domingo, 17 de fevereiro de 2008

DA IMPRENSA

(manada)
CERTIFICADO DE INCOMPETÊNCIA
(Estado de S. Paulo)
Reveladas as circunstâncias em que foram elaboradas as listas de fazendas que o Ministério da Agricultura considerou aptas a exportar carne para a União Européia (UE), entende-se agora que a reação das autoridades agrícolas européias não poderia ser outra senão a rejeição pura e simples dessas listas.

Os europeus querem a garantia de que a carne exportada pelo Brasil procede de áreas livres da ocorrência de febre aftosa - o que deve ser comprovado pelo sistema de rastreamento do gado nacional - e, por isso, exigiram que só um número limitado de fazendas fosse considerado, pelo governo brasileiro, apto para abastecer seu mercado. Mas o Ministério da Agricultura não resistiu às pressões de políticos e pecuaristas e elaborou listas bem maiores, que foram recusadas.

A questão das exportações de carne para a Europa vem se agravando desde novembro, quando inspectores europeus estiveram no País para averiguar as condições sanitárias das fazendas e o funcionamento do sistema de rastreamento. Até agora, o governo não conseguiu dar respostas convincentes aos europeus, que querem certificar-se de que o produto que estão comprando obedece às regras de sanidade fixadas de comum acordo com as autoridades brasileiras.

O único certificado que os europeus aceitaram até agora é o da incompetência do governo brasileiro.No fim de janeiro, o governo brasileiro enviou uma lista com 2.681 fazendas. Os europeus nem a examinaram, pois o número era muito maior do que o acertado com as autoridades brasileiras, e decidiram suspender a importação de carne in natura procedente do Brasil.

Tinham razão.

Fontes do governo brasileiro admitiram que a lista não era baseada apenas em critérios técnicos ou sanitários. Fazendeiros, secretários estaduais de Agricultura e políticos pressionaram o Ministério para que elaborasse uma lista maior do que a admitida pela UE - e o Ministério assim fez.

A suspensão da compra de carne brasileira pela UE está em vigor desde o dia 1º de fevereiro. Para quebrar o embargo, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Inácio Kroetz, armou-se de documentos para apresentar às autoridades européias. Os documentos, segundo ele, comprovam a “consistência” das ações do governo, dos pecuaristas e dos frigoríficos brasileiros para assegurar ao produto exportado para a UE as condições exigidas pelos compradores.

No entanto, nem bem seu auxiliar embarcara para Bruxelas, para reuniões com as autoridades européias, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, admitiu publicamente a incapacidade do País em fiscalizar adequadamente a produção de carne bovina. Durante audiência na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, Stephanes disse que alguns frigoríficos exportaram para a UE carne de animais não rastreados.Como se não bastasse essa confissão de incompetência, para irritar ainda mais os europeus, a nova lista de fazendas apresentada pelo Ministério da Agricultura também era maior do que a acertada. Tinha 523 propriedades, bem mais do que o limite de 300 que a UE considera aceitável. Pior ainda, constavam da lista fazendas que não estavam nas listas anteriores e em muitas que constavam de outras listas o número de animais era diferente.


Funcionários do Ministério das Relações Exteriores que acompanham as negociações se dizem inconformados com o “papelão” que o Brasil está fazendo diante das autoridades européias.


Como em outras áreas, também no caso das exportações de carne para a UE o governo Lula age como se o grande interessado em resolver o problema fossem os outros, os europeus, não o Brasil.

Para o governo, tudo parece se passar como se a Europa fosse fortemente dependente do fornecimento brasileiro. É um erro grave.

Em resumo, depois de tanta demonstração de incompetência dos representantes brasileiros, a UE poderia simplesmente encerrar as discussões e comprar de outro fornecedor. O governo brasileiro ainda não se deu conta de que esse é um risco real.

MEU COMENTÁRIO

Não tem. O texto fala por si.

João Brito Sousa

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