quarta-feira, 19 de setembro de 2007

MESTRE AQUILINO RIBEIRO




AQUILINO RIBEIRO NO PANTEÃO

"Aquilino Ribeiro, um escritor com colhões..."

BAPTISTA BASTOS


Nada mais justo do que enaltecer a coragem, o caracter e a honradez de Mestre Aquilino e evidenciar o seu amor `a língua portuguesa.

Só por isso deveria ser imortal, ele que tanto medo da morte tinha....





FRASES DELE EM CINCO RÉIS DE GENTE

“Formosura e agrados, isso que hoje chamam simpatia....”

“Fiquei a cismar no mundo alado das aves agourentas que, segundo minha tia Ana, iam beber o azeite à lâmpada do Santíssimo Sacramento e cantavam no telhado da gente que estava para morrer.”

“Quando em pequenino, observava a enxada do coveiro a rasgar uma sepultura... “

“... pariu ali a galega.”

“A escola, já lhe disse é boa para os ricos. Aos pobres só serve ara atrasar e roubar tempo..”.

“O que o homem mais aprecia acima de grandezas, glória, amor, acima do seu próprio pão para a boca, é a liberdade....”

“Não diz o ditado que a vinhaça puxa vinhaça?....”

“Não há melhor guardião contra gatuno que irmão de gatuno..”

“O senhor capitão José Francisco Vicente, prometera-lhe o lugar de sacristão numa das igrejas de Lisboa. Por modos eram cargos muito rendosos, pacíficos de todo... sem a mais pequena quebradeira de cabeça...”

“Era a moça do pároco transacto, casada com o criado...”

“Nomeie para Chã de Tavares o padre de tal que precisamos ganhar a sua influência eleitoral...”

“Bem certo que a criança é o coração da casa...”

“Sei que morrer é mais fácil do que se pensa e não obstante tenho medo da morte...”


1) AS HONRAS

As honrarias não foram um fenómeno raros na vida de Aquilino Ribeiro, indigitado para o Nobel da Literatura pelos seus pares, em 1960, e alvo de sucessivas manifestações de apreço por parte de milhares de leitores ao longo de uma carreira literária de meio século.

No entanto, é provável que, de todos os títulos passíveis de serem atribuídos, o autor de clássicos como "A casa grande de Romarigães" e "O Malhadinhas" preferisse a admissão no Panteão Nacional, por ser aquele que, do ponto de vista simbólico, se encontra mais próximo da imortalidade literária que sempre buscou.

O desejo do escritor beirão cumpre-se hoje, indiferente ao lastro de contestação de um punhado de monárquicos (ver texto ao lado) ou à clara perda de protagonismo, registada nos últimos anos, das suas obras.



"Objectivos políticos"



Crítico e ensaísta com vasta colaboração em jornais e revistas, João Bigotte Chorão elege Aquilino como um dos autores fundamentais da nossa literatura, a que regressa com assiduidade, mas "duvida dos verdadeiros objectivos" de um tributo que, em seu entender, "deveria estar reservado a figuras com um grau de consenso muito alargado, o que, como se avalia pela contestação recente, não acontece com Aquilino".

Além de recear que "os verdadeiros propósitos da trasladação não sejam apenas literários mas sobretudo políticos e ideológicos", Bigotte Chorão acredita que "há outras formas de celebrar Aquilino, tanto pela riqueza da sua obra e imponência da linguagem como pela fidelidade aos valores locais".



A opinião não gera consenso. Para Henrique Almeida, dirigente do Centro de Estudos Aquilino Ribeiro, a trasladação pode ser um acontecimento decisivo para "rasgar a névoa de indiferença e recuperar a memória - e sobretudo a obra - de um dos maiores escritores da literatura portuguesa de sempre".



Um ambicioso plano de reedição da sua obra completa ou um reforço da presença dos livros de Aquilino nos manuais escolares do ensino secundário seriam algumas das medidas susceptíveis de gerar um novo entusiasmo em redor daquele que Baptista-Bastos considera ser "o melhor prosador do nosso século XX, período que teve também outros notáveis autores como Tomaz de Figueiredo ou Carlos de Oliveira".



'"Consagração por fazer"



Com "a verdadeira consagração literária ainda por fazer", como reconhece Henrique Almeida, a 'reabilitação' popular do escritor terá que passar pelo esbatimento da ideia do carácter puramente regional que caracteriza parte dos seus livros, sobretudo da fase inicial.

Ciente de que "a sua origem rural não foi uma limitação mas uma marca de identidade", o também director da revista "Cadernos Aquilinianos" defende que "a literatura portuguesa ganhou com Aquilino uma profunda renovação linguística e estética, além de uma extraordinária riqueza temática, idiomática e cromática, revestida numa dimensão cosmopolita, ainda hoje desconhecida".



2) Homenagem devida



Tudo, neste país, é polémico, a começar pela grandeza do outro. Não podemos ver a camisa lavada no corpo do vizinho. Sabem-no bem aqueles que saem à rua sem disfarces. Por isso, cortinas, persianas, portadas fechadas.

Ser verdadeiro paga-se e Aquilino sabia-o. Votou a Assembleia da República, unanimemente, a trasladação do corpo do grande escritor para o Panteão e logo se exaltaram ânimos e ultramontanos o acusaram de crimes não provados.

Os medíocres soltaram inveja e ressentimento. Em vão hoje, o homem que amou e revelou, genialmente, a alma portuguesa irá repousar, entre pares seus em mérito. A vida de Mestre Aquilino foi um desafio.






"Em pleno século XX, Portugal, salvo a capital e duas ou três grandes cidades, vivia em plena Idade Média", notou. Incurável inconformista, assistiu ao acender e ao apagar da esperança da liberdade à primeira República e ao advento do quase interminável obscurantismo salazarista.

Conheceu cadeia e exílio. Ergueu obra extraordinária. Quando morreu, tinha às costas um processo, por via do romance "Quando os lobos uivam" (1958) - denúncia da desumanidade do regime -, que a PIDE apreendera. E, no dia do seu passamento, a Censura informava os jornais "não ser mais permitido falar das homenagens que lhe estavam a ser prestadas".



Em 1913, "Jardim das Tormentas", primeiro livro de Aquilino, mereceu prefácio entusiástico dum monárquico Carlos Malheiro Dias. Honra lhe seja: admirava e respeitava o talento de um adversário político.

O que diz Aquilino, nos textos juntos, de um homem que também sofreu o exílio, esse, no Brasil, diz de duas pessoas: da verticalidade e dignidade. No fim e ao cabo, da capacidade que tinham de admirar e respeitar. Oxalá, no Panteão, a mesquinhez e o incivismo se calem e fique Mestre Aquilino definitivamente em paz.
(texto retirado do JORNAL DE NOTÍCIAS)


texto e recolha de

João Brito Sousa

Sem comentários:

Enviar um comentário