DA IMPOSSIBILIDADE DA REVOLUÇÃO
"Quem classifica classifica-se". A frase é célebre e pertence a PierreBourdieu, sociólogo que defendia que a sociologia deveria serencarada como um desporto de combate.Não são raras, aliás as analogias que Bordieu utiliza a partir do campo desportivo.
Em conversa com o artista alemão Hans Hacke, dizia-lhe: "Um dos princípios da sua estratégia consiste em servir-se da força do adversário, um pouco como os desportos de combate, tal como o judo".
E, mais adiante, acrescentava: " é o que faz com que você seja uma espécie de analista que abre os possíveis: o que você cria faz surgir o que os outros não fazem".Estas palavras poderiam, sem qualquer dificuldade, aplicar-se ao próprio Bourdieu e ao campo semântico da sua sociologia (a sociologiade Bourdieu, mais do qualquer outra é, paradoxalmente uma sociologia de autor - paradoxo, bem entendido, para quem, na desmistificação dos bens simbólicos e, em particular, da arte, se esforçou para dessacralizar a aura encantada do universo mágico do génio do autor).
Luta, conflito, dominação e poder são conceitos consubstanciais, no autor francês, à estruturação das sociedades.
É por isso, aliás, que o princípio da classificação é um operador político: o acto de situar alguém numa posição que, sendo relacional face às demais, aponta o dedo para quem emitiu a classificação, localizando-a no espaço social e denunciando a sua visão particular do mundo e a violência de um arbitrário que consiste, precisamente, na naturalização e na universalização dessa visão do mundo, acto criador por conseguinte, de um modo interessado de estar no mundo.
Logo, quem não classifica não existe socialmente...
Texto de João Teixeira Lopes
Prof. Da Faculdade de Letras da Universidade do
PORTO..Dossier PIERRE BOURDIEU
Prof. Da Faculdade de Letras da Universidade do
PORTO..Dossier PIERRE BOURDIEU
QUEM FOI PIERRE BOURDIEU
Pierre Bourdieu (Denguin, 1 de agosto de 1930 — Paris, 23 de janeiro de 2002) foi um importante sociólogo francês.
De origem campesina, filósofo de formação, chegou a docente na École de Sociologie du Collège de France, instituição que o consagrou como um dos maiores intelectuais de seu tempo.
Desenvolveu, ao longo de sua vida, mais de trezentos trabalhos abordando a questão da dominação, e é, sem dúvida, um dos autores mais lidos, em todo mundo, nos campos da Antropologia e Sociologia, cuja contribuição alcança as mais variadas áreas do conhecimento humano, discutindo em sua obra temas como educação, cultura, literatura, arte, mídia, lingüística e política.
Também escreveu muito analisando a própria Sociologia quanto disciplina e prática.
A sociedade cabila, na Argélia, foi o palco de suas primeiras pesquisas. Seu primeiro livro, Sociologia da Argélia(1958), discute a organização social da sociedade cabila, e em particular, como o sistema colonial interferiu na sociedade cabila, em suas estruturas e desculturação.
Dirigiu, por muitos anos, a revista "Actes de la recherche en sciences sociales" e presidiu o CISIA (Comitê Internacional de Apoio aos Intelectuais Argelinos), posicionando-se sempre, clara e lucidamente contra o liberalismo e a globalização.
Sua discussão sociológica centralizou-se, ao longo de sua obra, na tarefa de desvendar os mecanismos da reprodução social que legitimam as diversas formas de dominação. Para empreender esta tarefa, Bourdieu desenvolve conceitos específicos, retirando os fatores econômicos do epicentro das análises da sociedade, a partir de um conceito concebido por ele como violência simbólica, no qual Bourdieu advoga acerca da não arbitrariedade da produção simbólica na vida social, advertindo para seu caráter efetivamente legitimador das forças dominantes, que expressam por meio delas seus gostos de classe e estilos de vida, gerando o que ele pretende ser uma distinção social.
recolha de
João Brito Sousa
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