segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A MENTIRA EM PASCOAES

(Teixeira de Pascoes)


"A MENTIRA É A BASE DA CIVILIZAÇÃO MODERNA. "

Teixeira de Pascoaes em “A Saudade e o Saudosismo”


"É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.

Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras

A mentira reina sobre o mundo! Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade. Derrubá-la do trono; arrancar-lhe das mãos o ceptro ensanguentado, é a obra bendita que o Povo, virgem de corpo e alma, vai realizando dia a dia, sob a direcção dos grandes mestres de obras, que se chamam Jesus, Buda, Pascal, Spartacus, Voltaire, Rousseau, Hugo, Zola, Tolstoi, Reclus, Bakounine, etc. etc.

E os operários que têm trabalhado na obra da Justiça e do Bem, foram os párias da Índia, os escravos de Roma, os miseráveis do bairro de Santo António, os Gavroches, e os moujiks da Rússia nos tempos de hoje. Porque é que só a gente sincera, inculta e bárbara sabe realizar a obra que o génio anuncia? Que intimidade existirá entre Jesus e os rudes pescadores da Galileia? Entre S. Paulo e os escravos de Roma? Entre Danton e os famintos do bairro de Santo António? Entre os párias e Buda? Entre Tolstoi e os selvagens moujiks? A enxada será irmã da pena? A fome de pão parecer-se-á com a fome de luz?."..


QUEM FOI TEIXEIRA DE PASCOAES.

Teixeira de Pascoaes, pseudónimo literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, (Amarante, 2 de Novembro de 1877, 17h00 – 14 de Dezembro de 1952), foi um escritor português, principalmente poeta e um dos mais notáveis representantes do saudosismo. Em 1901 licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra, mas apenas exerceu durante cerca de dez anos.
Com António Sérgio e Raul Proença foi um dos líderes do chamado movimento da “Renascença Portuguesa” e lançou em 1910 no Porto, juntamente com Leonardo Coimbra e Jaime Cortesão, a revista “A Águia”, principal órgão do movimento. Grande parte da sua vida foi passada no solar da sua família na Serra do Marão, onde cultivava a terra e escreveu muita da sua poesia contemplando a paisagem.
O MEU COMENTÁRIO

O texto de Pascoaes está muito bem escrito e tem o meu aval. Não creio que se possa chamar de Vencido da Vida a Pascoaes, mas ele foi sem dúvida um homem que se autodesligou. Foi para a serra semear batatas e foi lá que escreveu grande parte da sua poesia. È de homem que sabe o que quer.

Eu concordo que a mentira prolifera e faz lei. A mentira é que domina. Uma mentira tanta vez repetida faz-se verdade Como diz Manuel da Fonseca no conto o Largo; à falta de melhor lá ia uma mentira, saída do Largo, que se aguentava e às tantas era verdade. Tinha a força o Largo.

O problema principal é que ninguém põe termo a isto e, enquanto criança dizemos a elas que digam sempre a verdade. Mas quando homens, parece que têm vaidade em fazer ao contrário e mentir. Mente-se em todos os patamares da vida portuguesa.

João Brito Sousa

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