terça-feira, 13 de maio de 2008

A MINHA CIDADE


A MINHA CIDADE

FARO é a minha cidade.

Ali fiz os meus primeiros exames académicos, ali fiz os estudos secundários e obtive ali o diploma de professor do ensino primário, que foi a minha primeira profissão. Nunca trabalhei na cidade; apenas nela me preparei para a vida. Passei uma década a passeá-la enquanto andei com os livros.

No meu tempo, as hortas chegavam até à periferia da cidade e os respectivos habitantes entendiam-se nas visitas recíprocas que faziam uns aos outros. A vida era pacífica e a cidade servia de base ao escoamento dos produtos do campesinato, tipo hortaliças, batatas, alguns galináceos e outros. Esses produtos, que eram vendidos no mercado da cidade, obrigavam `a deslocação dos produtores até ela e promovia-os aí, colocando frente a frente duas classes sociais que estavam empenhadas em entender-se, quer pela via negocial, quer pela via social.

Foi sempre assim desde que me conheço.

Estamos no Largo de S. Sebastião e vamos visitara cidade.

O Largo desempenhou grande função social nas aldeias, vilas e cidades, pois era ali que, noutros tempos, se juntava gente aos magotes para comemorar qualquer acontecimento que valesse o apoio do Largo.

O Largo era o centro das localidades e era através do Largo que o povo comunicava com o mundo, como diz Manuel da Fonseca em “o Fogo e as Cinzas”. À falta de notícias, era aí que se inventava alguma coisa que se parecesse com a verdade. Nada a destruía; tinha vindo do Largo.

Estas crónicas constituem um elo de ligação à cidade que continuo a adorar, porque Faro é a minha cidade, a cidade que muito contribuiu para o estatuto de homem que hoje possuo.

Falar de Faro, para mim, constitui uma aproximação às origens, e na minha escrita por impulsos, apraz-me recordar locais e nomes de pessoas e contar algumas peripécias de outros tempos, que tenham acontecido comigo ou que tenha sido testemunha aí para essas bandas de S. Sebastião.

Quem entra em Faro e vem do Posto da Polícia de Viação e Trânsito em direcção ao refúgio Aboim Ascensão, à esquina da primeira rua à esquerda, que antigamente ia dar à estrada da Senhora da Saúde, ficava aí um estabelecimento comercial de comes e bebes e mercearia, salvo erro, cuja exploração pertencia a um polícia, cujo filho, é o Zézinho “Polícia”, que me parece estar a residir em Coimbra e costumava andar aí com a gente. Continuando em direcção ao Refúgio, primeira à direita é o Largo de S. Sebastião, zona de residência da minha colega de Magistério, a Professora Marciana.

Gente “célebre” daí do meu tempo eram os irmãos Primitivo, o Jorge e o Teófilo, o Joaquim Padeiro (um rapaz adorável) o Jorge Tavares e o Ludovico, todos lá da Escola Comercial. O Teófilo e o Ludovico eram excelentes jogadores de futebol, sendo o Ludovico até um super dotado na matéria.

O Joaquim Padeiro evidenciou-se no andebol escolar, pois era detentor de um remate alto lá com o charuto. Saindo de S. Sebastião em direcção a S. Pedro, fica à direita o Posto da GNR, onde nós, os da Escola Comercial íamos aos sábados aprender a manejar armas não sei para quê; era o serviço de Milícias. Era aí que o Quinta Nova, um rapaz lá da Escola Comercial que tinha queda para militar, dava as suas instruções técnicas.

Mas não matámos ninguém. Segue-se depois à direita ainda, a cadeia antiga, onde esteve preso o Rui Rebola lá do Patacão, por ter sido apanhado pela polícia a conduzir um tractor agrícola sem carta de condução. Ainda me lembro de ir ver o Rui, aos sábados, mas não consegui entrar na cadeia, vi-o cá de fora. Ao lado da cadeia há ali uma capela onde ficam uns cadáveres à espera do enterro. Foi de lá que saíram os funerais do Xico Zambujal, grande figura de professor e de artista de Faro e de pessoal ali do Patacão, entre os quais o meu padrasto.

Texto de
JOÃO BRITO SOUSA

4 comentários:

  1. Não o conhece mas tenho muito gosto em recordar algumas passagens que com muito conhecimento consegue transmitir.
    O Zézinho "Policia" vivia em Coimbra penso que ainda vive, e o Quinta Nova seguiu a via militar e já faleceu.
    Farense

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  2. Não o conhece mas tenho muito gosto em recordar algumas passagens que com muito conhecimento consegue transmitir.
    O Zézinho "Policia" vivia em Coimbra penso que ainda vive, e o Quinta Nova seguiu a via militar e já faleceu.
    Farense

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  3. Tenho duvidas se o Carlos Alberto Diogo se è aquele moço do meu tempo que é engenheiro ali das Pontes de Marchil.Será?
    O Frankelim que foi professor primário e mais tarde na Tomás Cabreira faleceu à duas semanas.
    O Gabriel o ferreiro da Falfosa se é o mesmo que esteve na Austrália já lhe transmiti o abraço, pelo menos deu-me a ideia que o conhecia.
    Não falando no amigo Rabeca que visita o Blog.
    Farense

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  4. MUITO OBRIGADO PELA VISITA.


    O Carlos Diogo é esse mesmo que disse. O Gabrel é esse da Ausrália. O Franklin eu sabia que tinha morrido.

    Vou escrever mais sobre Faro hoje.
    Um abraço do

    João Brito Sousa

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