sábado, 5 de janeiro de 2008

CRÓNICA DE SÁBADO DE MANHÃ

(estação de S. Bento)

PORTO, 2008.01.05
PORQUE HOJE É SÁBADO.

Normalmente saio, todos os dias à rua, aí por volta das dez horas. Hoje fiquei em casa um pouco mais de tempo. Não fiz logo a barba nem tomei banho e o timing foi-se.

Decidimos então, eu e a minha mulher, que sairíamos para almoçar no sô Carvalho, aqui no Bairro lá para o meio dia e tal... e pensei então em escrever esta crónica para o blogue.

Falar de quê? Ah!... vamos transcrever para aqui a crónica, autorizada, do MM, amigo, portuense e portista, que nos pode ajudar a entender a cidade do PORTO.


ENTENDER O PORTO

por spirtwolf

Espero que esta leitura ajude os forasteiros a melhor decifrar esta cidade secreta que Eugénio de Andrade, um seu filho adoptivo, não hesitou em considerar a mais fechada das nossas cidades.

Frases soltas que alguns grandes escritores e intelectuais portugueses escreveram sobre o Porto:

Se na nossa cidade há muito quem troque o b por v, há pouco quem troque a liberdade pela servidão.
Almeida Garrett

MARAVILHAS E ANGÚSTIAS

O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias.
Sophia de Mello Breyner

COMO SE VINGA

O portuense não gosta de Lisboa. Não gosta da polícia. Não gosta da autoridade. Da autoridade vinga-se, desprezando-a. Da Polícia vinga-se, resistindo-lhe. De Lisboa vinga-se, recebendo os lisboetas com a mais amável hospitalidade e com a mais obsequiada bizarria.
Ramalho Ortigão

RIR DESBRAGADAMENTEE

quanto ao riso, o Porto gosta de rir e de rir com uma certa insolência: ri mais desbragadamente, mais primariamente, mais saudavelmente e com mais gosto do que Lisboa.
Vasco Graça Moura

REGAÇO ABERTO PARA O RIO

Afinal, o Porto, para verdadeiramente honrar o nome que tem, é, primeiro que tudo, este largo regaço aberto para o rio, mas que só do rio se vê, ou então, por estreitas bocas fechadas por muretes, pode o viajante debruçar-se para o ar livre e ter a ilusão de que todo o Porto é a Ribeira.
José Saramago

UMA ALMA DE MURALHA

Toda a cidade, com as agulhas dos templos, as torres cinzentas, os pátios e os muros em que se cavam escadas, varandas com os seus restos de tapetes de quarto dependurados e o estripado dos seus interiores ao sol fresco, tem toda ela uma forma, uma alma de muralha.
Agustina Bessa Luís

INVEJAS

Lisboa inveja ao Porto a sua riqueza, o seu comércio, as suas belas ruas novas, o conforto das suas casas, a solidez das suas fortunas, a seriedade do seu bem-estar. O Porto inveja a Lisboa a Corte, o Rei, as Câmaras, S. Carlos e o Martinho. Detestam-se!
Eça de Queiroz

LIÇÃO DE PORTUGUESISMO

Uma ida ao Porto é sempre uma lição de portuguesismo, tanto mais rica quanto mais raramente lá se vai. É indispensável – claro! - um mínimo de contacto reiterado com esse lar da nação para nele vermos algumas das significações latentes que enriquecem a nossa consciência de práticas.
Vitorino Nemésio

UMA FAMÍLIA

O Porto não é em rigor uma cidade: é uma família. Quando algum mal o acomete, todos o sentem com a mesma intensidade; quando desejam alguma coisa, todos a desejam ao mesmo tempo. Os portuenses são tão ciosos da integridade da sua cidade, como os portugueses em geral da integridade da nação.
João Chagas

ASPECTO SEVERO E ALTIVO

O Porto ergue-se em anfiteatro sobre o esteiro do Douro e reclina-se no seu leito de granito. Guardador de três províncias e tendo nas mãos as chaves dos haveres delas, o seu aspecto é severo e altivo, como o de mordomo de casa abastada.
Alexandre Herculano

MEU COMENTÁRIO

Nas minhas crónicas, coloco sempre no topo, a palavra PORTO, porque eu sou um dos que veio de fora e que soube conquistar o seu espaço nela. Isto para dizer que me considero, espontaneamente, um Portuense.

Posso dizer inclusivamente, que, sem esforço algum, me integrei na cidade e dizer que senti que a cidade me recebeu muito bem, nalguns locais até, com deferência especial, sobretudo na zona onde resido.

Mas eu exijo mais da cidade e discuto com ela, questionando as pessoas que considero mais representativas da sua intelectualidade, como são os casos de Francisco José Viegas, Miguel Sousa Tavares (indirectamente), Manuel Serrão e Álvaro Magalhães, a quem coloquei questões e dúvidas e de todos eles recebi respostas, algumas delas duras, mas recebi.

Fui tolerante com essas pessoas porque concluí que era por amor à cidade que me responderam forte e feio, especialmente o escritor Álvaro Magalhães, de quem exijo mais nessa qualidade e procurei até conhecer a sua obra publicada.

Posto isto, está na altura de dizer que a minha forma de gostar da cidade não coincide com a forma de gostar dos que nela nasceram. Quem nasceu depois de 1865, e são todos, penso que estão marcados por um clima de certa agressividade a Lisboa (está nos livros) e por isso, defendem a sua cidade, perdoando-lhe até naquilo onde considero não haver total razão para perdoar. Eu, não sendo natural de Lisboa e vivendo agora no Porto, quero a que considero agora a minha cidade, com a postura de honradez que levou D. Pedro IV a denominá-la de “Muy nobre e sempre leal cidade Invicta"

Mas não vejo hoje o PORTO assim. Vejo algumas coisas... claro, mas também vejo o que vem publicado no jornal “RECORD” de 31 de Dezembro de 2007, página 31, em artigo de opinião de Rui Cartaxana, “CORTAR O MAL PELA RAIZ”, cujos conteúdos que me parecem ser pouco abonatórias para a minha cidade do Porto.

E é aqui que a minha luta se situa.
Se for verdade o que diz Cartaxana qual deverá ser o comportamento da cidade? Eu acho que deveria reagir. Fez isso? Não... Porquê? Não sei, mas a mim, isso incomoda-me.

E acho ainda que a cidade deveria reagir sempre. Porque lá diz o ditado.... qem não se sente, não é filho de boa gente....

A cidade do Porto, como é?... muy nobre ainda?...

João Brito Sousa

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