sábado, 18 de agosto de 2007

A VIDA E RAUL BRANDÃO

(Os homens da Presença...Aquilino, Raul Brandão...)


COMENTÁRIO DO ARNALDO SILVA

TRANSFORMADO EM POST


Amigo Brito,

Folgo em verificar que a "rentrée" nestas andanças das coisas da Literatura e suas publicações no Blog vem retomando o ritmo, a intensidade e a qualidade que se vinha desfiando até à partida para férias, presenteando-nos com temas de qualidade e interesse irrefutáveis.

Estamos aí, contigo. Disponíveis para receber e comentar. E para demonstrar ao Raul Brandão que a vida não tem que ser necessariamente e não o é, em definitivo, um acto religioso e muito menos é um acto estúpido e inútil. A vida é simplesmente a vida!

E cada um de nós tem uma vida. Própria. Pessoal. Distinta de todas as outras vidas de todos os outros viventes.

Dizer que a vida é um acto estúpido e inútil apenas porque se sabe de antemão que ela não é eterna é no mínimo característico de um ser que não aprendeu a viver.

A vida vive-se numa permanente e renovada corrente de sentimentos. É na qualidade desses sentimentos que reside a utilidade e a qualidade da vida.Esqueça-se o pessimismo de Raul Brandão!

Viva-se a vida! Por ela, com ela e para ela! Sempre!

Arnaldo silva
Felizmente reformado

O MEU COMENTÁRIO

O camarada Arnaldo Silva, afilhado de casamento, colega de curso, de quarto alugado no Sacramento à Lapa e amigo firme entre outros atributos, leva vantagem sobre todos nós outros, que andamos por aqui a arranjar desculpas pela suposta ingratidão da vida, simplesmente porque o Arnaldo Silva gosta e sobretudo sempre gostou da vida.

Posso dizer, porque constatei isso durante anos, que o Silva é um apaixonado da vida e apaixonado pela vida.

Felizmente que tem uma vida boa, quero dizer, tem a vida que quis ter e funciona dentro dela como peixe na água. E por esta ordem de ideias é um acérrimo defensor da vida. Aliás, sempre foi...

Mas, e perguntar-se-à? E se as coisas não tivessem corrido tão bem assim ao camarada Silva, como seria a sua abordagem à vida?...

Por exemplo, se tivesse tido o azar que teve um amigo comum que, após um acidente de viação, perdeu a esposa jovem ainda e levou para uma cadeira de rodas, totalmente inoperativo, um filho de dez anos, que sobreviveu até aos trinta, sempre na condição de dependente?...

È claro que o acidente, também faz parte da vida. Mas depois do acidente, que veio provocar desajustamentos profundos no quotidiano, poderá continuar-se a ter pela vida a mesma consideração, apego e amor de outrora?...

A vida não é possuída de um comportamento linear; tem oscilações e por vezes graves e injustas. A reparação do acidente muitas vezes não se faz e daqui pode surgir o desamor à vida.

E poder-se-à ter amor e consideração por uma situação injusta?

Raul BRANDÃO, que eu particularmente aprecio, no seu texto “BALANÇO À VIDA”, diz efectivamente que “Ou a vida é um acto religioso- ou um acto estúpido e inútil”

Mas depois continua com este naco de prosa fantástico: “Considero os meses mais felizes da minha vida aqueles em que eu e a minha mulher fomos viver para uma aldeia remota. Ainda hoje me penetra a solidão perfumada dos montes. A casa não tinha vidros e à noite o silêncio doirado de estrelas entrava pelas janelas e desabava sobre nós... Há horas em que as coisas nos contemplam e estão por um fio a comunicar connosco. Às vezes é um nada, um momento de êxtase em que distintamente ouvimos os passos da vida caminhando. O homem sozinho está mais perto de Deus e das coisas eternas. Sabe-lhe melhor a vida; compreende melhor a morte. Um pormenor que o interesse, entranha-se-lhe na alma para sempre, como um perfume que nunca mais se esvai... Ainda este ano o MAIO foi tão quente que toda a noite se lavrou ao luar”...

Quem escreve isto e desta maneira, tem de, forçosamente amar a vida...

Como o Arnaldo Silva e eu e mais uns milhares... a amamos.

João Brito Sousa

1 comentário:

  1. Meu velho!
    Quanta honra!

    Sinceros agradecimentos pelas caracterizantes palavras que teceste a meu respeito no que concerne ao que sinto e como vejo e vivo a vida. É verdade! Bem definido, como sempre.

    A questão que colocas, isto é, como me sentiria eu hoje face â vida se uma forte e causticante desventura me tivesse batido â porta, não pode ter, como é óbvio, uma resposta objectiva da minha parte. Felizmente, não vi a minha vida fustigada por intempéries consideradas dramáticas, daquelas que, como no exemplo a que fazes referência, podem destroçar e vencer a melhor das forças anímicas.

    Fiquei orfão de mãe aos oito anos, mas a vida teve que continuar para mim.
    Fui parar a Santa Maria com uma apendicite aguda, quase transformada em peritonite pela ingénua ignorância que me fazia acreditar que se tratava de uma indigestão de um polvo assado que havia ingerido umas horas antes. Expurgou-se o mal em devido tempo.
    Fui operado no IPO a um melanoma fatal que só não cumpriu a sua mortal missão porque cheguei atempadamente âquele hospital. Sobrevivi.
    Vivo diarimente com uma doença crónica, predisposta a pregar-me a partida de uma trombosis cerebral, tendência que tenho que contrariar tomando permanentemente a pírula. Continuo gostando de viver!
    Vi ruir pelas bases, indefeso e irrecuperável, o castelo da minha actividade industrial que tão entusiasticamente havia construído durante um quarto de século. Disponho de menos capital para poder fazer opções de tipo de vida, mas continuo a viver feliz.

    Coisas de somenos, digo eu. Apenas constrangimentos que são inevitáveis num longo percurso de sesenta e quatro anos. Continuo acreditando que a vida é uma contínua corrente de sentimentos renovados. O meu lema foi e continua a ser o de que o passado não é mais do que uma aprendizagem para a vida. Apenas uma lição. Não a pecha que se nos entranha e impede de viver o presente. Na capacidade de renovar quotidianamente os nossos sentimentos reside a alegria de viver. Naturalmente . Com a certeza de que o dia de hoje pode e deve fazer esquecer as eventuais agruras do de ontem, por mais fatídicas que tenham sido. Com a certeza de que um dia o comboio vai chegar ao fim da linha mas que, enquanto dura o seu percurso, há uma paisagem à nossa volta que é sempre digna e de indispensável admiração.

    Insisto! A vida há que vive-la hoje, por hoje, com a vida de hoje.
    Vivamo-la!

    Arnaldo silva
    Felizmente reformado

    ResponderEliminar