domingo, 27 de janeiro de 2008

DA IMPRENSA


É O QUE TEMOS
por MST

Quando gostam de se insinuar como políticos de uma profunda reflexão e de ideias para além da 'espuma dos dias', os políticos de agora dizem que a sua fonte de inspiração é Churchill. A sugestão implícita é a de que são políticos de causas, batendo-se por ideais contra a 'ditadura mediática' e sempre apressada da luta política dos tempos de hoje.

A sugestão é, obviamente, ridícula e deve ser desprezada como tal. Nenhum político de hoje tem a estatura de um Churchill, e por várias e irremediáveis razões. Primeiro, porque não nascem ricos nem aristocráticos, não se podendo permitir o luxo de olhar para a carreira política com o tom diletante com que o fazia Churchill: quando precisou de ganhar dinheiro a sério para manter o elevadíssimo nível de vida que não queria largar, Churchill ganhou-o como escritor, como colunista de jornais ou como jornalista e repórter de guerra e não sentado no Governo ou nos Comuns. Segundo, porque o grande luxo de não precisar da política para ser conhecido ou para ganhar dinheiro dava a Churchill a faculdade de poder fazer política por duas únicas razões: por gozo ou por sentido de dever patriótico. Terceiro, porque, tendo-lhe sempre sido indiferente a imagem que transmitia, permitia-se fazer e dizer qualquer coisa que lhe apetecesse, onde e quando lhe apetecia.

Conta-se que, largos anos depois do final da guerra, o marechal Montgomery, o 'herói do deserto' e vencedor de El Alamein, contava a Churchill qual era o segredo da sua longevidade e boa forma física: "Nunca fumei, fiz sempre exercício físico e durmo bem todas as noites". Ao que Churchill, mais velho que o marechal, respondeu: "Pois eu cá, o meu segredo é que sempre fumei, nunca fiz exercício físico e só durmo bem à tarde". A sua actividade noctívaga era célebre. Durante o "blitz" de Londres, era frequente vê-lo a seguir as operações anti-aéreas, noite fora, no centro de comando, e, quer em guerra, quer em paz, mantinha sempre um "staff" de três secretárias, que rodavam por turnos, de modo a cobrir as 24 horas do dia e a estarem sempre disponíveis para quando lhe desse a espertina. A secretária que fazia o turno da manhã começava o despacho sentada ao lado da banheira onde o poderoso Winston Churchill se banhava nu durante horas, ao mesmo tempo que tomava um pequeno-almoço de ovos estrelados, bacon e costeletas de carneiro, acendia o primeiro charuto do dia e ditava ordens, discursos ou artigos para os jornais. Está bom de ver que um homem com tais hábitos jamais faria carreira política nos tempos de hoje.

Mas, ao contrário do que apressadamente se supõe, Churchill esteve longe de ter uma carreira política de triunfo em triunfo. Nos seus longos anos no poder, na oposição ou à margem da política, o que lhe sucedeu foram sobretudo derrotas. Como primeiro lord do Almirantado, no começo da I Guerra Mundial, teve de se demitir, assumindo a responsabilidade política por erros de estratégia militar da Marinha de Guerra. Muitos outros erros cometeu como supremo responsável pela estratégia militar durante a II Guerra Mundial, e alguns deles com elevadíssimos custos humanos. Entre guerras, encaixou uma série de desaires eleitorais e passou vinte anos a pregar sozinho no deserto contra o Tratado de Versalhes e a avisar que a Alemanha hitleriana se estava a rearmar. Mesmo reconhecido unanimemente como o principal responsável pela vitória dos Aliados, foi despedido sumariamente pelos ingleses na primeira eleição pós-guerra, dando razão a uma sentença célebre: "A ingratidão para com os grandes homens é o sinal das grandes nações".

Em Ialta, ao lado de Roosevelt (a quem os historiadores depois desculparam, dizendo que estava muito doente), ele deixou-se literalmente enganar por Estaline, só tarde de mais acabando a vociferar contra a Cortina de Ferro. E quando a Índia se batia por uma independência que a Inglaterra já não conseguia mais evitar, ele profetizou que, sem a Índia, a Inglaterra desapareceria do mapa e sozinho levantou-se nos Comuns para protestar contra a visita negocial de Gandhi, a quem chamava "esse faquir seminu".

O que sobretudo interessa reter da biografia de Churchill é o retrato de um homem de uma imensa coragem física e moral, de uma personalidade à prova de quaisquer comentários ou julgamentos alheios e de um absoluto sentido de dever e de amor à Inglaterra - ou melhor, à ideia do Império Britânico, pelo qual combateu, como soldado, na Flandres, na África do Sul, na Índia, no Afeganistão e no Sudão. De todas as célebres histórias acerca do seu famigerado sentido de humor, a que acho que melhor retrata a sua filosofia de corredor de fundo é talvez a última em data. Já muito velho, mas ainda deputado nos Comuns, sentado no seu obscuro lugar de "backbencher" e aparentemente adormecido durante um debate, Churchill ouviu uma conversa sobre si de dois jovens deputados sentados próximo: "O velho está mesmo xexé". Rodando sobre o cotovelo em que se apoiava, parecendo dormir, o velho Winston encarou-os e disse: "E surdo!"
Devo confessar que estas reflexões sobre o 'leão' me ocorreram olhando para a ainda incipiente carreira de Luís Filipe Menezes à frente do PSD. Como é que um bom autarca e um homem que parecia ter chegado à maturidade política - ou, pelo menos, ao lugar para que se vinha preparando há tempo suficiente - se transforma no espaço de dois meses num catavento político, que não conhece bússola, nem pontos cardeais, nem direcções do vento?

Parece-me óbvio: afinal, não estava preparado. Ou cobiçou o lugar sem saber muito bem porquê ou para quê. Acabado de eleger pelos militantes do PSD, ei-lo que se foi entregar nas mãos de um "spin doctor" e fazedor de imagem. Escolheram Menezes, saiu-lhes Cunha Vaz: foi uma má maneira de começar as coisas. Convencido que a política moderna é apenas a imagem mais as frases certeiras no momento certo, Luís Filipe Menezes transformou-se numa marioneta triste, sem tom nem som, uma espécie de caricatura de si próprio. Começou por seguir a moda das gravatas de cor lisas e de discursar com uma mão estendida, segurando o polegar e o indicador - deve ser o Cunha Vaz que acha que impressiona na televisão. Depois, sem assento no Parlamento, inventou uma fórmula assaz patética de fingir que está presente nos debates principais, convocando a imprensa para discursar a seguir sobre as intervenções do primeiro-ministro, sozinho e sem contraditório. Enfim, mal preparado, sem ideias sobre os assuntos que interessam nem tempo para as ter, reduziu toda a postura de líder da oposição a uma regra simples: o que Sócrates fizer, ele é contra; e, se fizer o que ele quer, é porque se rendeu às ideias de Menezes.

Com excepção das extraordinárias propostas que fez para dividir com o PS as grandes obras públicas, a banca e os comentadores televisivos, Menezes oscila conforme acha que sopra o vento, se necessário desdizendo hoje o que dissera ontem. Se no passado, tal como Sócrates, defendia a Ota, acabou a reclamar vitória em Alcochete; se Sócrates desistiu de convocar o referendo ao Tratado de Lisboa (que Menezes tanto queria evitar) foi o primeiro-ministro que se rendeu às ideias do PSD e por não as ter próprias; se o Governo emenda a mão no dia seguinte e desiste de pagar os aumentos das pensões em duodécimos, tal como reclamado pela oposição, tal representa simultaneamente uma grande vitória do PSD e um sinal de desnorte do Governo. Se Sócrates se gaba de ter posto o défice público abaixo dos 3%, Menezes chama o infausto dr. Bagão Félix para explicar ao estupefacto país que foi ele próprio e no Governo Santana Lopes quem conseguiu transformar a água em vinho e outros milagres que tais. E a quem, lá dentro do partido, lhe pergunta para onde vai com tantos ziguezagues, ele responde que são uns cobardes e que, se quiserem, já está pronto para eleições: não contra Sócrates, mas contra os inimigos internos.

Pobres políticos de agora! Que raio de profissão!

MEU COMENTÁRIO

MST é um jornalista brilhante da mesma maneira que é um escritor brilhante quando não fala de futebol.

Quando fala de futebol diz coisas incrivelmente não verdadeiras que até às vezes dá que pensar.


Será o MST articulista e escritor o mesmo que o MST que escreve sobre futebol é o quem tenho questionado. Porque o MST escreve em ABOLA, o seguinte, em:

De longe vê-se melhor

Uma coisa é pacífica: não há ninguém que possa atribuir um só ponto conquistado pelo FC Porto neste Campeonato à arbitragem. Duvido que algum outro clube se possa gabar do mesmo

Isto não é verdade.

E diz mais,

Mas desta vez não me preocupei muito, porque, tendo desde há vários anos deixado de frequentar Alvalade—que considero o pior ambiente para poder viver um jogo de futebol, com um público doente de facciosismo como em lado algum — era pacífica a decisão de ver o jogo através da televisão ...

Isto é deselegante...

E continua,

Ao contrário do Benfica em 2005, o FC Porto não acaba o Campeonato com os seus últimos doze golos todos marcados de penalty ou de livre à entrada da área. Aliás, em matéria de penalties, o FCPorto — apesar de ter o melhor ataque do Campeonato e, unanimemente reconhecido, o sistema mais ofensivo de todos — teve apenas um penalty assinalado a seu favor. O Sporting teve seis e o Benfica oito. Há estatísticas que matam...

Isto é .. não sei o quê.. Sim , há estatísticas que matam. Por isso uma pergunta: o senhor lembra-se daquela super taça que o Benfica marcou um golo pelo Amaral, a bola bateu no ALOÍSIO e bateu o Victor Baía e entra e o golo é anulado. E no fim o FCPORTO ganhou a Taça.. Como?:.. e quantas ganharam assim?

E continua...

... e mostra até que ponto, realmente, os títulos conquistados pelo FC Porto são bem mais difíceis de obter do que os dos outros.
Não concordo. A mim, parece-me que os títulos conquistados pelo FCPORTO, estão explicados pelo jornalista Rui Cartaxana, no jornal Record de 31.12.2007 na página 31.que o senhor não desmentiu ainda e se calhar nem pode...
E diz,

O meu correligionário e amigo Rui Moreira já aqui escreveu sobre este assunto, na sua coluna de sexta-feira passada: parece que uns benfiquistas perseverantes e esclarecidos descobriram a causa profunda do desaire caseiro do SLB contra o Leixões, na última jornada do campeonato. E essa causa foi o facto de o juiz-de-linha do jogo, que anulou um golo ao Benfica, ser sócio do FC Porto.

Isto são coscuvilhices apenas...

MST como jornalista desportivo... jamais.
João Brito Sousa

1 comentário:

  1. MST
    Deplorável jornalista desportivo

    MST, concordo, é um excelente jornalista. Conhecedor, frontal, bom analista e melhor concretizador de ideias e opiniões.
    Na sua ousada frontalidade está sempre "a pôr o dedo na ferida", sem piedade e com clarividência de argumentos.
    Alicerçado nos seus largos e cimentados conhecimentos, opina com propriedade sobre uma vasta ordem de acontecimentos e comportamentos sociais. Muito bem! Gosto de o ouvir.

    Mas não o ponham a falar sobre futebol! Aí não se consegue alhear da sua doentia e mal formada clubite! Até consegue dizer e defender, numa demonstração de desumana cegueira clubística, que um qualquer cidadão deve fugir impunemente à Justiça, para não ser confrontado com os argumentos de uma acusação de crime. Tem a lata e a desfaçatez de pretender que é preferível que o vilão fuja e não compareça perante um juiz para, como se autofirma, provar a sua inocência. Tudo, toda esta inqualificável defesa do MST, levada a cabo apenas porque o vilão em causa é o presidente do seu clube! Inacreditável!
    Como é possível, face a esta e outras manifestações de cego facciosismo, ter o desaforo de dizer que o público de Alvalade é o mais faccioso?! Ali, o único estádio onde os adeptos assobiam a sua própria equipa quando, decorridos os iniciais vinte minutos, se percebe que não há fio de jogo para levar os encontros de vencida! Ali, onde não há guarda costas ou polícias a acicatar as agressões aos adeptos adversários!?

    Como jornalista desportivo, deveriam fechar todas as portas da comunicação ao MST. Evitar-se-ia de tornar público a mais vergonhável forma de facciosismo clubístico!
    Evitar-se-ia o conhecimento da existência de um deplorável jornalista desportivo!
    Pela verdade do desporto. Pela limpidez e glorificação de justas vistórias no futebol português!

    MST, comentador desportivo, nunca!

    Arnaldo silva
    Felizmente reformado

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