segunda-feira, 27 de agosto de 2007

LITERATURA

(Raul e a malta do seu tempo)


HÁBITOS E COSTUMES
(das memórias de Raul Brandão)

Ao José Maria Oliveira.

Em casa, ouvindo Pedro Abrunhosa em “Quem me leva os meus fantasmas” e preparando um texto para colocar no blog.

Tenho à minha frente as MEMÓRIAS do Raul Brandão, que estou a ler, e retiro de lá algumas notas plenas de actualidade, apesar de terem sido escritas para aí em 1913, mais ou menos.

Acho bastante interessantes estas notas do Raul, retiradas das MEMÓRIAS, tomo III: há nelas a poesia de há cem anos... ou quase.

“A família de hoje é a família de ontem?. O dever cumpre-lo agora como o cumprias há vinte anos?...

Um professor da Universidade, meu amigo, foi a bordo, de um paquete despedir-se de um rapaz por quem se interessava e que partia para África e disse-lhe com um sorriso irónico – Enriquece, sobretudo enriquece... seja como for... contanto que não se venha a saber... Disse-o com ironia, mas todos nós sabemos o que esta ironia pesa e o que vale a experiência da vida..... –

Contanto que não se saiba.

De resto o exemplo vem de cima, vem das classes chamadas superiores, que enriqueceram sabe Deus como.

O importante é fazerem-se negócios, mais negócios, muitos negócios. Eu mesmo ouço dentro de mim a voz que me mete medo e que fala cada vez mais alto... Sinto que todos os laços que outrora me prendiam à vida se quebraram, a ponto de ficar desamparado. Em que fundamentos ou em que lei moral hei-de assentar a minha vida se, no fundo, invejo os que triunfam?...

São os políticos, que muitas vezes pregam contra o jogo no parlamento, os mesmos que vão à noite deitar os dados na roleta, contrariando aquilo que proibiram aos outros...

O filho de um republicano histórico fez uma fortuna nas colónias, de tal maneira escandalosa que não pode lá voltar mais..... Apontam-se a dedo políticos que ganharam muitas centenas de contos de reis com negócios de açúcar e de arroz.....

Fulano, outro dia Ministro e a quem o pai deixou no Ribatejo uma pequena herdade que ele tem aumentado, comprando terrenos à volta, campo hoje campo amanhã, deu há dias um jantar na sua aldeia, aos amigos.

Foi festa rija, brindes, até que chegou a vez ao caseiro, brusco e ingénuo, que, de copo em punho, disse;- Senhor, doutor, `a sua saúde! E o que lhe digo, senhor doutor, é que é pena que Vossa Senhoria, não tivesse continuado por mais algum tempo em Ministro _ porque acabava por comprar toda a freguesia!.

O MEU COMENTÁRIO

PORTUGAL SEMPRE FOI ASSIM E CONTINUA ASSIM.
E AMANHÃ COMO SERA?

João Brito Sousa

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