quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

AO SABOR DA CORRENTE

(Sócrates)
Um dos objectivos da minha condição de reformado está a ser cumprido. Refiro-me `a ocupação do tempo, que, sendo todo livre é preciso ocupá-lo. E tenho feito isso com algum empenho e êxito.
Quero dizer, ainda preciso de mais tempo do que aquele que tenho livre. . .Escrevo sobre muita coisa ou talvez escreva muita coisa Às vezes penso que podia publicar, outras vezes penso que isso seria um perfeito disparate. Por um lado, acho que seria uma “merda” de escritor que é o que eu estou a falar. . Mas, como reivindico o direito de sonhar, para aqui vou alinhavando umas ideias dentro do contexto, o que é que será melhor para mim agora.

Este agora é o presente onde eu vivo. O Fernando Pessoa é que falou dessas coisas. Ma seu também posso falar

Gosto do passado em geral. No particular há algumas coisinhas que eu procuro evitar. Não são coisas graves, aliás, vendo bem as coisas nada é grave... Mas assumo-as. Penso que é um mal geral, fazer-se umas coisas boas outras menos boas. Mas o caminho faz-se caminhando.

O meu presente é simples e dá-me prazer estar em sua companhia. Discuto e resmungo com ele. Por minha vontade estaria sempre nele. E com ele, Queria que o presente parasse um bocado.. para atrasar um bocado o futuro, agora que eu já não preciso do futuro para nada. O meu futuro é o meu bem estar e às vezes ele desaparece e fico meio doido.. porque se não tenho bem estar estou intranquilo.

O bem estar deveria ser uma condição imprescindível à Humanidade. Deveria pensar-se mais nisso. O que é que custa mudar as mentalidades. Eu acho que se tivessem ido ao funeral do meu padrasto teriam percebido isso facilmente. O senhor abade explicou a coisa muito bem. Dizia ele, naquela meia hora que antecedeu a ida para a cova. Tens automóvel? .. perguntava para a assistência.... e, como que a responder sim.. apontava para o caixão como quem diz.. com ou sem automóvel vais mesmo parar ao caixote.. Ora, como podem ver, não vale a pena explorar os trabalhadores porque não te safas. Tens frigorífico.. tens isto tens aquilo... e a resposta era sempre a mesma. E ia dar à cova.

Poderíamos pensar nesta coisa mais seriamente. A base é sempre a mesma. Os recursos disponíveis. Se tivéssemos consciência plena desta situação talvez que houvesse boa vontade na solução do problema. Porque admito que as pessoas, mesmo os ricos, tenham medo das voltas que a vida dá. Há aqui um problema que terá de ser salvaguardado para que a partir daqui se tomem decisões. É a terceira idade. Todavia este assunto da segurança na terceira idade assusta e de tal modo é assim, que as pessoas pretendem assegurar uma certa estabilidade financeira para ganhar uma certa tranquilidade que não temos. Porque, no nosso País, particularmente, o sistema de saúde a nível de coberturas é muito pouco credível dispondo de poucos apoios.

Se os governos pudessem resolver o problema dos reformados, com seriedade, talvez proporcionasse a estes, que têm muito dinheiro, um estado de gratidão tal, que fizesse com que estes vissem a necessidade que o mundo tem de mudar.

João Brito Sousa

1 comentário:

  1. Os Reformados

    O estatuto de reformado trás consigo, inerente a essa situação de ausência de obrigatoriedade de cumprimento de deveres laborais, entre muitas outras coisas, a disponibilidade excessiva de tempo, dia após dia.
    A falta da responsável carga de ser obrigado a prestar diariamente uma tarefa, sempre submetida a uma avalição, gera como que um descomprimir incontrolado do dever de viver. Não há compromissos por cujo incumprimento se seja punido, não há horários a respeitar por cujos atrasos se seja repreendido e não há o stress de aguardar o próximo fim de semana para aliviar a carga do quotidiano dever de cumprir.

    Bate então à porta do Reformado um outro tipo de problema. Como ocupar e preencher a excessiva disponibilidade do tempo que todos os dias se coloca à sua frente!?

    O meu amigo Brito já resolveu esse problema. E bem!

    Muito bem, mesmo, digo eu. Porque encontrou uma solução que lhe preenche o tempo mas, principalmente, lhe ocupa a mente. É que eu perfilho a ideia de que um dos piores problemas que a ausência de ocupação laboral provoca é criação de demasiado tempo disponível para um ócio que leva a um excessivo acto de evocações da vida passada e à consequente conclusão de que esta - a vida - já foi vivida e nada mais se anda por aqui a fazer. E, aí, é o fim!

    Penso que, pior do que o mau estar económico do Reformado, é o enveredar pela conclusão de que já nada tem a receber ou a dar à vida. Deixar-se chegar a este patamar é como que se deixar arrastar "vivo-morto", como um condenado que apenas vê adiada a data da sua execução.
    Felizmente, não vou por aí!

    O bem-estar a que o meu amigo Brito aqui faz apelo, traduziria eu por mais e melhores iniciativas para preenchimento da vida dos reformados. Os Centros Sociais de convívio, as excursões levadas a efeito pelas autarquias, as Universidades Seniores são acções meritórias. Mas há poucas! Num país de cada vez mais habitantes envelhecidos e condenados a viver sós é necessário, imperioso mesmo, que se alarguem e coloquem ao alcance de todos os Reformados iniciativas que lhes preenham o excesso de tempo disponível. Que lhes coartem a propensão para, permanentemente, avaliar o passado; que lhes encaminhem a atenção para outros interesses que não sejam o de concluir pela inutilidade da vida que há que viver. Aí, digo, se deverá concentrar a atenção de quem tem a responsabilidade de velar pela qualidade de vida dos que já deram o seu contributo para a estabilidade do país.

    Pela qualidade de vida dos meus confrades Reformados!

    Arnaldo silva
    Felizmente reformado

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