para as arrombar! Na verdade, contrariamente ao 'slogan', não há Chaves do Areeiro que não sejam passíveis de arrombamento! "Há sempre algo a fazer" ! É apenas uma questão de aparecer o génio adequado. E aparece sempre um!

    Que pensem sempre nisto os criadores das trancas.
    E pensem também todos aqueles que dispõem de Poder!

    Arnaldo silva
    Felizmente reformado

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