quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

AINDA SIMONE BEAUVOIR


PARÓDIA DA VIDA

“A velhice é a paródia da Vida.”

É Simone de Beauvoir disse-o com toda a propriedade.

A Paródia é uma 'charge' recreativa, normalmente cómico-alegre, de algo real e passado. Desde que haja imaginação, tudo é susceptível de ser parodiado. Atitudes de políticos, comportamentos de um chefe, desenvolvimentos sociais, usos e costumes. Tudo!

Evidentemente, a vida, a nossa vida, também pode ser objecto de paródia. Antes da velhice não há tempo nem apetência para parodiá-la. É natural. O Trabalho, a Família, o Stress do quotodiano não concedem tempo para que o façamos. É de lamentar que asssim seja. Talvez se conseguisse amenizar os efeitos de tantos problemas que vamos enfrentando, que temos que enfrentar, sem porta para fuga.

A velhice aporta, de facto, a calma, a disponibilidade de tempo, a maturação necessárias para recrear o passado. Na imaginação. Com imaginação. Torna-se assim a paródia da própria vida.

Só comicamente se pode intentar refazer o que a passagem dos anos tornou impossivel que seja viável levar a cabo.

A velhice é a paródia da vida!

Mas é bela! É reconfortante. É retemperadora. Que perdure e se prolongue, parodiando ou não a vida que foi.

Arnaldo silva
Felizmente reformado

MEU COMENTÁRIO

Devemos encarar a velhice nessa perspectiva da paródia. Quem conseguir isso é o mais feliz.

Este aspecto, faz-me lembrar uma frase que li, num livro, em que o autor fazia esta dedicatória: “A FULANO ... QUE SE ESTEVE NAS TINTAS PARA TUDO. e faleceu aos sessenta e cinco anos”....

E ainda outra cena, num baile de carnaval em Loulé, na Comissão, quando um velho de oitenta anos, saltou para o palco e cantou o “NÃO VENHAS TARDE”.. e a malta aplaudiu..

E há ainda os velhos da Fernanda Botelho em “DRAMATICAMENTE VESTIDA de NEGRO”

“Nos bancos, estavam como sempre, sentados os velhotes do costume. Coitados!, pensei, corpos esvaziados de seiva! Caia-lhes sobre os olhos melosos de visões ausentes a sombra dos chapéus enterrados na cabeça sumida. Não falam entre si, não olham quem passa, não ouvem as sereias dos navios no rio à distancia ou a gritaria da criançada na escola, um pouco mais abaixo. Mesmo quando chuvisca ficam ali sentados estáticos, até serem horas de voltar para donde vieram...

Há velhos e velhos....

Mas não há dúvida que a velhice pode ser uma paródia. E se não for espontaneamente ... que façamos para que seja sempre uma saudável paródia..

João Brito Sousa

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