quinta-feira, 28 de junho de 2007

AS FESTAS POPULARES

“CONJUNTO LUZ E VIDA.”
Com o Gilberto na bateria, aquilo era outra coisa. Qual conjunto dos Beatles, qual nada... O Gilberto sozinho fazia mais barulho que cem beatles juntos.
Na década de cinquenta e seguintes (não sei se hoje ainda fazem isso...) as Sociedades Recreativas dos sítios aí dos arredores de Faro, nomeadamente o Montenegro, as Pontes de Marchil e Patacão (a minha terra), faziam as festas de Verão, para arrecadar algum “capital” e receber os emigrantes que vinham à santa terrinha. As festas eram normalmente de dois dias, domingo e segunda-feira e, do programa constavam várias actividades culturais e desportivas e à noite era o baile. No Patacão, o baile, era normalmente abrilhantado, como constava do programa, pelo conjunto Luz e Vida.
Este conjunto musical era formado pelo Batão, o filho do padeiro da Senhora da Saúde, que tocava um acordeão de escala de piano, no sax ou clarinete e voz era o Marinho e na bateria o Gilberto, que também leiloava as prendas (uma garrafa de vinho ou uma prenda pequena de comida) e os ramos, um tabuleiro grande de comida que dava para dez pessoas, mais ou menos.
No leilão, o Gilberto era um espectáculo:- arrancava com um preço baixo que ia subindo à medida que a malta ia licitando e, quando aquilo estava no ponto, o Gilberto dizia, por exemplo, duzentos escudos uma, duzentos escudos duas, duzentos escudos duas e meia, duzentos escudos duas e três quartos, uma cozinha e uma casa de fora, duzentos escudos três e estava vendida a prenda.
A dinâmica do Gilberto com aquela da cozinha e da casa de fora, era o máximo. Já agora, referir que, casa de fora é uma palavra que a malta aí do campo usa, para designar aquilo que na cidade se chama sala de jantar e é uma palavra que nunca vi escrita na literatura portuguesa, nem mesmo nas obras de Mestre Aquilino Ribeiro, que é tão terra a terra. Nesse tempo tocava-se e cantava-se “Os teus olhos castanhos” do Francisco José, a “Figueira da Foz” da Maria Clara, as canções da Maria de Fátima Bravo e outras e isso ficava a cargo do Marinho. Era até às tantas...
Durante a tarde, nas festas do Patacão, havia actividades culturais populares, como a partida de panelas, a corrida de sacos, o concurso do pau encebado, provas de ciclismo que a malta gostava muito, tendo corrido no Patacão o Besourinho de Loulé, o Hermínio Correia (ganhou uma vez ) e o Inácio Ramos do Patacão, o Valério Clara, o Carrega e o Ervilha de Estói, o Jorge Corvo do Ginásio de Tavira que ganhou também uma vez, os irmãos Cotovio. Havia ainda o jogo de futebol com o Nexense de Santa Bárbara de Nexe, o grande rival.
A festa mais popular das três era a do Montenegro, mas a que eu mais gostava de ir, era à festa das Pontes de Marchil, que dispunha de uma boa organização a cargo do senhor Mateus Marinhas e do Engº Carlos Alberto Caetano Diogo e do electricista Joaquim Baptista (o filho da ti Baptista que vendia os bolos lá na festa e no baile), com fogo de artifício às duas e tal da manhã.
Como nas festa do Fagotes do Trindade Coelho, dos Meus Amores, uma vez apareceu lá também uma grande obra de pirotecnia, que era um burro a dar coices.
Festas populares, as grandes festas do povo.
João Brito Sousa

Sem comentários:

Enviar um comentário