O MODERNISMO EM MÁRIO SÁ CARNEIRO
Hoje, dia de todos os demónios
Irei ao cemitério onde repousa SÁ-CARNEIRO
A gente às vezes esquece a dor dos outros
O trabalho dos outros o coval
Dos outros
Ora este foi dos tais a quem não deram passaporte
De forma que embarcou clandestino
Não tinha política tinha física
Mas nem assim o passaram
E quando a coisa estava a ir a mais
Tzzt... uma porção de estricnina
Deu-lhe a moleza foi dormir
Preferiu umas dores no lado esquerdo da alma
uns disparates com as pernas na hora apaziguadora
herói à sua maneira recusou-se a beber o pátrio mijo
deu a mão ao Antero, foi-se, e pronto,
desembarcou como tinha embarcado
Sem Jeito Para o NegócioMário Cesariny, Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano,1952
Em Sá CARNEIRO a imagem da ponte é-lhe uma das mais gratas para exprimir a passagem do eu para o outro.
"Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro
O drama de Mário Sá Carneiro é ficar no meio da ponte, perplexo e indeciso: O seu drama é não permanecer «aquém» nem chegar «além», como nos diz no poema «QUASE»
«Um pouco mais de sol- eu era brasa,
Um pouco mais de azul- eu era além
Para atingir, faltou-me um golpe de asa
Se ao menos eu permanecesse «aquém»
João Brito Sousa
João Brito Sousa
Sem comentários:
Enviar um comentário