sexta-feira, 14 de setembro de 2007

FIGURAS DA LITERATURA


JOSÉ SAMPAIO (BRUNO)

A RAÇA... O MAL É DA RAÇA.



Texto retirado das Memórias (Tomo III ) de Raul Brandão.


JOSÉ PEREIRA DE SAMPAIO (BRUNO) foi um conversador extraordinário.

Uma vez, passeava altas horas pelas ruas denegridas e húmidas do PORTO, com dois ou três amigos, falando, parando, discutindo até alta madrugada.

Vinha tudo à baila: Deus, o Universo, os filósofos e a política.

Agregavam-se às vezes àqueles homens alguns rapazes que os ouviam fascinados. E diziam eles:

- Escusam de procurar... a nossa ruína não vem dos políticos nem do regime. Mudaremos o regime e ficaremos na mesma. O mal é mais profundo – o mal é da raça.
- A raça?... Mas, com esta raça descobrimos o mundo!...
- Sim, mas repare, se quisermos modificar o País, temos e fazer exactamente o mesmo que se faz com os cavalos, temos de mandar vir homens do Norte, ingleses, escandinavos ou suecos e de montar aqui e além postos de cobrição.

O homem será tanto maior quanto maior for a sua capacidade de sonhar. De sonho inútil. A única vida possível é a vida artificial, a vida que não existe, a vida que construímos ao lado da vida, a vida que nos afasta dos bichos.


Talvez a felicidade consista realmente em nos aproximarmos da natureza, em lavrar, em nos contentarmos com a enxerga, o colmo que nos cobre, em reduzirmos a vida às linhas essenciais.


A felicidade é comezinha Ouvi sempre dizer que os homens felizes não têm História...

A OBRA

A obra de Sampaio Bruno situa-se, temporalmente, na transição entre os séculos XIX e XX. Do ponto de vista filosófico foi um dos marcos do pensamento heterodoxo português, escrevendo toda a sua vida profundamente marcado pelo sentido da diferença, ao mesmo tempo que lutava arduamente pelo fim da monarquia e pelo advento do regime republicano, luta que dele fez um dos exilados do 31 de Janeiro.

A despeito dos seus primeiros escritos, marcados pela sedução do positivismo conteano (Análise da Crença Cristã (1874)), o qual viria rapidamente a abandonar e a criticar em O Brasil Mental (1898), constituiu núcleo essencial da sua obra a ideia da opacidade do mundo, do seu carácter misterioso, conferindo à linguagem a missão de traduzir essa mesma opacidade, vedada que estava a expressão da verdade na sua nudez singela.

Para Bruno, a verdade não é um absoluto dado, e nele se palpa, tanto no pensamento como na sua expressão escrita, o sentido do oculto, ou não fosse a verdade «o erro, aproximando-se indefinidamente da verdade verdadeira, desconhecida». Daí que seja habitualmente considerado um autor difícil, com uma prosa recortada, sinuosa e tantas vezes labirintica, nos antípodas da clareza dos geómetras.

Bruno abriu-se ao mito, à profecia, à revelação, às alucinações auditivas (de que disse ter sido alvo), às sociedades secretas, ao mesmo tempo que expurgou o messianismo do que considerava a sua dimensão acessória para o focar no essencial: a redenção do homem e, com ele e através dele, a redenção universal, acabando por nos traçar uma metafísica da redenção que parte do mistério das origens para terminar na redenção não só do homem, pois recusou a perspectiva antropocêntrica de um certo evolucionismo imperante que à luz do seu critério tem por imoral, mas a redenção universal e fraterna de toda a cadeia dos seres, da natureza no seu conjunto, num processo que se lhe apresentava como a revelação sucessiva de fins divinos, rumo à perdida perfeição de um absoluto misteriosamente alterado...

(texto retirado da net), por



João Brito Sousa

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