FICÇÃO E REALIDADE
por Zé Carlos vasconcelos
Quando Luís Filipe Menezes assumiu a liderança do PSD e Santana Lopes a do seu grupo parlamentar, escrevi aqui (VISÃO de 18/10/07) que «na política portuguesa a realidade ultrapassa a ficção como se isso fosse a coisa mais natural do mundo». Há duas semanas, a propósito daquela mesma liderança e de Alberto João Jardim, falava de «grau zero da política, ou ainda menos».
Estava longe de pensar que, nesse mesmo dia, Menezes se demitiria. Porventura para, ao contrário do que disse, numa variante de «ópera bufa», se recandidatar na sequência de uma vaga de fundo das famosas «bases». Só que não houve vaga, nem de fundo nem de superfície. E agora?Santana Lopes, Jardim e Menezes constituem uma rara espécie de triângulo das Bermudas do PSD.
E são, cada um a seu modo, figuras de proa de um sector do partido pontuado por personalidades menos proeminentes, mas nem por isso menos pitorescas, como Ribau Esteves, Mendes Bota, Jaime Ramos e outras. Sendo demasiado optimista dizer que representam um «espaço político» dentro do partido, aproxima-os uma série de afinidades e interesses, bem como um populismo vulgar. Pensava-se, assim, que tivessem uma posição comum nas próximas eleições. Afinal, para já não, porque quer Jardim quer Santana entenderam dever ser o principal protagonista e o segundo avançou primeiro...
Mas o que pode levar o ex-líder e primeiro-ministro, «indigitado» por Durão Barroso, a pensar que pode ganhar o partido e o Governo, depois de ter feito o que fez e ser estrondosamente derrotado por José Sócrates? Para mim é um mistério. De facto, Santana é o adversário ideal para o PS e para Sócrates – mais «ideal» talvez só Jardim... Se não o reconhece, quer dizer que se tem em excessiva conta e não tem nada em conta o discernimento, até a memória, dos portugueses.
E só me ocorre repetir que, uma vez mais, a realidade parece ultrapassar a ficção...
Olhando para os candidatos à liderança no terreno, obviamente avulta, pelo currículo, pela credibilidade, seriedade e força políticas, Manuela Ferreira Leite. Por muito que dela se discorde, por mais que os adversários prefiram não seja ela, de longe a mais bem colocada para o efeito, a líder e candidata do PSD à governação, creio que quem queira combater o desprestígio dos partidos, da política e até das instituições não pode desejar outra coisa.
Olhando para os candidatos à liderança no terreno, obviamente avulta, pelo currículo, pela credibilidade, seriedade e força políticas, Manuela Ferreira Leite. Por muito que dela se discorde, por mais que os adversários prefiram não seja ela, de longe a mais bem colocada para o efeito, a líder e candidata do PSD à governação, creio que quem queira combater o desprestígio dos partidos, da política e até das instituições não pode desejar outra coisa.
Cunha(s) Vaz & outros, de que jaez? O estado a que se chegou em domínios como a política e os interesses, os partidos e os negócios, os media e a ética ou a ausência dela; as promiscuidades inaceitáveis; a falta de dimensão e qualidade humana de certos «protagonistas» – tudo isto transparece com clareza de uma entrevista do Público a António Cunha Vaz, dono de uma agência de comunicação. Surpreendeu-me a enorme manchete de 1.ª página, com um título discreto e alguns destaques não reflectindo o mais palpitante do interior, o que para quem sabe de jornalismo deixa uma dúvida... Afinal, concluí depois de ler, talvez não fosse muito excessiva tal manchete: o entrevistado é pouco conhecido, mas a «matéria» dá-nos um retrato quase arrepiante, e quase de corpo inteiro, de um certo país, da degradação de uma sociedade em que tudo mais ou menos se compra, se vende ou, pelo menos, se «influencia» através dos que fazem disso profissão e para o efeito são muito bem pagos! E que são cada vez mais decisivos, inclusive a nível de partidos, políticos, entidades privadas e públicas, órgãos de soberania.
Cunha Vaz confessa que trabalha com políticos porque isso o diverte: «Ficamos a conhecê-los melhor. É como ir ao circo.» E também porque (razão para aceitar ser o consultor e promotor de Menezes) «apesar de ter uma boa carteira de clientes, interessava-me poder aceder a outros clientes, mais próximos do Estado». Terminando por dizer: «Só vou para a política, se for para mandar.» Uma entrevista para ser analisada em detalhe, que vale por muitos documentos e deve ter consequências.
RECOLHA DE
JoãoBrito Sousa
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