sexta-feira, 9 de maio de 2008

À DO ZÉ RAIMUNDO


À DO ZÉ RAIMUNDO

Ontem, quinta feira, passei pelo Zé Raimundo às sete. A malta já lá estava e o primeiro que vi foi o MIGUEL BARULHO. O Miguel tem um fraquinho por mim e diz-me quando me vê, Amigo João diga-me lá/ O que é que hoje vamos discutir/ homem rico não temos cá/Já há muito que o vi sair. E fala-me ... cantando, na sua voz à Marceneiro.

E depois de cantar esta letra de fado, que ele arranjou ali à pressa, desata a rir. Levanta a mão, levanta o polegar e pisca-me o olho, como quem diz, amigo João, somos os maiores. E diz ainda, amigo João, pagas alguma coisa hoje?... E com a sua voz de fadista autêntico, sai outro fado, assim: Amigo João ouve bem/ O que eu tenho para te dizer/ Vamos mas é beber/ Antes que venha mais alguém

E lá vamos beber a cachaça da manhã. Ó Meguel, atão e o Leonel, quando vem ele? pergunto eu.

Esse Leonel é imprescindível no estabelecimento do Zé Raimundo. Deverá ter aí uns setenta e sete anos de idade e é pai do Zé Luís, meu colega da primária e que reside em Elisabeth, USA. A especialidade dele é aplicar umas ripadas no lombo do Meguel com o cajado. Já devia ter contado isso aqui, mas aquilo tem que ver, é científico.

O Leonel deverá estar a chegar diz o Meguel. E como não quer gastar o seu dinheiro dá o cavanço.

Fico eu e o Zé E recordo-lhe aquele jogo de futebol que fizemos dentro duma vinha, contra uns tipos de FARO e o Zé jogou a defesa esquerdo e fez um jogo do catano. E digo-lhe, Zé , secaste o gajo..

Estou eu e o Zé na venda. O Zé Raimundo pára o serviço, põe os antebraços em cima do balcão, sorri na minha direcção como uma criança, aperta-me mão e diz-me: amigos para sempre ó companheiro João. Tu e o Cabo Santos também fizeram um grande jogo nesse dia. Eu, tu e o Cabo fomos os maiores. E ainda hoje somos ....

Que é feito do CABO, ó camarada Zé?

Anda a apanhar melancias... é campeão.

E o irmão dele o Ricardo?

Esse passa aí às terças feiras, vai para Olhão. Diz que vai à praça.

Chega o carpinteiro da Falfosa. Bom dia diz ele. Bom dia companheiro, dizemos eu e o Zé.

Qual é o assunto para hoje?, pergunta o carpinteiro.

E eu digo, hoje vamos discutir os valores da democracia.

Valores?... diz o Leonel que chegou com o cajado... eu dou cinquenta contos.

E eu digo, vou fazer a caminhada e já venho...

Texto de
João Brito Sousa

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