A NÓDOA
Miguel Carvalho
Miguel Carvalho
Se Alberto João Jardim decidir candidatar-se à liderança do PSD, já temos um responsável. Chama-se Cavaco Silva.
Caso não tenham reparado, foi o Presidente da República quem, na prática, lhe deu ideias. Há semanas, quando se deslocou à Madeira, o chefe de Estado não quis comentar qualquer episódio da crise no edifício social-democrata que já então ardia a fogo solto. Mas, durante dias, dispensou mimos e doçuras ao velho Alberto, retirando-o da insignificância nacional em que se encontrava e dando-lhe alento para adiar a reforma.
Aos que desconfiavam das virtudes e da saúde da democracia madeirense, Cavaco recusou uma sessão solene na Assembleia Legislativa Regional, reservando para a oposição parlamentar a dignidade de uma recepção tipo «vão de escada». Por entre inaugurações e romarias à Madeira postal, Cavaco terminou a visita com elogios à obra realizada em 30 anos de autonomia regional, considerando Jardim «uma referência incontornável e impulsionador decisivo da nova face da Madeira». Na despedida, não faltou a cereja no bolo: «O senhor não precisa de elogios, a sua obra fala por si».
Nas últimas semanas, de resto, Cavaco bem podia ter ficado em casa. Não só reciclou Jardim para a vida nacional, como ainda se lembrou de fazer um sermão de 25 de Abril a propósito do desinteresse dos jovens pela política. Ao homem nunca lhe ocorrerá que a década em que ele governou, sozinho e absoluto quase todo o tempo, talvez tenha algo a ver com isso. Mas se Jardim se candidatar no PSD, Cavaco ainda pode fazer-nos um último favor: afastar-se da política a tempo de ainda guardarmos respeito pelo cargo que exerce.
Ora, Jardim, que aprende depressa, desenrascou logo um novo tabu: até 15 de Maio decidirá se vai a votos entre o povo «laranja». Mas já leva vantagem: dos candidatos assumidos ninguém, excepto ele, poderá reclamar a bênção do «senhor Silva». É justo, convenhamos.
Publicação de
João Brito SOUSA
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