quinta-feira, 15 de maio de 2008

FARO A MINHA CIDADE (III)


A MINHA CIDADE


A rua Filipe Alistão era uma rua de muito comércio, apesar de não ficar sediada na zona central da cidade. Depois do estabelecimento do Gago, vinham as loja das Viúva Carminho e era também aí que o pessoal do campo ia comprar os tecidos para as fatiotas. As pessoas sentiam-se à vontade, havia sempre um pouco de conversa e havia boa disposição e sobretudo carinho com os fregueses. As Carminho tinham muito jeito para o negócio e eram muito conhecidas. De seguida vinha um talho, o colégio dos rapazes, o Arnaldo fotógrafo e o Nugas, estabelecimento de barbearia e vendedor de jogo. Em frente ao Colégio no outro lado da rua ficava aí uma casa de reparação de bicicletas, que era pertença do senhor Lamy que era o marido da D. Helena, a minha professora Primária em Mar e Guerra..

As pessoas que por ali passavam, encontravam por vezes o Regedor da freguesia, um tipo de nome Mestre e pediam-lhe coisas O Regedor Mestre que tinha uma certa relevância na cidade emigrou mais tarde para os Estados Unidos da América, ficando o filho no seu posto, mas não sei onde está agora. Já agora dizer que a figura do Regedor foi criada em Portugal em 1835 e era a antiga autoridade administrativa de uma freguesia. Antes dos regedores, tinham existido os comissários de paróquia, nomeados em 1834. Após o 25 de Abril de 1974, com a aprovação da nova constituição da república, o cargo de regedor viria a dar lugar á Junta de Freguesia. Ainda que a Junta de freguesia seja um órgão colegial, constituído por um presidente, um secretário, um tesoureiro e vogais, a figura do Regedor acabaria por ser transferida para o presidente da Junta de Freguesia, sendo, por consequência o seu equivalente no novo regime constitucional.

Instalado a 4 de Outubro de 1835, muitos foram as pessoas que, em cada uma das suas freguesias constituintes exerceram o cargo de regedor.

Quem fosse ao consultório médico do Dr. Vicente de Brito, na rua Filipe Alistão à esquerda quando se desce e, à saída da porta virasse à esquerda, daí a pouco estaria no Largo da Palmeira.


O pessoal do campo nesses anos cinquenta, ia muito ao consultório do Dr. Brito (chamavam-lhe assim), que era uma pessoa que tinha boas ligações a eles, pois creio que os seus familiares eram de Santa Bárbara de Nexe. O Dr. Brito era um bom médico que sabia falar com aquele pessoal, indo, quando fosse preciso a casa de cada, dar uma consulta. E conversava com aqueles compadres todos, mais ou menos nestes termos: então o que é que “vomeceias” estão semeando agora?... já mataram o porco?... fizeram o presunto?... e coisas assim. Era um bom conversador.


Fui lá uma vez com a minha mãe quando a minha avó esteve muito doente.

O Largo da Palmeira tinha a sua arrogância, passava ali a gente ilustre da cidade todo os dias, como o Dr. Júlio Carrapato, advogado distinto, o pintor e escultor Sidónio, o Prof. Xico Zambujal o Prof. Fortes e o Prof. Daniel Faria que andavam sempre juntos e cujo poiso era no café a Brasileira, o Prof. Ferradeira na sua cadeira de rodas, o Prof. Santos que dava explicações de Inglês que depois do almoço tomava café no Aliança, o Prof. Gil, grande figura da cidade a explicar matemática aos alunos do Liceu, o Rialito, espanhol e camisa dez, grande jogador de futebol do Farense, o Zé Nanotas, igualmente grande jogador futebol e camisa sete, o Teca a vender jogo e à procura do Sampas, o filho do coronel e tantas e tantas figuras relevantes da cidade. Se para ir ao médico a minha mãe ia ao Dr. Brito, para comprar vassouras, pás, enxadas, alviões, martelos, tesouras de poda e coisas assim ela ia à Casa Telles. A Casa Telles era uma casa de ferragens que ficava á esquina da Rua Filipe Alistão já no Largo da Palmeira em frente à barbearia do Nugas Tinha de tudo na sua arte e era uma referência na cidade Continuando à esquerda, surge uma rua que vai dar a S. Pedro.


Texto de

João brito SOUSA

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