sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

COMENTÁRIO TRANSFORMADO EM POST

(reformados no banco)
OS REFORMADOS
por Arnaldo Silva

O estatuto de reformado trás consigo, inerente a essa situação de ausência de obrigatoriedade de cumprimento de deveres laborais, entre muitas outras coisas, a disponibilidade excessiva de tempo, dia após dia.A falta da responsável carga de ser obrigado a prestar diariamente uma tarefa, sempre submetida a uma avalição, gera como que um descomprimir incontrolado do dever de viver.

Não há compromissos por cujo incumprimento se seja punido, não há horários a respeitar por cujos atrasos se seja repreendido e não há o stress de aguardar o próximo fim de semana para aliviar a carga do quotidiano dever de cumprir.Bate então à porta do Reformado um outro tipo de problema.

Como ocupar e preencher a excessiva disponibilidade do tempo que todos os dias se coloca à sua frente!?O meu amigo Brito já resolveu esse problema. E bem!Muito bem, mesmo, digo eu. Porque encontrou uma solução que lhe preenche o tempo mas, principalmente, lhe ocupa a mente.

É que eu perfilho a ideia de que um dos piores problemas que a ausência de ocupação laboral provoca é criação de demasiado tempo disponível para um ócio que leva a um excessivo acto de evocações da vida passada e à consequente conclusão de que esta - a vida - já foi vivida e nada mais se anda por aqui a fazer. E, aí, é o fim!Penso que, pior do que o mau estar económico do Reformado, é o enveredar pela conclusão de que já nada tem a receber ou a dar à vida. Deixar-se chegar a este patamar é como que se deixar arrastar "vivo-morto", como um condenado que apenas vê adiada a data da sua execução.

Felizmente, não vou por aí!O bem-estar a que o meu amigo Brito aqui faz apelo, traduziria eu por mais e melhores iniciativas para preenchimento da vida dos reformados. Os Centros Sociais de convívio, as excursões levadas a efeito pelas autarquias, as Universidades Seniores são acções meritórias. Mas há poucas! Num país de cada vez mais habitantes envelhecidos e condenados a viver sós é necessário, imperioso mesmo, que se alarguem e coloquem ao alcance de todos os Reformados iniciativas que lhes preenham o excesso de tempo disponível.

Que lhes coartem a propensão para, permanentemente, avaliar o passado; que lhes encaminhem a atenção para outros interesses que não sejam o de concluir pela inutilidade da vida que há que viver.

Aí, digo, se deverá concentrar a atenção de quem tem a responsabilidade de velar pela qualidade de vida dos que já deram o seu contributo para a estabilidade do país.Pela qualidade de vida dos meus confrades Reformados!

Arnaldo silvaFelizmente reformado

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