terça-feira, 4 de setembro de 2007

REFLEXÃO FILOSÓFICA

(Urbano)
O TEXTO QUE SE SEGUE,
“O AMOLECIMENTO PELA SOCIEDADE DE CONSUMO, é de Urbano Tavares Rodrigues, in "Ensaios de Escreviver" .


AÍ VAI O TEXTO.


“Nos países subdesenvolvidos, a arte (literatura, pintura, escultura) entra quase sempre em conflito com as classes possidentes, com o poder instituído, com as normas de vida estabelecidas.

Em revolta aberta, o artista, originário por via de regra da média e da pequena burguesia ou mais raramente das classes proletárias, contesta o statu quo, propõe soluções revolucionárias ou, quando estas não podem sequer divisar-se, limita-se a derruir (ou a tentar fazê-lo pela crítica, violenta ou irónica) o baluarte dos preconceitos, das defesas que os beneficiários do sistema de produção ergueram contra as aspirações da maioria.


Nas sociedades industriais mais adiantadas, o artista pode permanecer numa atitude idêntica de inconformismo; porém, os resultados da sua actividade de criação e reflexão tornam-se matéria vendável e, nalguns casos, matéria integrável.

O consumo do objecto artístico, seja ele o livro, o quadro ou o disco, quando feito sob uma tutela de opinião, que os meios de comunicação de massa, em escala larguíssima , exercem, torna-se, senão totalmente inócuo, pelo menos parcialmente esvaziado do seu conteúdo crítico. Despotencializa-se.


Amolece.

É o que se verifica, por exemplo, em boa parte, nos Estados Unidos. A ideologia repressiva da liberdade no mundo capitalista monopolista torna-se tanto mais perigosa quanto absorve, ou procura absorver, as próprias formas políticas de exercício das liberdades ditas essenciais, quando aceita no seu seio o escritor, acusador iconoclasta por natureza, recuperando-o em banho asséptico, limando-lhe os dentes.

Mas, entendamo-nos, nem sempre o artista se dá conta dessa operação, até porque nem sempre, de facto, é ele próprio o paciente da operação que lhe reduz a perigosidade, senão que o é, sim, a sua obra, a qual, pelo poder diminutivo de uma dada comercialização, se rectifica”.


QUEM É URBANO TAVARES RODRIGUES


Nasce em Lisboa no ano de 1923 e passa a infância no Alentejo, próximo do Rio Ardila, perto de Moura. Licencia-se em Filologia Românica, doutorando-se em 1984 com uma tese sobre Manuel Teixeira Gomes.

Foi leitor de português em várias Universidades estrangeiras - Montpellier, Aix e Paris - entre os anos de 1949 e 1955, época em que se encontrava impedido de exercer docência universitária em Portugal por motivos políticos.

Depois da Revolução de 1974 retoma, em Portugal, a actividade docente.

Em 1993, jubila-se como Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mas continua a exercer a docência na Universidade Autónoma de Lisboa onde dirige a cadeira de Literatura Portuguesa do segundo ano do Curso de Línguas e Literaturas Modernas.

Na mesma Universidade fez parte de um Curso de Escrita Criativa e também do Mestrado de Estudos Portugueses.

É membro efectivo da Academia de Ciências de Lisboa e membro correspondente da Academia Brasileira de Letras.

A sua vasta obra está traduzida em várias línguas. A sua ficção tem como característica principal a tomada de consciência do indivíduo face a si mesmo e aos outros, processo que se desenvolve até ao reconhecimento de uma identidade social e política.


Já foi distinguido com vários galardões literários: Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa com a obra Uma Pedrada no Charco em 1958 (de salientar que seu pai Urbano Rodrigues já tinha vencido este prémio na edição do ano de 1948 com a obra O Castigo de D. João ; Aquilino Ribeiro e Fernando Namora; Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários; Prémio da Imprensa Cultural; Prémio Vida LLiterária - atribuído pela Associação Portuguesa de Escritores; O Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.


O MEU COMENTÁRIO.


O conflito surge em quaisquer países, sub desenvolvidos ou não, entre a classe dos artistas, chamemos-lhe intelectuais e o poder instalado.

Todavia o conflito arranca quando os intelectuais têm origens nas classes baixas das populações. que são conhecedores das carências autênticas.

Quando esta classe social abdica de lutar ou de fazer prevalecer os seus direitos, deixa de ter acompanhamentos à altura e a qualidade da luta perde-se..

Daí ao amolecimento é um passo.


João Brito Sousa

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