terça-feira, 21 de agosto de 2007

COMERES TÍPICOS DO ALGARVE









(Pratos de xarém algarvio)



PORTO, 2007.08.21

O XARÉM ALGARVIO



(texto dedicado ao Prof. FANKLIM MARQUES,
velho amigo)


Acerca de um post meu, colocado no

http://braciais.blogs.sapo.pt/

onde falei da horta do Ti Xico Quintas, o meu amigo Arnaldo Silva, parece que gostou e comenta o meu post, numa sua croniqueta muito bem concebida, acerca do XAREM algarvio que também falo lá no post.

Por entender que a descrição está perfeita, digna de um Franklim Marques, aí vai o texto completo.

E mais uma ve z, os meus parabens ao Arnaldo Silva, pelos belos textos que produz e que eu aproveito para publicar dado a sua excepcional qualidade, o que dá assim um enorme contributo para o engrandecimento do blog. Para ele o meu muito obrigado.


O XAREM
texto de Arnaldo Silva.

Como é óbvio, não conheci o Ti Xico nem a sua horta ainda que Patacão e Mar e Guerra me sejam locais familiares.

Locais que, outrora verdejantes, luxuriantes mesmo na proliferação da variedade de culturas que se espraiavam pelas variadíssimas hortas ao sabor das estações do ano, estão hoje votados ao abondono ou invadidos por vias alcatroadas e casas de habitação e altamente poluídos pelo excesso do monoxido de carbono que o super saturante tráfico de veículos automóveis por ali vai libertando.

Sou natural do Sotavento algarvio e, por isso mesmo, bem familiarizado com os produtos das hortas, com as árduas tarefas que solicitavam para os produzir, com o bucolismo do chilrear dos pintassilgos que povoavam as romãzeiras que ladeavam as alamedas de acesso às casas senhoriais ou com o cantar da água ao cair dos alcatruzes das noras nas quentes tardes de Maio ou de Junho.

Mas o que verdadeiramente aqui me traz é a tua evocação do xarém. Saudade!Em casa dos meus avós sempre se quedavam umas sacas de milho. Milho amarelo, refira-se. Daquele que, provindo da horta, remanescia dos vários destinos económicos que lhe era dado. E havia por lá uma mó manual.

Duas pedras circulares, com um diâmetro de cerca de quarenta centímetros, a superior com um buraco ao centro e uma empunhadura de madeira, fixada próximo da sua periferia, onde a mão humana se agarrava para lhe imprimir o movimento rotativo necessário para se moer o milho que era introduzido pelo citado buraco.

Era dia de xarém! Alegria duplicada para os putos da minha idade de então! Alegria pelo ritual da moagem. Alegria recompensada e redrobada pelo almoço de xarém!As mós eram instaladas dentro de uma corbelha( EU DIRIA CAPACHA) que recebia a farinha proveniente do milho moído. Sentava-se no chão o humano, motor da acção de moer, de pernas abertas contornando a corbelha, mão direita fazendo rodar a mó e mão esquerda alimentando-a de milho .

Imagine-se o prazer espantado do puto ao ver a transformação de grãos duros e secos em ameno e aveludado pó amarelo que era cuspido de entre as duas mós e ao seu redor! Milagres de uma rústica tecnologia! E que dizer da incontida satisfação do puto quando lhe era dada permissão para dar ele umas voltas com a mó milagrosa?! Indescritível!Mas até o xarém chegar à mesa faltavam ainda algumas operações.

Havia que peneirar a farinha obtida com a moagem, expurgando-a de farelos que, além de serem de difícil ingestão no xarém, eram necessários para alimentar as aves de capoeira que sempre coabitavam com os donos ou caseiros das hortas.Vinha então o ritual da cozedura do xarém.

Aqui as preferências e os gostos dos apreciadores de tal prato dividiam-se entre dois tipos de utensílios para o cozer. Perfilhavam uns a convicção de que o xarém só deveria ser cozinhado em tacho de barro. Contrapunham outros que só em tacho de arame - entenda-se um tacho feito de um metal amarelo (EU DIRIA TACHO DE COBRE), uma qualquer liga que não sei bem definir - se poderia obter o verdadeiro xarém!.

Certo é que, confeccionado num ou noutro tacho, o xarém era uma deliciosa refeição, qualquer que fosse a variante em que era apresentado: simples, com café, com conquilhas, com peixe frito ou até mesmo com leite!Saudade!No olvidar das tradições e na metamorfose dos gostos sabe bem recordar como sabia bem um prato de xarém! Com milho da horta do Ti Xico ou de qualquer outra horta Algarvia!

Arnaldo silvaFelizmente reformado

João Brito Sousa

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