sexta-feira, 16 de maio de 2008

A MINHA CIDADE (IV)


FARO, A MINHA CIDADE


Eu o engº Carlos Alberto Diogo, acompanhávamos mais com o Valêncio, o irmão. Uma história boa para contar era a história dos alfaiates de Faro. O melhor e também o mais caro era o Pintassilgo, cuja loja se situava perto do Largo e ainda o Barros que ficava lá em cima na rua da circunvalação, que vai do Refúgio ate ao mercado.

Mas voltando ao Largo é imperioso não esquecer que é ali a sede do SCFarense, orgulho dos Farenses, cujas histórias mais antigas me eram contadas pelo João Coelho, que tinha sido jogador do clube e na época tinha um táxi e que me dizia que a vida dele tinha sido como a do Marlon Bando no filme “Há Lodo no Cais”. Há ali também o Grémio da Lavoura onde os camponeses iam vender o milho e outros cereais resultante da exploração agrícola. O Distrito de Reserva também lá está com o amigo Rocha à cabeça.

No largo juntava-se o pessoal do campo com a malta da cidade em perfeita harmonia. De Mar e Guerra vinha o comerciante António Cadeiras, das Pontes de Marchil vinha o Toíca Guerreirão negociante de gado que todos os dias de manhã ia comprar uma maço de cigarros Português Suave à venda do Viriato nas Pontes de Marchil com uma nota de mil escudos (uma fortuna naquele tempo), do Montenegro vinha o Mateus Marinhas, da Chaveca vinha o Joaquim Caco, homem de cento e vinte quilos de peso e o mais forte aí dos arredores da cidade. Uma vez, o Caco e o Mateus Bolas, aí da Jardina, pegaram um toiro de cernelha na feira da Malveira e saíram em ombros.

O objectivo do encontro desta velhada era almoçar no Restaurante dos “Dois Irmãos”, que ficava situado no Largo.

Nesse tempo, anos cinquenta, almoçava-se no restaurante “Os Dois Irmãos” no Largo da Palmeira, por cinco escudos. Tinha muita clientela e os irmãos Silva, os proprietários ou os que o exploravam, tinham jeito para o negócio, sorriam para quem chegava tornando o ambiente acolhedor. O restaurante ainda lá está e toda a gente da cidade o conhece. Serviam um prato que deveria dar pouco lucro, porque dá muito trabalho a confeccionar que era os carapaus alimados, coisa que nunca mais vi servir em lado nenhum. Os carapaus eram cozidos, depois tiravam-se-lhes as serrilhas e eram servidos assim com duas ou três batatas cozidas , azeite e limão. Era só à sexta feira e a malta do campo ia lá por causa disso. Os “montanheiros” juntavam-se nos cubículos particulares e falavam de mulheres bonitas (eles dizem boas), discutiam preços e faziam negócios dos artigos vendáveis que possuíam. É interessante referir o modo como eram valorizados os produtos. Por exemplo, se estava em discussão o valor de uma cabeça de gado, a conversa era mais ou menos assim... então diga lá você quanto vale o bezerro... e logo o outro, vale trinta notas (a referencia era a nota que valia cem escudos), e o bezerro valeria três mil escudos. E assim por diante. O restaurante “os Dois Irmãos” desempenhou um papel social importante na cidade, reunia gente de todas as camadas sociais, havia grande movimento, parecia o centro de Manhatan em Nova York

Saindo dos “Dois Irmãos e virando `a esquerda, estamos no restaurante a “Nortenha” que era um restaurante chique nos anos cinquenta, bom serviço e ligeiramente mais caro. Quer um quer outro restaurante que aqui falo deveriam ser recordados nestas crónicas por alguém que soubesse disto mais do que eu, talvez o Professor Franklim Marques, talvez o único homem bom do mundo, porque é costeleta como eu, porque foi professor primário como eu e sobretudo porque tem muito mais jeito do que eu para contar estas histórias. Aqui fica um convite ao mestre.


Texto de

João Brito Sousa

Sem comentários:

Enviar um comentário