O ARCAÍSMO DO MAIO DE 68
João Carlos ESPADA.
jcespada@netcabo.pt
Muito bem visto joao
Prefiro a sociedade aberta, cujas origens não estão em Paris, há 40 anos, mas em Atenas e Jerusalém, há 2500. Chamam-lhe Ocidente, ou Mundo Livre... e continua a mover-se
Se o Maio de 68 foi uma revolução, isso já faz dele um arcaísmo. As sociedades abertas dispensam revoluções, sobretudo redentoras. Mas, pelo menos, terá sido uma revolução descentralizada: uma revolução que aconteceu e que não foi centralmente dirigida. Isso permitiu-lhe conter muitos traços contraditórios, alguns interessantes, outros desinteressantes, a generalidade simplesmente arcaicos.
Entre os arcaísmos do Maio de 68, encontram-se o utopismo e o colectivismo, ambos de cariz profundamente autoritário. A ideia de mudar uma sociedade de alto a baixo para a fazer conformar a um plano ideal, a chamada utopia, ignora que as sociedades livres não podem ser desenhadas. Ignora os limites do nosso conhecimento e a sabedoria, como diria Burke, do conhecimento descentralizado, que se vai adaptando a novas situações através do ensaio e do erro.
Por outras palavras, como observou Karl Popper, a utopia é um arcaísmo típico das sociedades e mentalidades fechadas. Em regra, gera a ilusão revolucionária e, o que é pior, a violência.
O mesmo é obviamente o caso do colectivismo. Imagine-se que impúnhamos à ciência a lógica da propriedade e da decisão colectivas: a inovação e a experimentação seriam imediatamente travadas por infindáveis plenários colectivos de ‘camaradas’. Foi isso mesmo que aconteceu às economias colectivistas. Ao abraçar ideais colectivistas ‘de base’, o Maio de 68 mais uma vez revelou uma ignorância confrangedora sobre a mão invisível do crescimento económico - que é a mesma que faz crescer o nosso conhecimento, ou seja, os direitos da pessoa em ambiente de liberdade sob a lei.
Dir-se-á que, pelo menos em matéria de costumes, o Maio de 68 foi sem dúvida a favor da liberdade. Isso merece uma análise mais detalhada, que este espaço não permite. Liberdade não é conformidade com uma concepção particular de comportamento certo, ainda que este seja designado por libertário. É ausência de coerção por terceiros. Muitas das instituições que sofreram o ataque de Maio de 68 - como a família, a religião judaico-cristã ou as boas maneiras - não foram impostas por ninguém. São ‘lares’ espontâneos de milhões de pessoas que simplesmente as preferem. Como diria o outro, «what’s wrong about that?».
Dir-se-á, finalmente, que o Maio de 68 era preferível ao arcaísmo de Salazar e Caetano. Isso foi seguramente o que o tornou atractivo para mim e boa parte da minha geração. Mas, agora que já somos mais crescidos, por que teríamos de escolher entre dois arcaísmos? Eu prefiro a sociedade aberta, cujas origens não estão em Paris, há 40 anos, mas em Atenas e Jerusalém, há 2500. Chamam-lhe Ocidente, ou Mundo Livre... e continua a mover-se.
Publicação de
João Carlos ESPADA.
jcespada@netcabo.pt
Muito bem visto joao
Prefiro a sociedade aberta, cujas origens não estão em Paris, há 40 anos, mas em Atenas e Jerusalém, há 2500. Chamam-lhe Ocidente, ou Mundo Livre... e continua a mover-se
Se o Maio de 68 foi uma revolução, isso já faz dele um arcaísmo. As sociedades abertas dispensam revoluções, sobretudo redentoras. Mas, pelo menos, terá sido uma revolução descentralizada: uma revolução que aconteceu e que não foi centralmente dirigida. Isso permitiu-lhe conter muitos traços contraditórios, alguns interessantes, outros desinteressantes, a generalidade simplesmente arcaicos.
Entre os arcaísmos do Maio de 68, encontram-se o utopismo e o colectivismo, ambos de cariz profundamente autoritário. A ideia de mudar uma sociedade de alto a baixo para a fazer conformar a um plano ideal, a chamada utopia, ignora que as sociedades livres não podem ser desenhadas. Ignora os limites do nosso conhecimento e a sabedoria, como diria Burke, do conhecimento descentralizado, que se vai adaptando a novas situações através do ensaio e do erro.
Por outras palavras, como observou Karl Popper, a utopia é um arcaísmo típico das sociedades e mentalidades fechadas. Em regra, gera a ilusão revolucionária e, o que é pior, a violência.
O mesmo é obviamente o caso do colectivismo. Imagine-se que impúnhamos à ciência a lógica da propriedade e da decisão colectivas: a inovação e a experimentação seriam imediatamente travadas por infindáveis plenários colectivos de ‘camaradas’. Foi isso mesmo que aconteceu às economias colectivistas. Ao abraçar ideais colectivistas ‘de base’, o Maio de 68 mais uma vez revelou uma ignorância confrangedora sobre a mão invisível do crescimento económico - que é a mesma que faz crescer o nosso conhecimento, ou seja, os direitos da pessoa em ambiente de liberdade sob a lei.
Dir-se-á que, pelo menos em matéria de costumes, o Maio de 68 foi sem dúvida a favor da liberdade. Isso merece uma análise mais detalhada, que este espaço não permite. Liberdade não é conformidade com uma concepção particular de comportamento certo, ainda que este seja designado por libertário. É ausência de coerção por terceiros. Muitas das instituições que sofreram o ataque de Maio de 68 - como a família, a religião judaico-cristã ou as boas maneiras - não foram impostas por ninguém. São ‘lares’ espontâneos de milhões de pessoas que simplesmente as preferem. Como diria o outro, «what’s wrong about that?».
Dir-se-á, finalmente, que o Maio de 68 era preferível ao arcaísmo de Salazar e Caetano. Isso foi seguramente o que o tornou atractivo para mim e boa parte da minha geração. Mas, agora que já somos mais crescidos, por que teríamos de escolher entre dois arcaísmos? Eu prefiro a sociedade aberta, cujas origens não estão em Paris, há 40 anos, mas em Atenas e Jerusalém, há 2500. Chamam-lhe Ocidente, ou Mundo Livre... e continua a mover-se.
Publicação de
João Brito Sousa
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